Em 6 de abril, a criptomoeda preferida da dark web, o monero (XMR), se dividiu em um processo chamado "hard fork"e chegou à versão 12. O movimento controverso foi realizado expressamente para combater mineradores ASIC.
ASICs, sigla em inglês para circuitos integrados de aplicação específica, são chips de computadores especializados e poderosos o suficiente para serem utilizados na mineração de criptomoedas específicas com mais rapidez. Embora sejam caros - o recém-lançado Antminer X3 ASIC custa US$ 12.000 e é voltado especificamente à mineração de monero e outras moedas digitais que utilizam o mesmo algoritmo -, de acordo com a Motherboard, "esses chips poderosos estão mexendo com as criptomoedas".
O último "hard fork" do monero introduziu um novo algoritmo apenas para proteger a rede de hardware ASIC de mineração e manter a natureza descentralizada da moeda alternativa. A divisão foi concluída no bloco número 1.546.000, resultando no nascimento de quatro novas moedas: duas versões de monero classic, monero 0 e monero original.
Cortesia: BitcoinMagazine.com
Após o "hard fork", o monero caiu brevemente 75% e era negociado pouco acima de US$ 160. Recuperou-se de alguma forma, mas ainda é negociado em menor nível.
Dr. Omri Ross, professor-assistente na Universidade de Copenhagen e diretor-geral da Firmo Network, observa que essas divisões não são raras para o monero e, de fato, ocorrem com bastante frequência. Em sua opinião, esse desdobramento pode ser visto como uma extensão natural da capacidade da comunidade em lidar com fatores internos e novas demandas com base no mercado.
De acordo com o site do monero, esse movimento recente "pretende fechar a lacuna entre a mineração através de CPU, GPU, FPGA e ASIC ao utilizar um sistema de prova de trabalho que é ligado a memória sobre uma quantidade moderada de memória". ASICs são a próxima etapa no desenvolvimento tecnológico após CPUs, GPUs e FPGAs.
Implicações além do XMR
Udi Wertheimer, pesquisador de Blockchain, afirma que o "hard fork" do monero é de grande interesse, mas não apenas para a comunidade XMR. Ele acredita que o elefante na sala é o ethereum (ETH), cuja capitalização de mercado é muito maior que a do XMR e, assim, tem muito mais dinheiro em jogo.
Faz sentido que mineradores ASIC se inclinem a deixar o monero para o ethereum, mais lucrativo. A segunda criptomoeda mais popular possui uma capitalização de mercado de US$ 19,03 bilhões enquanto este artigo é escrito, ao passo que o monero, atualmente o décimo primeiro token mais popular, possui valorização de US$ 2,63 bilhões. De fato, muitos acreditam que ASICs já estejam invadindo a mineração do ethereum uma vez que a Bitmain, empresa que lançou o Antminer X#, está também lançando uma versão E3, com preço de varejo de US$ 800, voltado especificamente à mineração de ETH. Wertheimer afirma:
"Mineradores de ETH em GPU já suspeitam que ASICs estariam secretamente minerando ethers, prejudicando a lucratividade de GPUs. No longo prazo, há um possível debate político logo chegando ao ethereum, já que a comunidade tenta realizar um "hard fork" para deixar a PoW [prova de trabalho, na sigla em inglês] e substituí-la por PoS [prova de participação, na sigla em inglês] (ou uma PoW diferente). Alguns agentes da comunidade mineradora provavelmente estão monitorando de perto o resultado das divisões do monero como uma preparação para uma possível tentativa de divisão do ETH".
Marc Bernegger, empreendedor e investidor da web radicado na Suíça e que é também membro do conselho do Falcon Private Bank além de conselheiro de ICO na SwissRealCoin, aponta que, embora plataformas e moedas movidas a blockchain devam ser descentralizadas, com o advento dos ASICs há uma ameaça real de que em algum momento se tornem dominadas por um pequeno grupo de corporações que poderiam desenvolver computadores baseados em ASIC com projetos especificamente voltados a certos algoritmos ou tarefas, centralizando assim essas moedas.
Ele adverte que isso poderia se provar desastroso para qualquer criptomoeda específica se e quando mineradores ASICs "dominarem o mercado" de certo modo. Caso isso aconteça, a moeda em questão seria minerada muito mais rapidamente e por um grupo muito pequeno que, então, controlaria os preços e a disponibilidade. De acordo com Bernegger:
"Quando novos agentes trazem ASICs ao jogo, eles começam a encontrar novos blocos com muito mais rapidez. Muitas das criptomoedas respondem através do aumento da complexidade, tornando inútil para pessoas comuns minerarem moedas, com o foco então se voltando para aqueles com grandes fundos ou muito conhecimento do sistema".
Bernegger levanta outro ponto significativo. Os desenvolvedores do monero querem manter a criptomoeda descentralizada. Esse sempre foi um princípio fundamental da classe de ativos. O "hard fork" desta semana teve como objetivo direto manter esse status ao mudar para um novo algoritmo de hash porque os criadores do monero temiam um possível domínio da rede de mineradores ASIC.
Para Bernegger, como para muitos outros atualmente ativos no espaço de criptomoedas, a beleza das moedas digitais é que elas proporcionam aos usuários uma oportunidade para escolher os projetos específicos que eles preferem e em quais eles podem participar. Bernegger acredita que, em algum momento, a situação irá se estabilizar.
Ele espera alguns resultados: o velho monero manterá seu nome, ao passo que novas divisões serão conhecidas de outra forma, muito parecido com o que ocorreu com o (bitcoin, que se dividiu em bitcoin cash, bitcoin gold e bitcoin diamond; de forma similar ao cenário do ethereum classic. Em sua opinião, uma das novas versões do monero irá superar a blockchain original do monero em sua taxa de hash e um número de usuários irá eventualmente torná-la o novo "monero".
Outros são um pouco menos otimistas, favoráveis a métodos mais agressivos para bloquear totalmente mineradores ASIC. Há opiniões fortes para mudar o software do ethereum incluindo fazê-lo passar por medidas de divisão similares por precaução. No momento, Vitalik Buterin, cofundador do ethereum, se manifestou contra tais medidas. Ainda assim, como um desenvolvedor do ETH observou recentemente, "se a comunidade realmente quer que isso aconteça... podemos definitivamente fazer isso". Por enquanto, no entanto, o cabo de guerra entre as forças favoráveis à descentralização e as que estão do lado dos ASICs está apenas começando.