Tudo indica que o novo governo poderá ter uma equipe no comando da economia de origem “caseira”, o que não consideramos uma opção ruim, pois o “status quo” do país não sugere espaços para comando estelar criativo, mas sim de ser composto por “obreiros” focados e coesos numa política centrada na reversão da situação econômica atual amplamente deteriorada, cujo “script” é sobejamente conhecida.
A expectativa presente sugere um programa de gestão da economia absolutamente austera a ponto de ser caracterizada como um “choque de credibilidade” capaz de criar cenários otimistas e motivadores aos investidores nacionais e estrangeiros. Enfim, totalmente diferente do que tem sido praticada na gestão atual.
Porém, há uma percepção de que possamos estar correndo o risco de termos mais do mesmo, o que seria drasticamente decepcionante, pois elementos já ligados ao atual governo teriam que realizar algo radicalmente diferente.
A receita recém sugerida por dirigente do BC em relação à inflação é a de elevação do juro e no câmbio a continuidade do programa de intervenção com os instrumentos financeiros “swaps cambiais”, corresponde à continuidade do que se tem visto nos últimos anos, agora com o agravante do governo estar agindo para validar a matemágica para acomodar o descumprimento das metas de politica fiscal, sem o que estaria descumprindo a LRF.
Este contexto precisa ser visto como praticas que serão descontinuadas, de imediato ou gradualmente, para que o país assuma propostas novas e diferentes.
Num ato de tolerância se poderia separar as ações na mesma linha até agora praticadas para o término deste mandato e, que então, no novo governo será feito de forma diferente. Esta duvida conspira contra a ideia da solução caseira para a equipe de comando da economia, que inquestionavelmente, será comandada diretamente pela própria Presidenta.
O novo período governamental precisará necessariamente de politicas macroeconômicas absolutamente diferentes das praticadas até este mandato, caso contrário o país não conseguirá reverter seu “status quo”, mas, pior, poderá sofrer mais desgastes nos seus indicadores e na sua já deteriorada credibilidade e atratividade perante nacionais e estrangeiros.
A história de que o câmbio é flutuante é mais antiga do que a de que a inflação está sobre controle, ambas totalmente desacreditadas.
Com a intervenção do governo distorcendo as realidades, os preços relativos da economia ficam dispares e em grande parte defasados em sua realidade pelos acomodamentos, distorcendo os valores efetivos de inflação.
O IPCA-15 de 0,38% divulgado hoje acumula inflação nos últimos 12 meses de 6,42%. Bastam 5 minutos em qualquer supermercado para ver o quanto distante está da realidade a que estão submetidas as famílias brasileiras.
O dólar precisa ter seu preço liberado para cumprir o seu papel na economia do país e não causar danos como a desindustrialização e o crescimento nanico do PIB e a inflação verdadeira precisa ser contida prioritariamente com redução drástica dos gastos públicos excessivos e não com a solução contumaz de elevar o juro e depreciar o preço da moeda americana.
O dólar com seu preço justo em linha com a realidade do país é a opção mais rápida para estimular a reversão do estado mórbido da atividade econômica do país.
É o fator maior para a reativação da indústria brasileira, aumentando sua competitividade no mercado externo e no mercado interno frente aos concorrentes importados. Teria, acreditamos, grande impacto no curto prazo sobre o espirito empreendedor do empresário nacional induzindo-o aos investimentos.
Em paralelo o governo deveria apresentar inúmeros projetos de recuperação da infraestrutura do país, atraindo investidores estrangeiros, procurando viabilizá-los com urgência, o que implica em menor burocracia e posicionamentos ideológicos.
O Brasil precisa reconstruir a viabilidade de seus fluxos de recursos externos sustentáveis para financiar seu déficit em transações correntes, e mais, aumentar a sua credibilidade e atratividade de forma rápida.
A continuidade da intervenção com contratos dos instrumentos financeiros “swaps cambiais” precisará ocorrer, mas deve ter como foco a sua redução gradual na medida em que os fluxos de recursos externos comecem a se revelar positivos de forma sustentável. O argumento de que o instrumento é utilizado para coibir volatilidade no mercado é uma “mascara” para encobrir que os instrumentos se prestam a “comprar credibilidade” que a moeda nacional não tem e que assim sendo requerem necessariamente “hedge”. Este é um sensor que não passa despercebido pelas agencias de rating e pelos investidores externos.
Naturalmente, no contexto de gastar menos do que arrecada e incentivar a indústria com taxa cambial real e sustentável está a possibilidade de melhora da politica fiscal, o que será imperativo para que o país não venha a perder o “grau de investimento”, possibilidade muito presente neste momento e que afetaria drasticamente as perspectivas.
O mercado de câmbio entendeu bem a sinalização do BC de que R$ 2,60 é o maior preço tolerável neste momento, e assim passou a admiti-lo como ponto de referência. É ilusório buscar alinhamentos simétricos de comportamento com o exterior, tendo em vista que o país está eivado de motivos e razões próprias que poderiam até elevar o preço acima deste preço tolerável, por motivos especulativos.
Acreditamos que R$ 2,60 seja efetivamente o preço justo da moeda americana no nosso mercado.
O Brasil precisará ser efetivamente diferente nesse segundo mandato e promover um choque de credibilidade, caso contrário, se insinuar que poderemos ter mais do mesmo, o que está ruim poderá ficar extremamente pior.