Heranças da pandemia: o mundo começa aos poucos se reerguer economicamente dos nefastos efeitos da pandemia. Mas como não poderia ser diferente, quem acompanha profundamente economia sabe que precisamos ser eternos vigilantes.
Cabe aos economistas e demais profissionais de mercado não se deixar levar pelo otimismo que tomou conta do mercado nas últimas semanas e fazer uma análise objetiva sobre nosso momento.
Precisamos entender exatamente para onde estamos indo ao sair dessa crise, qual o caminho que iremos encarar daqui por diante. Para que o mundo não entrasse em grande colapso, foi pago um preço muito alto. Mas afinal, que preço foi esse? Estamos falando do superendividamento dos governos.
Desse endividamento, foram plantadas duas sementes nocivas que começam a brotar e causar efeitos: a inflação e o aumento dos impostos.
UM RAIO-X DAS DÍVIDAS PÚBLICAS
Antes mesmo da pandemia, a dívida pública da maioria dos governos ao redor do mundo já era praticamente impagável. Até 2019, os governos já acumulavam uma dívida de aproximadamente US$ 69 trilhões de dólares. Muitas vezes pergunto se alguém tinha reais esperanças de que esses valores um dia fossem pagos. As dívidas governamentais já eram praticamente “virtuais”.
Quase um terço dessa dívida já pertencia ao Estados Unidos (31%), seguido por Japão (17%) e China (9%). Os países europeus também aparecem com fatia relevante nesse quadro.
Claro que analisar esse número de forma isolada não significa muita coisa. Existem governos que “podem” ter dívidas maiores porque suas economias são dinâmicas o suficiente para produzir riqueza a ponto de tornar essa dívida administrável. Não é à toa que os países que possuem as maiores dívidas são justamente os países mais ricos ou de maiores PIBs.
Com a pandemia, esse quadro se agravou. Os governos precisaram se endividar muito para atuar em duas frentes de batalha: em uma delas, municiar seus sistemas de saúde para combater a pandemia; em outra, criar planos emergências ou estímulos para resgatar as economias, que sofreram demais pelas medidas de isolamento social.
Para que possa atuar ativamente na economia, o governo tem à sua disposição dois instrumentos: os instrumentos de política fiscal (gastos do governo, medidas de crédito, auxílios emergenciais etc.), e os instrumentos de política monetária (redução nas taxas de juros, aumento da oferta de moeda em circulação etc.). Abaixo você confere um quadro que mostra quanto cada país dispendeu no combate à crise do Covid-19, seja através de políticas fiscais, seja através de políticas monetárias.
No caso do Brasil, proporcionalmente os maiores esforços foram no campo de políticas fiscais. As políticas monetárias foram muito mais tímidas ou não conseguiram ser postas em prática, pois muitas das medidas de crédito executadas pelo governo ficaram “empoçadas” nos bancos por conta das rígidas políticas de análises de crédito dos mesmos, sem chegar a quem se destinava em linha final.
Ainda assim, ficamos entre os países que mais investiram no combate à pandemia, quando consideramos o percentual de gastos com relação ao PIB.
Voltando à analise global, todo esse montante injetado fez com que os países terminassem o ano de 2020 com níveis recordes de endividamento, e possivelmente sem saber como resolver esse problema.
Segundo a economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart, possivelmente esse problema será o motivo da próxima crise financeira mundial, pois esse cenário de superendividamento não seria sustentável.
Se pegarmos o exemplo dos Estados Unidos, a Dívida em relação ao PIB só esteve próxima desses patamares na época da 2ª Guerra Mundial, chegando a 108%.
Vale destacar também a relação entre dívida bruta e PIB do Japão (266%), Grécia (206%), Portugal (134%), França (116%), Itália (156%). Ou seja, todos com um endividamento maior do que a produção de suas economias.
No caso do Brasil, recebemos na semana passada a notícia que nossa relação dívida/PIB deixou de crescer, ficando em 86,7% do PIB, ainda elevada, mas ao menos estabilizada.
HERANÇAS DA PANDEMIA: INFLAÇÃO E O AUMENTO DE IMPOSTOS
Heranças da pandemia: a primeira já percebida não só no Brasil, mas ao redor do mundo, é a inflação. O fato de os bancos centrais terem despejado tanta liquidez nos mercados foi uma jogada arriscada, pois resolvia um problema no curto prazo, mas poderia gerar outro no médio prazo. E foi o que aconteceu, mesmo os países desenvolvidos, que costumam ter a inflação muito baixa, viram seus preços acelerarem, com destaque especial para os Estados Unidos, tendo em vista que uma eventual alta nas suas taxas de juros para conter a inflação acabam por gerar impactos em todo o mercado financeiro.
Herança da pandemia: a segunda ainda não foi percebida, mas já começa a ser discutida: o aumento nos impostos. O cobertor é curto: se os governos gastaram muito, precisam pagar essa conta. E para pagar essa conta, é preciso aumentar a arrecadação, e aí vem o aumento dos impostos.
Provavelmente a mira se voltará aos contribuintes de maior renda e patrimônio, e algumas medidas já começam a ganhar força, como a tributação dos dividendos (o que pode impactar nas ações, rendimentos de fundos imobiliários, e até mesmo a distribuição de lucros de empresas pequenas) e o aumento nos impostos de transmissão de patrimônio.
É importante que nós estejamos atentos tanto como cidadãos quanto como investidores, pois tanto a inflação quanto o aumento nos impostos impactam tanto em nossas vidas quanto nos investimentos. Estratégias de proteção contra a inflação e estratégias de planejamento tributário farão uma grande diferença nos resultados das carteiras no longo prazo.
E você, quais estratégias você tem adotado para mitigar os riscos das heranças da pandemia? Fique à vontade para comentar. Até o próximo artigo!