A International Business Machines (NYSE:IBM) lançou recentemente o serviço de transferência de pagamentos Blockchain World Wire. O mais surpreendente dessa solução talvez não seja seu fornecedor ou o fato de se basear na tecnologia blockchain, mas a plataforma de código aberto na qual foi concebida: Stellar Lumens, a nona criptomoeda mais popular por capitalização de mercado.
Jesse Lund, diretor da divisão de blockchain da IBM, elogia a rede de pagamentos e liquidação, ao dizer que ela consolida a liderança da gigante da tecnologia no âmbito da tecnologia blockchain. Lund caracteriza o desenvolvimento do World Wire – que já é utilizado por seis bancos internacionais, entre eles: RCBC, das Filipinas, Bank Busan, da Coreia do Sul, e Banco Bradesco (SA:BBDC4), do Brasil – da seguinte forma:
“Estamos construindo uma nova ideia, que é a capacidade de armazenar valor monetário eletronicamente e poder movimentá-lo ao redor do mundo em tempo real... Acredito que o problema dos pagamentos internacionais atualmente é a forma como os bancos se comunicam. A rede através da qual os bancos se comunicam é separada da rede ou dos trilhos pelos quais o dinheiro se movimenta.”
Muitos poderiam dizer que já é possível armazenar valor monetário eletronicamente e movimentá-lo em tempo real. Os bancos já são virtuais, embora os fundos armazenados não sejam totalmente digitais, ou seja, pode ser que a IBM não estivesse fazendo nada revolucionário nessa área, a menos que você leve em consideração o uso da Stellar pela Big Blue.
Até agora, a indústria bancária costumava usar a moeda rival XRP, conhecida anteriormente como Ripple. Isso porque, de acordo com seus desenvolvedores, “a tecnologia permite realizar transações financeiras internacionais de qualquer tamanho, de forma segura, instantânea e praticamente gratuita, sem estornos”. Mas, de acordo com Viabhav Kadikar, CEO da CloseCross, uma plataforma descentralizada de previsão do mercado, a Stellar é a cadeia preferencial para micropagamentos, além de ser extremamente barata:
“A IBM tomou uma decisão operacional ao escolhê-los [Stellar] como uma rede de desenvolvimento. Uma diferença considerável em relação à atual oferta virtual dos bancos é que o fluxo de fundos processados através do World Wire não exigirá a realização de reconciliações entre países. Esse processo normalmente envolve diversos bancos, inclusive federais, e a proposta do World Wire é melhorar de maneira geral a eficiência e a transparência.”
Segundo a IBM, a solução pretende ser uma nova espinha dorsal dos bancos, graças ao uso de blockchain, explica Alex Frenkel, vice-presidente de produção da Kin Ecosystem. Frenkel ressalta que a tecnologia blockchain é mais lenta e difícil de manter do que os bancos de dados convencionais, mas sua maior virtude é o intercâmbio direto de valor entre as pessoas ao redor do mundo.
“Não tenho certeza se essa é a forma mais eficiente de melhorar a espinha dorsal bancária”, complementa. “A verdadeira revolução com o blockchain e as criptos é acabar com a necessidade de usar bancos para enviar valores ao redor do mundo. Nessa visão, os bancos terão um papel completamente diferente no mundo financeiro e não vão lidar mais com o controle e a validação de intercâmbios de valores entre as pessoas".
Tirando os bancos da sua zona de conforto
Muitos bancos, no entanto, ainda estão operando dentro da sua zona de conforto, aponta Kadikar.
“Mas a realização de uma parceria com uma gigante da tecnologia como a IBM trará mais confiança para que testem novas tecnologias.”
“Grandes bancos e corporações precisam estar em sua zona de conforto quanto tentam testar ou utilizar novas tecnologias. Eles precisam de um parceiro sólido, grande e confiável com base em experiências prévias, bem como de uma solução aceitável por parte dos seus órgãos reguladores.”
Nesse sentido, o lançamento do World Wire pela IBM é algo positivo para todo o cenário do blockchain, principalmente para a indústria de pagamentos onde as funções de back-end podem desenvolver soluções em grande escala dentro de um ambiente de blockchain, sem qualquer atrito na experiência dos usuários.
Também é possível defender a tese de que haverá uma queda nos tempos e nas taxas das transações graças a esse recente lançamento. Gadi Srebnik, líder da equipe de blockchain da Kin Blockchain, que é um fork da Stellar Blockchain, acredita que os benefícios para o consumidor final serão grandes. “Os clientes serão beneficiados com a redução do trabalho e dos custos por parte dos bancos", afirma.
Mais importante do que as eficiências em termos de fluxo de trabalho e liquidação é a criação de um padrão de tecnologia pela IBM, que todos os bancos precisarão seguir de agora em diante, afirma Jehan Chu, cofundador da Social Alpha Foundation e sócio executivo da Kenetic.
“Com o acirramento da concorrência entre os bancos, a liquidação internacional praticamente instantânea em suas redes tem tudo para se tornar a nova norma. A IBM está mostrando onde está o futuro das finanças, e ele está no blockchain. Os bancos estão mudando da era eletrônica para a era digital, e o blockchain é o seu tecido conjuntivo.”