Nas últimas semanas o Ibovespa vem em uma tendência de alta impressionante, continuamente superando o humor “bearish”, que consiste no desânimo dos investidores com o mercado e ocasiona sequências de seções em queda. Diante da superação dos 69.000 pontos do índice o próximo passo seria a casa dos 73.000, beirando a máxima histórica alcançada em maio de 2008 nos últimos dias que antecederam o crash das bolsas mundiais com o estouro da “Bolha do Subprime”. A questão que os investidores estão se fazendo é até aonde vai o bom humor do mercado, os comprados querem saber até quando conseguem surfar nessa onda e aqueles que ficaram de fora do movimento com certeza mal podem esperar para colocar seu dinheiro em um mercado que demonstra um otimismo que não aparecia há alguns anos no país.
De fato, a economia brasileira finalmente vem mostrando indicadores interessantes para seu futuro crescimento, o dólar cedeu dos níveis de 2015, a inflação caiu consideravelmente chegando a um patamar onde o IGP-M acumulado nos últimos 12 meses mede uma variação negativa de 1,67% e o IPCA no mesmo período acumulado chega a 2,71%. A queda de preços seria muito boa para aumentar o consumo, mas com uma massa de 13,5 milhões de desempregados o mercado precisou de um pequeno empurrão do governo para iniciar um retorno ás compras, com a liberação dos saques do FGTS e a taxa SELIC seguindo com sua rápida queda, que vem ocorrendo nos últimos meses diante de uma economia que vem se esquentando aos poucos, mas que continua no que podemos chamar de fria. O desemprego começa a gerar expectativas com o aumento de vagas informais, movimento que costuma anteceder o aumento de vagas formais no mercado, este que já ocorre mais discretamente.
O mercado de consumo é essencial para o governo conseguir restaurar sua imagem perante a um eleitorado rebelde e atordoado com os últimos acontecimentos políticos e também aumentar sua arrecadação.
Realmente o cenário parece promissor para a recuperação econômica brasileira, porém, mais uma vez, o mercado deixa se levar em meio ao seu turbilhão de expectativas. Uma boa parte do movimento que vemos hoje na bolsa de valores é devido a agenda de reformas do governo de Michel Temer, pelas quais os investidores anseiam desde os tempos em que essas começaram a ter sua importância divulgada, ainda na época do governo Dilma. Um dos principais problemas reside exatamente nessas reformas. Após a aprovação da reforma trabalhista o mercado virou os olhos para as outras duas principais: Reformas da Previdência e Tributária, ambas muito prometidas por um governo que a cada dia vê seu capital político se esvaindo desde maio, com as delações da JBS (SA:JBSS3 (SA:JBSS3)). Estamos nos aproximando rapidamente das eleições presidenciais de 2018 e enquanto o presidente Temer já não deve esperar alguma possibilidade de reeleição, seus aliados restantes já não pensam a mesma coisa e, sem dúvidas o melhor jeito de conseguir votos não é votando a favor de reformas que, mesmo sendo bem vistas pelo mercado, ainda são extremamente impopulares para a população média.
Trabalhando em um cenário onde as grandes reformas forem atrasadas para após as eleições, assim como Ronaldo Caiado (DEM-GO) afirmou neste sábado (26), temos um outro grande problema. A incerteza. Ninguém sabe o que será do país em novembro de 2018. Os possíveis futuros presidentes do país vão desde o polêmico ex-presidente Lula que segue em sua luta para não ser preso, Geraldo Alckmin candidato de um PSDB rachado, Temer tentando uma impressionante e improvável virada visto que o PMDB não aparenta ter outra opção ou até mesmo candidatos menores e populistas que vêm ganhando destaque entre a população nas redes sociais como Jair Bolsonaro, que mesmo com muita luta dificilmente vai conseguir sequer se lançar como candidato, e até mesmo o atual prefeito de São Paulo, João Dória que é um exemplo emblemático da situação política que o país passa, onde um prefeito com 10 meses de mandato já é sondado para uma possível campanha presidencial. O que temos em comum quanto ao posicionamento desses 4 candidatos? Aí que está, basicamente nada. Não conseguimos fazer projeções para a política pós-2018 de maneira minimamente precisas e com uma agenda baseada nas decisões do executivo o mercado flerta com a decepção.
O investimento a 71.000 pontos do Ibovespa parece não se justificar diante de um verdadeiro barril de pólvora, que é a metáfora a ser usada para definir o cenário político brasileiro, que começa a agir como um peso para uma economia que a cada dia mostra sinais de fortalecimento. A última vez que o principal índice da bolsa brasileira alcançou esse patamar foi antes da Crise de 2008, uma crise pontual que foi trazida por estrangeiros e que no fim não gerou impactos imediatos tão grandes e logo após o “crash” conseguiu retomar um patamar semelhante antes de começar a sua tendência de queda que perdurou até o início de 2016. Dessa vez retornamos a esse patamar no meio de um processo de reestruturação econômica, com um presidente sob constante ameaça do Procurador-Geral da República, assim como todo resto da classe política basicamente, e prestes a entrar em um dos processos eleitorais mais difíceis das últimas décadas. É preciso de uma dose muito alta de otimismo para confiar que nesse tempo não haverá uma única faísca para esse barril estourar e levar junto alguns milhares de pontos do índice e alguns bilhões de reais do mercado.