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Ibovespa x Ifix: O Que Está Acontecendo?

Publicado 08.12.2020, 12:09
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Rali do IBOV

Você tem acompanhado o rali do Ibovespa desde o início de novembro?

Apesar do susto que a Bolsa levou ontem com a notícia de que o relatório da PEC Emergencial previa medidas de flexibilização do teto de gastos, ruído já desmentido em Brasília, o Ibovespa praticamente não para de subir desde novembro.

Já são incríveis 21 por cento de valorização desde o início daquele mês.

A quase 114 mil pontos, o IBOV está a pouco menos de 5 por cento de atingir a sua máxima histórica, como se nada demais tivesse acontecido nesse ínterim. Já parou para pensar nisso?

Se o ano não fosse 2020, seria difícil acreditar nesse movimento...

Gráfico mostra evolução do Ibovespa nos últimos 12 meses.

Evolução do Ibovespa nos últimos 12 meses. Fonte: Bloomberg.

Mas ele é uma realidade e, apesar de ser o principal destaque, o Ibovespa não está desacompanhado neste recente rali.

De novembro para cá, o Real se valorizou frente ao Dólar como há muito tempo não víamos, e o juro longo também voltou a cair. Ou seja, o kit veio completo.

Quem ficou para trás mesmo foi o IFIX, principal índice do mercado de FIIs, ao andar praticamente de lado nesse meio tempo, o que tem chamado a atenção dos investidores.

Gráfico mostra a evolução do IFIX nos últimos 12 meses.

Evolução do IFIX nos últimos 12 meses. Fonte: Bloomberg.

Afinal, via de regra, o IFIX e o IBOV seguem uma dinâmica muito parecida...

É verdade que cada um dos índices caminha à sua maneira ao longo do tempo. O IBOV, por exemplo, costuma ir, voltar e até dar cambalhotas enquanto caminha.

Já o IFIX costuma ser um pouco mais comportado – ou ao menos costumava ser antes da possibilidade de ficarmos short em FIIs...

De qualquer forma, o destino de suas caminhadas costuma ser o mesmo, exceto pelo momento atual.

Gráfico mostra IFIX (laranja) e Ibovespa (Branco).

IFIX (laranja) e Ibovespa (Branco). Fonte: Bloomberg.

O que poderia justificar o recente descolamento entre os dois?

Perguntas como esta são sempre difíceis de se responder, afinal, o mercado é o mercado e nem sempre há uma racionalidade por trás de seus movimentos.

Feita essa ressalva, tenho alguns pitacos para dar a respeito do assunto.

Contra fluxo não há argumentos

O primeiro e mais importante fator para o atual descolamento entre os dois índices tem a ver com a recente retomada do fluxo de capital estrangeiro.

O fim do conturbado processo eleitoral nos EUA e a proximidade do início das distribuições de vacinas contra a Covid-19 em diversos países pelo mundo reduziram significativamente as incertezas dos mercados globais nas últimas semanas.

O cenário global mais claro tem levado os investidores estrangeiros a retirarem o dinheiro da segurança (leia-se: mercados desenvolvidos) em busca de maiores retornos em mercados mais arriscados, como é o caso dos emergentes.

Em vista disso, em novembro, vimos o ingresso líquido de 33,3 bilhões de reais de capital estrangeiro na B3 (SA:B3SA3), maior entrada de recursos em um único mês desde janeiro de 1996.

Gráfico mostra fluxo estrangeiro na Bolsa desde janeiro.

Fluxo estrangeiro na Bolsa desde janeiro. Fonte: B3, Bloomberg e Fênix Team.

Acontece que esse fluxo chegou ao país para ser alocado em ações, causando a forte valorização do IBOV no último mês.

O mercado de fundos imobiliários, por outro lado, conta com uma participação ínfima de não residentes – entre 3 e 4 por cento das posições em custódia –, logo, ele não surfou esse movimento.

Mas então isso significa que os gringos não gostam dos nossos FIIs? Não! O dinheiro não costuma ter preconceitos.

O problema do mercado de FIIs é que seu tamanho ainda não é suficiente para acomodar imensos fluxos de dinheiro, o que limita a entrada de capital estrangeiro e institucional local.

A boa notícia é que a liquidez no mercado de FIIs vem crescendo exponencialmente nos últimos anos.

Isso somado à sua modernização a partir da criação de novos instrumentos que ajudam a aumentar a sua eficiência, como ETFs de índices e possibilidade de ficar short em cotas de fundos, vêm contribuindo para que daqui a alguns anos esse mercado tenha maior participação desses investidores.

Gráfico mostra volume médio (ADTV) em R$ milhões e número de negócios em milhares, de 2016 a 2020.

Fonte: B3.

Emissões além da conta

Um fator importante que pode estar ancorando a evolução do IFIX no momento é também a grande quantidade de emissões pela qual o mercado de FIIs está passando.

Além dos efeitos do juro baixo – que por si só já costumam aquecer o mercado e aumentar a quantidade de novas ofertas – finais de ano são tradicionalmente períodos em que há um maior volume de emissões.

Ao absorver grande parte do dinheiro do mercado, as ofertas acabam reduzindo a pressão de alta sobre os preços das cotas dos fundos negociadas na Bolsa, o que acaba por ser refletido no desempenho do seu principal índice.

Composição

Por fim, mas não menos importante, a composição entre o IBOV e o IFIX também é um fator importante a ser levado em conta para entendermos a atual dinâmica dos dois índices.

O IBOV conta com uma grande exposição a empresas que foram beneficiadas pelo fluxo de capital estrangeiro, como o caso da Vale (SA:VALE3), Petrobras (SA:PETR4) e os grandes bancos, o que contribuiu para a sua boa performance no último mês.

Já o IFIX, por outro lado, conta com um peso importante de segmentos que ainda estão para trás na recuperação da crise, como o caso dos escritórios e shopping centers, o que acaba contribuindo para o seu desempenho mais tímido.

Distribuição setorial do IFIX. Fonte: B3 e BB (SA:BBAS3) Gestão de Recursos.

Conclusão

O IBOV está à frente neste momento, mas isso significa que o IFIX ficará para trás daqui em diante? Eu penso que não!

Se o Brasil fizer a sua lição de casa, poderemos surfar a onda global de juros baixos ainda durante um bom tempo, o que beneficiaria diretamente os fundos imobiliários.

Um abraço e até a próxima.

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