As sinalizações (ou movimentações) do governo têm sido muito desastradas, segundo leitura do mercado. E não é o caso de achá-lo “nervosinho”. O mercado é um “locus”, na qual poupadores buscam rentabilizar seus recursos, superavitários se encontram com deficitários e transacionam créditos e dívidas. Para isso, é essencial alguma estabilidade na economia, nas relações contratuais, maior previsibilidade nas decisões dos agentes, ou seja, uma relativa calmaria e transparência.
Não é isso que temos vivenciado nos últimos meses. São ruídos gerados a todo momento, muitas vezes afetando diretamente a poupança das famílias. E isso se reflete na saída de recursos estrangeiros, a cada dia se avolumando mais. Perda de credibilidade externa gera isso.
O último episódio foi a intervenção do governo Jair Bolsonaro na Petrobras (SA:PETR4), substituindo um homem do ministro Guedes (Castello Branco) por mais um general, desta vez, egresso da Itaipu Binacional (General Joaquim Silva e Luna) e ameaçando, em mais uma das suas declarações intempestivas, “meter o dedo na energia elétrica”. Isso foi numa sexta-feira. Na semana seguinte, no entanto, visando reverter a péssima impressão deixada, o presidente veio com o anúncio de colocar a Eletrobras (SA:ELET3) e o Correio na agenda das privatizações.
No entanto, já era tarde. É opinião de muitos de que Bolsonaro não tem nada de liberal. Pelo contrário, mais se parece com os velhos militares desenvolvimentistas do passado.
No mercado de ações, depois deste dia do anúncio de Castello Branco, o movimento foi de “selloff” (vendas fortes), com a PETR4 chegando a cair mais de 20% na sexta-feira. Nos últimos dias, vem operando oscilando, mas sempre tendendo a queda. E tudo piora depois que Paulo Guedes disse achar empresa pública negociada em bolsa de valores uma “anomalia”. Para piorar, descobriram operações de “inside trading”, depois do anúncio da saída de Castello Branco, o que deu um ganho ao envolvido em mais de R$ 18 bilhões. Ou seja, esta pessoa sabia que o presidente iria anunciar a saída do presidente da Petrobras.
É percepção de que uma virada está acontecendo na linha de conduta do governo: vai perdendo espaço o liberalismo de Paulo Guedes (dos Chicago´s Olders) e ganhando espaço o velho intervencionismo nacional desenvolvimentista dos militares, com apoio de parte das esquerdas.
Sendo assim, a todo momento surgem rumores sobre a saída de Paulo Guedes, um liberal democrata, e o ingresso de um ministro mais subserviente ao presidente, além do desmembramento do Ministério da Economia. Talvez fosse criado aí o Planejamento e a Indústria e Comércio fortalecida. Outras saídas vão ocorrendo. O presidente do BB (SA:BBAS3) já colocou seu cargo à disposição, o mesmo aconteceu com um secretário de política Econômica ligado ao Guedes. No conselho da Petrobras, nomeado por Castello Branco, mais da metade já anunciou saída. Não há como negar. Há uma rearranjo das forças políticas em Brasília e o Centrão pode estar por trás disso. Há boatos de “remanejamentos” dos ministérios do Exterior (Ernesto Araújo), Meio Ambiente (Ricardo Salles), e de Minas e Energia (Bento Albuquerque), entre outros.
No Brasil real, o tombo do PIB (-4,1% em 2020) deve se prolongar ao longo deste primeiro trimestre (ou mesmo semestre), ainda mais depois da piora da pandemia. Já são quase 255 mil mortos, tendo chegado a 1,7 mil diários nesta terça-feira, recorde desde o início.
Somos uma “nau sem rumo”, até porque o presidente empurra a responsabilidade para os estados. Não se poderia esperar outra conduta. No Congresso temos a votação da PEC Emergencial, e de bom apenas o gatilho de congelamento de salários se as despesas passarem de 95% do total. Outra novidade é a exclusão da bolsa família do “teto do gasto”. Com isso, deve ganhar o governo poder de manipular R$ 34,9 bilhões do Orçamento.
Alguém tem dúvida que será esta a toada do governo até as eleições? Encher os extratos mais pobres da sociedade de “bolsas ou estímulos variados” em troca de votos.
Nossa interpretação é de que isso é mais um “fura teto”, com a credibilidade e sustentabilidade do ministro da Economia, cada vez mais, arranhada. Segue o regime fiscal sofrendo ataques políticos e populistas de todos os lados.
Ainda falando da pandemia, é hora de um lockdown absoluto, no mínimo de 15 dias, e de disponibilizar vacina para todos. Sem protagonismo do governo, mas com o Congresso liderando o processo, tentando definir o calendário de campanha de imunização. Só assim será possível sair deste ambiente de caos e desgoverno.
Vamos conversando.