Como sempre acontece em dia de decisão do Federal Reserve, o mercado financeiro amanheceu nesta quarta-feira em compasso de espera pelo anúncio sobre a taxa de juros (16h) e a entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell (16h30). A expectativa é de que a política monetária siga como está, com o Fed alimentado esperanças por novos estímulos fiscais, agora que Janet Yellen assumiu o Tesouro dos Estados Unidos.
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A aposta é de que a tabelinha entre Powell e Yellen vai funcionar, com o Banco Central dos EUA e a Casa Branca imprimindo dinheiro e mantendo o apetite por risco entre os investidores. Essa injeção de liquidez anestesia as preocupações em relação à pandemia, que segue registrando marcas sombrias, tendo alcançado o total de 100 milhões de casos no mundo. Mas a vacinação em massa da população ainda é a principal aposta para dar ritmo à recuperação econômica global.
Ao mesmo tempo em que aguardam os eventos envolvendo o Fed, à tarde, os investidores também monitoram a temporada de balanços, que ganhou destaque ontem, com os resultados da Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34), e deve ser agitada no fim do dia, quando as gigantes Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34) e Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) publicam seus demonstrativos contábeis. À espera desses anúncios, os índices futuros das bolsas de Nova York têm leves baixas, contaminando o pregão europeu, após uma sessão mista na Ásia, enquanto os rendimentos dos títulos dos EUA estão estáveis, o dólar sobe e o petróleo também.
Até agora, os EUA são a única grande economia do mundo a sinalizar que irá se endividar ainda mais, elevando a dívida para além de 100% do PIB, de modo a combater os impactos econômicos da disseminação do coronavírus. Na Europa, os governos da zona do euro e do Reino Unido ainda se mostram relutantes, enquanto em países emergentes, como o Brasil, o assunto é tabu por causa da desconfiança dos investidores pelo calote da dívida, com a adoção de medidas populistas sendo sinônimo de descontrole fiscal.
Palavras ao vento
Por isso, palavras não sensibilizam mais. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, até tentaram levar o mercado financeiro “no gogó” ontem, reafirmando o compromisso do governo com o “teto dos gastos” e com as privatizações. Não convenceram. O Ibovespa devolveu toda a alta de 1,5% e retrocedeu aos 116 mil pontos, cravando a quinta queda seguida, na maior sequência de perdas em um ano.
Já o dólar teve um dia de forte alívio, encostando-se à faixa de R$ 5,30, após o tom duro (“hawkish”) do Banco Central, que avisou que deve agir em breve. Ainda não há um consenso se a primeira alta na Selic será já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em março, ou no encontro seguinte, em maio. Também há dúvidas em relação ao tamanho do aperto, se residual (0,25 pp) ou maior (0,50 pp).
Seja como for, o comportamento dos negócios locais ontem deixou claro que a confiança dos investidores está em risco, em meio à crise sanitária, aos ruídos políticos e aos desafios econômicos. Por isso, é hora de estabilizar a moeda, aumentar a taxa básica de juros e reduzir a volatilidade dos ativos. Portanto, sobrou para o BC fazer alguma coisa - e já - até que Brasília decida o que fazer.
Mas até a sucessão no Congresso, o cenário está em aberto. E a depender de quem assumir as presidências na Câmara e no Senado, o próximo passo pode ser retomar a discussão da agenda de reformas ou iniciar o debate sobre um eventual impeachment de Bolsonaro. Uma nova rodada do auxílio emergencial também deve entrar na pauta, mas existem várias possibilidades para garantir os recursos do benefício estendido.
Em meio a tantas incertezas, os investidores não dão mais o benefício da dúvida ao governo e se apoiam na sugestão do Copom, de promover uma alta da Selic antes do esperado, para ao menos se preparar para enfrentar o ambiente doméstico desafiador. O Brasil está em uma ‘sinuca de bico’. Há saídas. Nenhuma delas é fácil e todas incorrem em decisões impopulares. O difícil é tomar tal decisão quando já se está de olho em 2022.
Dia de dados, além do Fed
Além dos eventos envolvendo o Fed, a agenda traz também indicadores econômicos, no Brasil e no exterior. Nos EUA, saem os pedidos de bens duráveis em dezembro (10h30) e os estoques semanais norte-americanos de petróleo bruto e derivados no país (12h30).
Por aqui, será conhecida mais uma sondagem da FGV, desta vez, referente à confiança no setor do comércio em janeiro (8h). Além disso, o BC publica a nota do setor externo em dezembro (9h30) e os dados semanais do fluxo cambial (14h30), enquanto o Tesouro divulga o relatório da dívida pública no mês passado (10h).