Quem planta e cria já está acostumado a lidar com adversidades. Clima atípico, problemas operacionais, e oscilações de preços são corriqueiros.
A luta é diária! Antes mesmo de se plantar, é preciso planejar a safra; e comprar (parte) dos insumos. E durante a safra, existem todas as adversidades possíveis, e,, principalmente, o risco de não colher o que se espera. Soma-se a isso, o medo dos preços caírem, e não conseguir pagar os custos.
Por questão de tradição e, sobretudo, falta de comunicação, as principais ferramentas de proteção agrícola, disponíveis no mercado financeiro, são de difícil acesso aos produtores rurais.
O agricultor que acredita estar fazendo "o melhor" sem conhecer essas ferramentas, está, no mínimo, desinformado (com todo o respeito, pois sou um agricultor, também). O "modus operandi" de comercialização agrícola pode ser muito melhor do que costumeiramente é.
Ora bolas, que agropecuarista nunca sofreu perdas de receitas em função de quedas de preços de produtos agrícolas. Produtores de soja, milho, algodão, criadores de boi, e afins. Quem nunca teve seus produtos comercializados bem abaixo do esperado?
Aqueles que são mais dolarizados, quem nunca sofreu um baque devido a variação do dólar? Os que se endividaram em dólar, simplesmente "quebraram", em momentos de alta da cotação. E aqueles que tinham recebíveis em dólar (exportadores, por exemplo), tiveram quedas gigantescas de receita, em função das quedas da cotação.
Uma prática comum na agricultura, são os pacotes de troca, os Barters. Por eles, agricultores utilizam sua (expectativa) de safra futura como moeda de troca para custear a safra. Na prática, são contratos a termo, no qual o preço da negociação é estipulado "ex-ante", e não se tem alterações de valor, nem para a queda nem para a alta, dos preços. Uma parte assume o compromisso de pagar, e a outra parte, recebe o valor combinado. Previne-se contra a queda de preços, entretanto, exclui-se, as chances de ganhar com a, possível, alta dos preços. Além disso, assume-se um risco maior, o de entregar a mercadoria, risco cada vez maior, com regimes climáticos atípicos, como os atuais. O mesmo vale para os pecuarista, afinal: e se o gado não engordar?
Bem melhor do que os pacotes de troca, são os travamento de preços de Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF). As vantagens estão na ausência de compromisso de entrega física, apenas ajustes financeiros. Na BMF existem duas modalidades, 1) os contratos futuros, e 2) as opções.
O primeiro a citar, são os contratos futuros. Se "trava um preço", tal qual um barter, com a vantagem de não entrega da mercadoria, e a desvantagem de se ter ajustes diários. Outra vantagem são os valores menores de investimentos, apenas uma fração do total a se proteger, uma "margem". Quando o mercado vai contra a expectativa, ganha-se no mercado físico, mas perde-se no mercado financeiro, na BMF. A perda de um mercado anula o ganho da outra, mantendo o preço original estável.
O segundo a citar são as opções, na quais também não se tem compromisso de entrega de mercadoria, nem ajustes diários. Pelas opções, tem-se a chance ganhar no físico, se subir o preço, ou assegurar uma receita mínima, caso os preços caiam. O ganho em um mercado não elimina o do outro. É, sem dúvida, a melhor opção para seguro de preços agropecuários, e a melhor opção como forma de garantia de receita (mínima).
Sejamos francos:
Que agropecuarista nunca fez um travamento com uma trading de grãos ou frigorífico e se sentiu prejudicado com uma alta inexperada dos preços?
No caso das revendas, e grandes grupos agrícolas, dá pra se sentir confortável em trabalhar com o "dólar em aberto"?
Tal qual os produtos agropecuários, os contratos futuros e opções de dólar também são alternativas para gestão de risco.
Vai safra, vem safra, e o ciclo continua. Vamos fazer algo diferente?
Maurillo Marcondes Lários Naves, engenheiro agrônomo, MBA em Agronegócios. É assessor de investimentos e especialista em commodities e câmbio. Sócio da Ouro Investimentos.