Que os fundos imobiliários são ótimos pagadores de dividendos você já sabe, e esse é o principal motivo que fez com que esse tipo de ativo se tornasse o queridinho da pessoa física.
A partir de 2020, em plena pandemia tivemos a popularização do segmento principalmente ao olhar investidor iniciante, o qual muitas vezes erroneamente se limitava a olhar somente o famoso D.Y. (Dividend Yield).
O fundo Hectare CE (SA:HCTR11) atraiu uma grande leva de investidores devido ao pagamento de distribuição de lucros acima da média.
Porém, o que muitos acabam não entendendo é o nível de risco quanto alocação interna do fundo imobiliário, bem como a perspectiva de valorização da cota.
Ele possui gestão da Hectare Capital e tem sofrido com uma grande sequência de quedas, como presenciada a partir de 07 de abril de 2022.
No último ano, o fundo pagou cerca de 18% de dividendos, contudo amarga uma desvalorização acumulada de 28%. Sendo assim, o fundo mais desvalorizou do que pagou dividendos. Aí vem o pessoal do longo prazo falando: “Nossa, mas é pra longo prazo.”
Creio que seja interessante, sim, que investimentos sejam de longo prazo, mas antes disso todo investidor deve ter ciência de como a gestora de cada fundo trabalha com o capital do cotista mediante ao que é proposto.
Existem dois pesos que devem ser sempre contrabalanceados: de um lado o patrimônio medido pelo valor da cota e do outro o pagamento de dividendos via distribuição de lucro.
Mas vale lembrar que nem todos os fundos imobiliários, fazem parte da mesma categoria. E alguns necessitam de uma gestão mais ativa por parte da gestora e outros nem tanto.
Falando em gestora, aqui mora o ponto de atenção se tratando especificadamente do caso HCTR11.
Antes de analisar o que está acontecendo vale entender qual o objetivo exposto pela gestora, que é trazer rentabilidade constante e valorização das cotas.
Trata-se de um gerenciamento de ativos, dos quais se diferenciam de boa parte de muitos fundos por não ter o objetivo de aquisição de edificações e sim a negociação de ativos imobiliários incluindo títulos, o que acaba trazendo um maior risco, porém objetiva proporcionar uma rentabilidade muito melhor se comparado aos fundos imobiliários tradicionais.
Mas vale ter ciência de que, quando se trata de mercado financeiro e investimentos, quanto maior o risco, maior o retorno. E por muito tempo a gestora conseguiu executar essas atividades com muita maestria.
Contudo, a história tem mudado e causado desconforto de boa parte dos investidores considerando a queda das cotas e diminuição da rentabilidade dos dividendos, o qual geralmente é o principal ponto de interesse ao se posicionar em um fundo imobiliário.
Desde setembro de 2021 o fundo pagava, R$1,60. Já para os meses de março e abril desse ano pagou 1,40 por cota. Consequentemente o fato acendeu o sinal de alerta de investidores, já que o principal foco é justamente o pagamento considerável de dividendos, que tem decepcionado, bem como a desvalorização considerável das cotas, o que acaba frustrando o investidor.
Mas, afinal o que está acontecendo?
Antes, o fundo possui uma carteira mais exposta à inflação, com uma alocação somente em CRI (que são uma espécie de empréstimos para o setor imobiliário), entretanto agora o fundo aloca cerca de 25% em outros fundos imobiliários.
Até aí tudo bem, porém muitos questionam essas novas alocações sob a alegação de que não se justifica, até porque alguns dos fundos alocados são da própria gestora, e péssimos pagadores de dividendos.
Sendo assim, tal movimento gera no mínimo estranheza sobre a eficiência de tais manejos. O que consequentemente infla o movimento de debandada dos cotistas atuais do HCTR11, que tem como principal objetivo o pagamento consistente e considerável de dividendos.
Vendo o alvoroço no mercado, a gestora decidiu se posicionar. O qual explicou a diminuição do valor distribuído aos cotistas.
Segundo ela, existem dois fatores principais: Um deles é a quantidade reduzida de dias em fevereiro; outro ponto é a queda do IPCA em dezembro e janeiro.
Como se não bastasse os investidores se assustaram com um novo fato, de que o fundo divulgou a captação de recursos através da 13ª oferta de emissão de cotas, mesmo já tendo feito a 12ª em pouco tempo.
A alegação da gestora é que a 13ª emissão de cotas tenha com objetivo a aquisição de novos CRIs, que serão selecionados pelo gestor à medida que surjam novas oportunidades, que estejam compreendidos na política de investimentos do fundo.
Se será um bom negócio ou não o que fica é a lição.
Acompanhe de perto o gestor, e entenda bem o se o fundo atende a sua perspectiva.
Não somente ao olhar de dividendos, mas sob olhar do seu patrimônio.
Afinal o dinheiro é seu, mas a alocação será de outra pessoa!