Parte importante da teoria econômica construída a partir dos anos 1950 é composta por modelos teóricos que podem ser refutados com base na evidência empírica disponível. De fato, à medida que há maior disponibilidade de bases de dados e avançam as ferramentas e pacotes estatísticos/econométricos, grande parte da produção acadêmica na área passou a ser empírica. Isso dito, me causou surpresa e mesmo indignação a coluna de hoje na Folha do economista, professor do IE/Unicamp e coordenador do programa de governo do PT, Marcio Pochmann.
Ao invés de refutar a coluna de algumas semanas de Samuel Pessôa, Pochmann partiu para a agressão pessoal. Entre outros questionamentos, Pessôa, com base na literatura e no debate sério sobre o tema, aponta o equívoco de Pochmann, ao defender que o problema fiscal de resolve com a volta do crescimento. Como aponta a literatura e o debate sério, que resumimos aqui, a ideia de que o efeito de um impulso fiscal sobre o crescimento econômico e sobre a arrecadação de tributos seria mais do que suficiente para não se ver aumentada a dívida pública com relação ao PIB só é possível sob condições muito específicas. Não disponíveis no Brasil.
Em outras palavras, leitor, Pessôa apontou um equívoco grave de Pochmann, que se for levado a cabo em um eventual mandato presidencial, pode custar muito caro ao país. Para isso, utilizou a literatura e a melhor evidência disponível.
O que fez Pochmann?
Entre outras barbaridades, que grosseiramente apontam uma fuga do debate sério sobre o tema, Pochmann se acha um injustiçado por não poder dar uma opinião (sic): "Assumem, como na época da Inquisição, a condição de julgadores que definem o que é o "certo", desqualificando colegas, distorcendo argumentos e posando de falsa moral acadêmica".
Como dito no início, uma parte importante do trabalho de um economista profissional envolve propor hipóteses e testá-las, com base na evidência disponível. O que Pochmann propõe está definitivamente errado, como demonstra a literatura e a melhor evidência disponível. Não é, portanto, questão de opinião.
A profissão, diga-se, está cansada dos que acham que toda opinião é possível em economia. Não é verdade. A evolução das bases de dados disponíveis e das ferramentas e pacotes estatísticos/econométricos permitem hoje refutar hipóteses equivocadas, como as defendidas por Pochmann. Certamente, diga-se, há hipóteses que ainda carecem desse tipo de refutação. E aí está a fronteira da profissão, em debate sério, que envolve trabalho árduo para propor modelos teóricos, coletar e tratar os dados disponíveis.
Pochmann ignora tudo isso e apela para a agressão pessoal contra um dos profissionais mais abertos ao debate que o país possui. É uma lástima que deve ser severamente rechaçada por estudantes, professores e profissionais de mercado.