Há um fortíssimo anseio que o país retome a dinâmica da atividade econômica e isto faz com se repercuta dados positivos do varejo e da indústria de forma intensa, minimizando o fato de serem gerados sobre uma base extremamente deprimida pela crise que assola o país e o mundo nos quase 4 meses e que precisam de mais tempo para que se verifique se não decorrem de pontual reposição de estoques ou se representam tendência efetiva.
Então, surge um dado apontando queda de 0,90% no volume de serviços prestados em maio e o fato se constitui na grande surpresa negativa, já que era esperado um crescimento marginal em relação a abril e ser um dado assertivo de que o pior da crise havia ficado no passado.
O dado confrontou negativamente frente às projeções estabelecidas de forte recuperação, e não revelou qualquer recuperação em maio e apontou queda relevante na avaliação anual em torno de 19,5%. Inquestionavelmente, impacta nas perspectivas de melhora acentuada no PIB no qual tem peso em torno de 70% e é grande gerador de empregos.
Este é um dado com magnitude para se colocar em dúvida o entendimento de retomada da atividade econômica a partir dos dados do varejo e da indústria.
Em realidade o país ainda convive com incertezas e dúvidas acerca da superação do pico de queda e tem “menosprezado” os eventuais desacertos que a crise da pandemia do coronavírus possa ainda provocar, até porque não é um problema bem equacionado no país, visto que os números de contaminações e mortalidade ainda são evolutivos.
O Banco Central do Brasil já destacou por seus dirigentes que não há no radar de suas projeções impactos considerando uma segunda rodada da crise pela pandemia, e o governo central já apontou inúmeras vezes a perspectiva de exaustão de recursos para dar suporte aos programas assistenciais para a população carente.
O déficit fiscal é um desafio crescente para o governo e contribui em muito para a perda de atratividade do país frente aos investidores estrangeiros, que serão fundamentais aos programas de desestatização e infraestrutura que o governo tenciona impulsionar.
Então, em nossa percepção “vamos indo, mas não sem certa incredulidade”, havendo consistente perspectiva de que, afora os discursos retóricos, não tenhamos privatizações e nem propostas de reformas fundamentais ainda este ano. Muito se fala dos temas, mas sem efetiva convicção.
Efetivamente não é razoável imaginar-se que o país retomará suas atividades com o mesmo perfil estrutural, quando superada a crise.
O legado da crise da pandemia ainda não é passível de percepção com acuidade, mas muito provável a renda e o poder de consumo da população serão fortemente afetados, assim como o desemprego que tende a aumentar no confronto com o quadro antecedente à crise, pois novos conceitos estão surgindo consequentes das percepções e aprendizados ao longo da crise.
Há movimentos no mercado financeiro e na economia que precisam ser confirmados efetivamente, pois podem ser meramente circunstanciais e até enganosos.
A queda do juro foi impactante no país e afugentou a pessoa física do mercado de renda fixa que como alternativa ficou quase que tão somente com a renda variável, sendo a opção mais atraente a Bovespa que registrava preços deprimidos e havia no inicio da crise caído a 60.000 pontos e que assim encontrou espaço para retomar de forma de forma claudicante e volátil aos 100.000 pontos, mas sem que a economia efetivamente lastreie o fato com fundamentos consistentes para recuperação acima de 50%.
O dólar, com o incentivo do estimulo inicial do próprio governo para a tese “câmbio alto/juro baixo” focando despertar nos investidores estrangeiros a atratividade perdida pelo país e tornar o país “barato”, além do estimulo ao setor produtivo privado ao investimento focando o comércio exterior, etc..., enfim como politica de governo, não logrou os seus resultados imediatos, mas ancorou as exportações do agronegócio que tem peso importante no PIB brasileiro.
O “câmbio alto/juro baixo” não estimulou o fluxo cambial positivo para o país, e, muito pelo contrário, também não impediu outra rodada forte de saída de recursos externos, adicionalmente ao já ocorrido intensamente em 2019, e provocou o sentimento momentâneo de perda de controle quando “beirou” os R$ 6,00, e depois com a intervenção retórica e mais efetiva do BC recuou.
A seguir, como havia preços de ações com valores deprimidos em reais em torno de 20% e em dólares de 30% houve um deslocamento de oportunidade de recursos fartos no mercado internacional, e que provocaram um movimento pendular de depreciação do real com a concomitância da valorização das ações, mas que quando equacionada e perdida a atratividade das ações perdeu ímpeto, e este movimento motivou a apreciação do real até o preço de R$ 4,80 por dólar.
Cessado o movimento de ingresso pontual, o dólar passou a flutuar entre o preço de R$ 5,00 a R$ 5,50, que consideramos o intervalo de equilíbrio, visto que não há perspectiva de grandes ingressos de divisas no país no curto prazo e nem de saídas, o que foi ratificado pelo último RIT, e assim deverá permanecer por todo o segundo semestre.
O fato perturbador é a grandiosidade da volatilidade para a qual não se consegue um bom diagnóstico e que é perturbadora aos negócios do mercado de câmbio.
Este quadro no câmbio e o recente IPCA são indicativos sugestivos de que possa não ocorrer o corte previsto pelo mercado na taxa SELIC.
O cenário macro do país precisa ser analisado de forma constante e sem “torcidas e anseios”, pois se a retomada, quando ocorrer de fato, não for em V e sim em U pode comprometer o tempo de mandato do atual Presidente, e isto precisa estar no radar.