As conversas de Lula e Haddad com as agências de risco durante o evento da ONU se mostraram parcialmente frutíferas.
Como primeiro resultado, a Moody's elevou a nota de crédito brasileira, e agora estamos a apenas um passo do grau de investimento.
Embora seja uma boa notícia, alegrando o pregão de hoje, o mercado não comemorou com particular euforia, e nós também não.
Nas palavras do meu amigo Felipe Miranda, "isso diz mais sobre as agências de rating do que sobre o Brasil". É verdade.
Ainda assim, precisamos investigar um pouco mais as nuances que permeiam o acontecimento, pois elas podem ocultar um viés positivo, ainda que improvável.
De fato, o argumento técnico da Moody’s tem sua razão de ser.
Nos últimos tempos, colecionamos avanços materiais no perfil de crédito, incluindo um crescimento de PIB mais robusto do que o anteriormente estimado e um histórico crescente de reformas.
Metade do caminho foi trilhada.
No entanto, a outra metade parece bem mais desafiadora: equilibrar o fiscal e estabilizar a trajetória Dívida/PIB - ambos pontos destacados como abaixo do esperado pela agência.
Ironicamente, é nessa lacuna que se esconde a melhor parte da história diante de nós; uma história que pode ou não se materializar.
O anúncio da Moody’s deixa bem claro qual é o "N + 1" que precisamos satisfazer para retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal.
Se, e somente se.
Supondo que Lula valoriza o grau de investimento e sonha em conquistá-lo no mandato atual, alguma mudança de postura teria que ocorrer em relação ao controle e/ou desvinculação dos gastos públicos.
Ainda mais sob o risco de fazer a primeira metade da lição de casa, e entregar a segunda metade no colo do presidente Tarcísio, conferindo a ele o feliz anúncio do grau de investimento, que ou você tem ou você não tem.
Enfim, permanecemos largamente céticos em relação ao ajuste fiscal por aqui, mas um pouquinho menos céticos depois dessa instigante cenoura que a Moody's ofereceu a Lula e a Haddad.