Importando o Modelo Americando de Investimentos Pessoais

Publicado 16.08.2016, 13:55

Historicamente a sociedade brasileira prioriza o consumo e tem poucos hábitos de investimento. Esta cultura possibilitou aos bancos explorarem modelos de negócio que se concentram em serviços de conta corrente, cartões de crédito, empréstimos e financiamentos. Produtos de investimento se limitaram a:

1. Caderneta de poupança
2. CDB
3. Previdência privada com altas taxas de administração

Sendo que a caderneta de poupança também é utilizada como meio de captação para financiamento da casa própria e os títulos de CDB também tem como finalidade a captação para empréstimos. Portanto mesmo quando os clientes fazem aplicações, os bancos na outra ponta alocam este capital em novos empréstimos/financiamentos.

Um estudo da FGV mostra que a taxa de administração média cobrada pelos bancos em fundos de renda fixa básicos é de 1% ao ano, enquanto a taxa cobrada por gestoras independentes para o mesmo produto é de 0,4%. O estudo também aponta que centenas de fundos de bancos cobram taxas de 3% ao ano. Exemplos:

1. Mais de 27.000 investidores compraram cotas de um fundo DI de um grande banco com uma taxa de administração de 3,9% sobre o capital investido
2. Mais de 40.000 investidores participam de um fundo DI de um outro grande banco com taxa de administração de 5,5%
3. 70% dos poupadores fazem aplicações na caderneta de poupança, mesmo com rentabilidade abaixo da inflação

A insatisfação com os bancos tem impulsionado uma onda de empreendedorismo para construir um serviço melhor por um custo menor. Este fenômeno se torna visível quando notamos uma grande quantidade de profissionais de educação financeira com blogs e canais no YouTube que falam desde como controlar as despesas até como fazer negociações complexas em bolsas de valores.

De acordo com a penúltima edição da Revista Exame, um contexto muito similar ao que estamos vivenciando no Brasil pode ser visto nos Estados Unidos da década de 80. A corretora Charles Schwab foi fundada na década de 70 e, na década seguinte, começou a oferecer assessoria financeira aos clientes. A partir daí se transformou em um supermercado financeiro, distribuindo diversos produtos financeiros de diferentes bancos. Este modelo de negócio prosperou ao ponto de hoje a Charles Schwab ter 2 trilhões de dólares sob custódia.

Um dado relevante é o fato de atualmente os bancos nos EUA detém 1% do mercado de investimentos, na Índia 30% e, no Brasil, a participação dos bancos é de 95% (30 milhões de brasileiros investem por meio dos grandes bancos).

Aqui também existem empresas construindo modelos de negócio sustentados na insatisfação de muitos clientes com os bancos. A proposta de valor destas empresas é o acesso a investimentos com rentabilidades maiores que aquelas oferecidas pelos bancos e custos de administração menores. Exemplos concretos: a XP Investimentos tem sob custódia R$40 bilhões de reais e planos para atingir R$100 bilhões em 2017. A corretora Rico, de acordo com a mesma edição da revista Exame, faturou R$ 66 milhões em 2015 contra R$701 milhões da XP. Mas a Rico, no primeiro semestre de 2016, teve crescimento do lucro de 100% e o número de clientes aumenta 10% a cada mês.

Fora dos bancos é possível encontrar alternativas como títulos de CDB de bancos médios com rentabilidade de até 20% ao ano. No programa Tesouro Direto é possível comprar títulos com rentabilidade de 6% acima do IPCA. Neste produto, independentemente do nível de inflação que possamos ter, o investidor que aplicar R$100.000,00 poderá resgatar o equivalente a R$160.000,00 em 2024. Neste mesmo período o investidor que aplicar R$300.000,00 terá o equivalente a R$450.000,00.

Naturalmente estamos em um momento delicado para falar sobre investimentos. Estamos vivendo possivelmente a pior recessão da história brasileira. O indicador mensal de atividade compilado pelo Banco Central, uma espécie de termômetro do produto interno bruto, aponta recessão acumulada em 12 meses chegou a -5,5% em maio. Por trás deste resultado existem números negativos como 30% de queda nas vendas de veículos e um índice de desemprego de 11%.

Mas existem sinais de reanimação da economia brasileira:
1. Maiores resultados de setores da indústria que geram boa parcela da receita com exportações, a exemplo dos calçados.
2. Crescimento da expedição de papel ondulado, utilizado nas embalagens dos produtos,
3. Aumento do consumo de energia elétrica no mercado livre, com o qual se abastecem as grandes empresas
4. A importação aumentou 10% nos últimos dois meses em relação à média mensal observada até maio. Mesmo levando em conta que a valorização do real funciona como estímulo para comprar mais de fora, podemos 5. Considerar que é um sinal de reação das atividades locais
5. Há um começo de mudança para os índices de confiança do consumidor e do empresário

A bolsa subiu aproximadamente 45% desde o começo do ano! O ideal é ser menos conservador e investir entre 10% e 20% do patrimônio em renda variável. À medida que se ganha experiencia é possível aumentar esta alocação. Na Internet existem consultorias e profissionais compartilhando estratégias de seleção de ativos e métodos de gerenciamento de risco! É interessante reservar uma parte do tempo para aprender sobre renda variável e atingir objetivos financeiros por meio do mercado de capitais.

Ao mesmo tempo vamos nos manter atentos aos fatores:

1. Desaceleração da inflação ao ponto de permitir a redução de juros e também do custo fiscal (redução de impostos para empresários e redução de despesas do Governo)
2. Aumento das exportações suficiente para equilibrar as contas externas nível de desemprego elevado que traz como consequência alta ociosidade de equipamentos e pessoas qualificadas

Tem aumentado o número de empresas que se propõe a prestar suporte aos investidores, vamos observar a proliferação desta onda de negócio e o impacto que ele trará à sociedade. Fazendo uma busca na Internet foi possível encontrar:

1. corretoras com taxa de administração zero para aplicações em Tesouro Direto
2. No YouTube mais de 30 pessoas oferecendo vídeos educacionais e até mesmo de recomendações de compra de ações e derivativos
3. No Facebook mais de 40 páginas e grupos com foco em educação financeira, investimentos e trading
4. Mais de 50 empresas que oferecem serviços de treinamento, plataforma de dados e recomendações

Pelo visto estamos vivendo o mesmo que a sociedade americana da década de 70! Uma oportunidade para se ter uma postura ativa sobre finanças pessoais, mas claro que com muita atenção as propostas que estão sendo feitas.

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