O mercado hoje deve ter muita volatilidade pelo menos até as 13h, quando o Banco Central divulga a Ptax.
Ontem, o IGP-M de setembro apontou deflação, caindo 0,64%, após alta de 0,66% no mês anterior. Com este resultado, o índice acumula alta de 16% no ano e de 24,86% em 12 meses. Em setembro de 2020, o índice havia subido 4,34% e acumulava alta de 17,94% em 12 meses. A queda do minério de ferro explica em boa parte essa primeira deflação desde fevereiro de 2020.
O Banco Central informou o saldo positivo das contas do setor público no mês passado, que acumularam um superávit primário de R$ 1,237 bilhão no ano até agosto, o equivalente a 0,02% do Produto Interno Bruto (PIB), O resultado fiscal positivo no ano até agosto ocorreu apesar do déficit de R$ 83,089 bilhões do Governo Central (1,47% do PIB). Os governos regionais apresentaram um superávit de R$ 81,688 bilhões (1,45% do PIB) no período.
A recuperação do mercado de trabalho avançou no país em agosto, com a criação de 372.265 empregos formais.
Todas essas boas noticias não foram suficientes para animar o mercado, que está duplamente atingido pelos desafios domésticos e pela escalada de dólar e juros no exterior, com a liquidação dos tresuries acentuando a ameaça da inflação e do baixo crescimento em todo o mundo. O dólar vai tomando impulso com a contagem regressiva para o tapering e especulações, inclusive, sobre o aumento de juros em 2022 por parte do Fed.
O leilão de ontem novamente não deu em nada e não conteve a alta do dólar, que já tinha aberto o dia acima de R$ 5,40 e se manteve acima disso. Foi ofertada a mesma quantidade de contratos (14 mil), o equivalente a US$ 700 milhões. Nem as apostas de que a Selic pode atingir dois dígitos no ciclo de alta dão conta de segurar o dólar.
A virada do cenário externo pegou o Brasil num mau momento com inflação alta, juros subindo, PIB fraco e riscos fiscais. A extensão do auxilio emergencial e as incertezas relativas ao desfecho dos precatórios e do projeto de IR no Senado geram um desconforto no mercado e elevam o risco país. A agência Fitch cobrou ontem uma melhora para 2022 alertando que as propostas políticas que colocam em risco o teto de gastos podem causar deterioração nas condições financeiras. Referência clara ao Bolsa Família.
Na Europa o índice de sentimento econômico subiu de 117,6 pontos em agosto a 117,8 pontos em setembro, contrariando a previsão de queda dos analistas. O ING destaca em relatório que a recuperação regional "segue nos trilhos, por enquanto". As perspectivas econômicas para a zona do euro ainda estão repletas de incertezas, decorrentes de gargalos de oferta, alta nos preços da energia e novas ondas da pandemia, disse a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde
Nos EUA, o fortalecimento do dólar afeta o câmbio dos emergentes em geral, mas o real tem tido o pior desempenho, o que nos deixa em condição desfavorável para brigar pelo fluxo. O presidente do Fed apelou para que o Congresso evite um default e reforçou a urgência de elevar o teto da dívida para evitar uma recessão. Paira a ameaça de o governo federal atingir o teto da dívida por volta de 18 de outubro, um evento que poderia causar um calote histórico com consequências econômicas duradouras e implicações para os mercados financeiros. A tensão entre a inflação alta e o desemprego ainda elevado é a questão mais urgente que o Fed enfrenta no momento. Os dois principais objetivos do banco central norte-americano estão em possível conflito. Pois é mercado, não está fácil para ninguém, mas por aqui a coisa está bem nebulosa...
Não vamos esquecer da variante delta, que adicionou preocupação ao mercado com os dados de confiança do consumidor nos EUA recuando inesperadamente.
Com tantas preocupações, não tem como o dólar não ficar fortalecido, afinal é ativo de proteção. Além disso, preciso citar aqui o risco de uma crise energética global, com os preços das commodities de energia avançando com força. Os bancos centrais inclusive alertaram para as restrições de oferta que atrapalham o crescimento econômico global que podem ainda piorar, mantendo a inflação elevada por mais tempo, mesmo que o corrente aumento dos preços ainda deva seguir temporário.
Ontem, o dólar à vista terminou com variação positiva de 0,06%, a R$ 5,43. A cotação variou de R$ 5,4471 (+0,37%) a R$ 5,3919 (-0,65%). Lá fora, o índice do dólar contra uma cesta de moedas de países desenvolvidos acelerou a alta no fim da tarde para 0,7%, maior acréscimo desde meados de junho de 2021, e para patamares não vistos desde setembro do ano passado.