Dentre os 30 mercados levantados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, os de aves, suínos e leite parecem ser os mais fragilizados diante da atual greve dos caminhoneiros. Isso porque, além de se tratarem de animais, que precisam ser alimentados, são setores que já estavam passando por fortes dificuldades antes da atual paralisação. No geral, o clima é de incertezas, com muitos colaboradores do Cepea se mostrando sem orientação, num momento em que esses mercados caminhavam para uma possível recuperação.
AVES – Ainda que este seja um setor integrado, as negociações envolvendo o frango estão travadas. Enquanto o avicultor não consegue receber insumos para alimentar os animais, frigoríficos reduziram o abate – muitos estão parados – porque não há mais espaço em seus estoques, que não estão sendo escoados. Colaboradores do Cepea indicam que têm alimentos para os animais até o meio desta semana e, por isso, muitos têm racionado a alimentação – cenário que deve reduzir a produtividade. Vale ressaltar que o setor avícola é fortemente dependente do mercado internacional – quase 35% da produção brasileira da proteína é exportada – e o mercado enfrenta embargo por parte de um importante comprador (União Europeia). Portanto, o atual contexto pode dificultar os recentes avanços em acordos estabelecidos com outros países demandantes da carne.
SUÍNOS – O cenário verificado no mercado de suínos é bastante parecido com o de aves, com muitos produtores racionando o uso de insumos, enquanto frigoríficos reduzem ou paralisam os abates. Em alguns poucos casos, o pecuarista consegue negociar com frigoríficos próximos, em localidades em que os acessos estão liberados. Nestas situações, os valores negociados estão bastante dispersos dos de outras regiões. Antes da paralisação, o setor estava animado com a notícia da possível retomada das compras da carne por parte da Rússia. Além disso, as primeiras cargas de cortes suínos ao mercado sul-coreano também estavam sendo negociadas. No entanto, a greve está impedindo a saída da carne dos frigoríficos e, consequentemente, as exportações.
LEITE – As atividades na indústria estão limitadas ou suspensas no estado de São Paulo. De acordo com levantamentos, 90% da amostra do Cepea não registra negociação e não há expectativa de retomada. Dentro da porteira, a dieta dos animais está restrita ou paralisada pela escassez de insumos. Diante deste cenário, o pico de lactação pode ser comprometido, acarretando em queda de produtividade, e a expectativa é de que o funcionamento fisiológico das vacas volte ao normal apenas daqui um ano.
HORTIFRUTIS – Atacadistas da Ceagesp, o maior centro de distribuição de alimentos, estão com dificuldades em receber cargas de boa parte das frutas e hortaliças. Assim, receosos se os produtos chegariam ou não ao mercado, muitos produtores consultados pelo Cepea deixaram de colher até que a situação nas rodovias se resolva. No geral, as perdas, por enquanto, são verificadas nas cargas que estão nas rodovias. No campo, produtores relatam possíveis perdas de hortaliças, caso a situação não volte ao normal nos próximos dias. Quanto aos preços, poucos são os negócios coletados pelo Hortifruti/Cepea. Mas, no geral, esses poucos negócios relatados ocorrem a valores bastante elevados quando comparados com o período pré-greve.
GRÃOS E CEREAIS – A paralisação de caminhoneiros tem inviabilizado as negociações no mercado de grãos. Produtores, com receio de não conseguir entregar o produto, não ofertam lotes no mercado spot. Compradores, especialmente avicultores e suinocultores, indicam forte necessidade de receber os insumos para a alimentação dos animais e aceitam pagar preços mais elevados – apenas alguns recebem novos lotes. Na indústria, sem o grão, muitas unidades interromperam o processamento, limitando a oferta de derivados. No caso de moinhos de trigo, parte ainda detém o cereal para moagem, mas não consegue negociar devido à dificuldade na logística. Para o arroz, o transporte interestadual está prejudicado, impedindo as entregas do produto beneficiado, cenário que tem deixado tanto a indústria quanto orizicultores fora de mercado.
ALGODÃO – Com a paralisação dos caminhoneiros, a retração de agentes se intensificou e as efetivações no spot estão ainda mais limitadas, o que elevou as cotações da pluma.
PECUÁRIA DE CORTE – No campo, pecuaristas têm deixado os animais no pasto, na tentativa de reduzir a necessidade de uso de suplementos. No frigorífico, novas cargas de animais para abate não chegam e também as carnes já processadas estão acumuladas nos estoques, sem escoamento.
CAFÉ – A greve tem dificultado a colheita de arábica e robusta da safra 2018/19. Além de faltar combustível para o maquinário em algumas fazendas, a paralisação tem atrapalhado o deslocamento dos trabalhadores até as lavouras. Quanto à comercialização, os grãos que seriam destinados à exportação são os mais prejudicados.
SUCRO – No caso do etanol, o Cepea verifica algumas poucas negociações do biocombustível, mas a entrega é programada para ocorrer após o encerramento da paralisação. Em Paulínia (SP), base do Indicador diário do Cepea, o volume negociado é ainda menor. As negociações envolvendo o açúcar também são bastante reduzidas.
MANDIOCA – Indústrias relatam falta de raiz para processamento e dificuldades de escoamento de fécula e farinha.
OVOS – Colaboradores do Cepea informam dificuldades no escoamento do produto e no recebimento de insumos.