Existe um participante do mercado financeiro, se é que posso chamá-lo assim, que é um dos que mais me deparo ou que ouço comentários de seguidores e amigos sobre as suas “análises e avaliações”. São os “profetas do apocalipse do mercado financeiro”.
Pode parecer brincadeira, mas essas “figuras” conseguem colocar bastante medo nos investidores e em alguns momentos, até conseguem bastantes seguidores. Na verdade, isso nada mais é que uma estratégia de marketing, muito conhecida, que visa captar sua atenção pelos possíveis “lucros” expressivos ou pelo medo!
Deixando as estratégias de marketing digital de lado, vamos partir agora para uma linguagem mais técnica e analítica sobre a situação da nossa principal bolsa de valores, a B3 – e é claro – vamos falar do Ibovespa e sua pontuação que está batendo máximas históricas.
Analisando o histórico do Ibovespa
Se tratando do mercado de renda variável, mais especificamente do mercado de ações, o nosso “índice da bolsa” contempla as principais ações mais negociadas no pregão.
Em determinada época do ano ou da década, esse índice sofre oscilações positivas e negativas. O Ibovespa, por exemplo, é impactado por movimentos de alta nos pontos, sendo pegos em seguida por movimentações de correção.
Se observarmos o Ibovespa de 1990 até os anos 2000, vamos notar um grande crescimento nos seus pontos. Dos anos 2000 até 2008, também houve outro grande crescimento para nossa bolsa de valores e para o nosso índice.
Porém, a partir de 2008, afetado pela crise da bolha “subprime” nos Estados Unidos, seguido por uma crise doméstica no Brasil, ligada diretamente a nossa economia e a uma crise política, o Ibovespa entrou em um túnel de negociação “perverso” onde não se superava os 70.000 pontos, por um período de quase 10 anos.
Apenas algumas poucas empresas, como foi o caso das ações de Magazine Luiza (SA:MGLU3), conseguiram seguir em uma tendência de alta, diferente do Ibovespa.
Crises econômicas no mercado internacional ou no mercado doméstico parecem bem tristes e estressantes, pois empregos são perdidos, empresas são fechadas e as pessoas sofrem com isso. Mas, o fato é que na visão de alguns economistas e até mesmo alguns “mega” investidores, as crises são boas, pois elas acontecem justamente para eliminar os desequilíbrios do mercado, trazendo os preços para um nível equilibrado e justo.
E em alguns momentos, as correções/crises, podem gerar grandes oportunidades de compra de alguns “papéis” de grandes empresas por uma “pechincha”. Enfim, nesse sentido, tenho certeza que as visões e as opiniões variam bastante.
De qualquer forma, de 2008 até meados de 2018, podemos afirmar que não houve evolução em nossa bolsa e no Ibovespa. Os 73.516 pontos de fechamento nominal em 2008, só foram ser superados novamente 10 anos depois. Porém, o fato mais interessante e que é o tema principal deste artigo, são justamente os comentários e murmurinhos com relação ao Ibovespa e sua pontuação, que começaram a surgir depois do rompimento dessa marca histórica e simbólica.
O que muitos dizem sobre o Ibovespa
A partir do momento que os 74.000 pontos foram rompidos para cima, se tornou muito normal ouvirmos de várias e várias pessoas, com pouco ou até muito de tempo de experiência com investimentos – a seguinte frase:
“Olha só, o índice está muito esticado agora, a bolsa está subindo, mas o Brasil não melhorou.”
“A produção industrial e os resultados do varejo não justificam um Ibovespa a 80.000 pontos.”
“O mercado subiu muito agora tem que corrigir, 100.000 pontos é surreal para a nossa bolsa brasileira!”
Esses são apenas alguns dos comentários recentes.
Pode até ser que alguns dos comentários acima estejam corretos ou que venham a se tornar verdade no futuro. Mas até quando ou quanto mais o índice precisa subir para que esses comentários se tornem verdade? Será necessária uma crise mundial apocalíptica para o Ibovespa corrigir como algumas pessoas têm mencionado? Nesse caso, a culpa não seria nossa pelo índice ter subido tanto e depois corrigido, nem das correções de curto prazo que são bem comuns.
O que eles esquecem…
Alguns investidores se esquecem que o nosso índice é composto por um pouco mais de 60 das principais empresas mais negociadas na B3 e que algumas empresas que fizeram parte do Ibovespa no passado, hoje não fazem mais.
Temos empresas que compõem o Ibovespa hoje, que no futuro infelizmente não vão mais fazer parte e vão dar a oportunidade para outra empresa que esteja com destaque em suas negociações na B3. É dessa forma que o mercado funciona e é assim que os principais índices mundiais se mantém em alta por décadas, mesmo após grandes depressões, como foi a grande crise de 1929.
Alguns investidores também se esquecem de outro fato ou dado relevante: algumas pessoas enxergam os atuais 118.000 pontos, de forma nominal.
Desse jeito, se torna muito simples criar uma opinião sobre a pontuação do Ibovespa! Precisamos fazer as comparações adequadas para saber se o nível de crescimento da nossa principal bolsa de valores, está de acordo com o crescimento mundial.
Se verificarmos o gráfico do Ibovespa dolarizado por exemplo, podemos notar que o índice ainda não superou a pontuação de 2008 e 2011, ou seja, temos ainda um caminho longo para percorrer e fazer o índice superar os topos históricos daqueles anos, até superarmos os topos de 2008 e 2011 e recuperarmos o tempo perdido na recessão que teve seu auge nos anos de 2013, 2014 e 2015. O gráfico abaixo pode ilustrar isso para nós.
Conclusão
Não tente adivinhar qual a situação atual do mercado, das empresas, da bolsa de valores ou qual será sua movimentação nos próximos dias, nem muito menos dar um “chute”. Não é porque os pontos do índice subiram muito que agora “tende” a cair. Se tratando do mercado financeiro e mais especificamente de investimentos no mercado de capitais, toda e qualquer movimentação em sua carteira precisa estar fundamentada.
Faça as devidas análises ou procure a ajuda de profissionais especializados que acompanham e entendam do mercado financeiro, para lhe fornecer orientação adequada.
E mesmo em momentos onde o Ibovespa possui realmente uma expectativa de queda, lembre-se que em momentos de crise no Brasil, ações de empresas do varejo e do setor bancário, romperam topos e mais topos, superando recordes atrás de recordes de alta nos preços de suas ações.
Além do fato de que quando os preços das ações estiverem caindo vertiginosamente, você tem a oportunidade de colocar em teste as suas habilidades de trabalhar vendido “descoberto em ações” utilizando o BTC (aluguel de ações) ou realizar a montagem de operações especulativas com opções (derivativos do mercado de ações) que se beneficiam com uma queda nos preços das ações.
Não existe motivo para deixar o seu dinheiro parado ou de baixo do colchão com medo da próxima crise mundial. Crises sempre vão existir e se repetir infinitas vezes. O seu patrimônio, estando em dinheiro, em espécie, está sempre “tomando” prejuízo por causa da inflação, então nunca se esqueça da seguinte lição: Se a expectativa é de alta para ações, invista em ações. Se no futuro esse mercado não estiver tão interessante assim, realize investimentos em outros setores ou simplesmente fique “short”, “bearish”, vendido nesse mercado.
O que importa, é que o seu patrimônio não fique em dinheiro, em espécie, pois assim você investidor, estará sempre “tomando” prejuízo pela inflação ou pela desvalorização cambial, como aconteceu nos últimos anos.