Não parece difícil um balanço do governo Jair Bolsonaro nestes dois anos e mais alguns meses no poder.
Podemos visualizar uma sucessão de decisões equivocadas, algumas bem intencionadas, outras nem tanto, e poucas, realmente, meritórias.
Sua agenda econômica é (ou era) até acertada. Basicamente, tratava das reformas estruturais, da Previdência, tão urgente diante da trajetória desta dívida; da Tributária, num cipoal de impostos que mais repelem do que atraem investidores, e da Administrativa, sabendo que boa parte da nossa dívida estrutural é originada das distorções da rubrica “Encargos e Pessoal”.
O diagnóstico é um só. O déficit público “estrutural” tem origem e daí, diagnóstico. Aqui, uma contradição, pois Bolsonaro ascendeu pelo corporativismo junto aos militares e todos sabemos que boa parte destes déficits, público e previdenciário, são originados dos excessos de "penduricalhos" dos servidores públicos e dos militares.
Ou seja, a tal "fábrica de desigualdades", denunciada por Paulo Guedes, tem que ser equacionada, pelo lado da retirada dos privilégios dos servidores públicos, principalmente, dos militares. Ao poucos, Bolsonaro foi sendo “dobrado” sobre, mas parcialmente. A reforma da Previdência, por exemplo, ficou pela metade, com os militares à parte; a reforma tributária acabará bem desidratada e a administrativa, dificilmente deve sair neste ciclo de poder.
Na verdade, são tantos os "estresses" gerados, que esta boa agenda, mais do ministro Guedes, não do presidente, vai ficando pelo caminho.
Quando recém eleito, assumindo Bolsonaro, até cheguei a torcer para que desse certo, dada a equipe no ministério, as ideias aventadas, o ingresso do juiz Sergio Moro no Ministério da Justiça, Paulo Guedes na Economia, Tarcísio Freitas na Infraestrutura, Marcos Pontes na Ciência e Tecnologia, Tereza Cristina, boa gestora na Agricultura, etc. No entanto, vendo como o presidente se movimentava, fui observando que não sairíamos do lugar neste ambiente de bate-bocas e confrontos inúteis.
Um exemplo, esta parada no tal "cercadinho" do Alvorada. Para que isso? Para se expôr ainda mais ou para passar uma impressão de humildade e autenticidade? Fica reclamando com os eleitores, ou então fica batendo boca com os jornalistas que aparecem.
O problema é que Bolsonaro, como "chefe de Estado", de uma das maiores economias do mundo, não se comporta como tal. Não é o caso de comparar com o PT. Todos sabemos o quanto foi nocivo o PT à governabilidade do País, meio que banalizando a propinagem e os esquemas de corrupção. Mas sua conduta também é altamente reprovável.
Ao longo do seu primeiro ano de mandato, foram saindo vários quadros, em "efeito dominó", muitas vezes, por intrigas e fofocas geradas pelo tal "gabinete do ódio". Isso também muito me espanta.
Parece que qualquer um que tenha "luz própria", ou que queira, depois, pensar em outros projetos políticos, como a “cadeira do Planalto”, logo é "sabotado" pelo presidente. Só ele pode se destacar neste governo, o resto são os bajudaladores de sempre.
Gustavo Bebbiano, um "braço direito" do capitão, jurista, o orientava, o protegia. Dizem que caiu por ciúme do filho Carlos Bolsonaro. A averiguar. Todas suas declarações, depois, indicavam uma grande decepção. Foi uma aposta, colocou todas as suas fichas. Acabou caindo por fofocas. Morreu, num enfarte logo depois, na verdade, de desgosto.
Tivemos ainda o general Santos Cruz, saindo pelos mesmos problemas, intrigas do tal "gabinete do ódio".
E outros foram saindo. Três ministros da Saúde não aguentaram. Luiz Henrique Mandetta fez acusações graves, sobre o negacionismo do presidente em reconhecer a gravidade do quadro pandêmico; Nelson Teich, médico renomado, não aguentou, só um mês; depois, o general Pazuello, "cumprindo ordem", conseguiu montar um cronograma de vacinas, mas não teve a aceitação da sociedade. Dizem que serviu apenas para legitmar a estratégia “tosca” do “tratamento precoce”, mas sem comprovação científica.
Saiu meio que ”escondido”, pensando como fugir dos processos judiciais. Agora, chegamos ao atual ministro, cardiologista, Dr. Queiroga, meio desorientado, no “olho do furacão”. Num cenário de mais de 300 mil mortos, 3 mil ao dia!
Em paralelo, na “seara” de sustentação econômica dos "baixa renda", dos informais, Bolsonaro conseguiu instituir o "maior programa de redução de pobreza da história do País". Na primeira fase, foi usado um subsídio de R$ 600 por pessoa, virou o semestre em 2020 e veio mais um "segundo"' programa, mais austero, de R$ 300 em média, até a chegada do ciclo das vacinas. São mais de R$ 100 bilhões já gastos neste ano de pandemia, o que seria, em parte, evitável, se o planejamento de vacinação tivesse chegado a um bom desfecho e no "devido tempo".
Uns acham que o seu negacionismo possui “cálculo político”, outros acham que é ignorância mesmo, é obscurantismo. Segundo um observador da cena, "ele esticou a corda na negação da gravidade do coronavírus e os governadores foram obrigados a adotar medidas rígidas de isolamento, cujo efeito tem sido afastá-los da popularidade. Bolsonaro será no momento agudo, aos olhos da população, o "pai da vacina". Será? Não creio.
Medidas impopulares, como o lockdown, às vezes, são necessárias.
O problema do presidente Jair Bolsonaro é que ele age sempre "açodado", não tem auto-controle, não "conta até dez"....É tudo truculência, confronto...
Boa parte do que estamos vivendo na pandemia tem a assinatura dele!
Ao ignorar a pandemia, alimentar uma dualidade economia x pandemia, não reconhecer a gravidade do quadro, não usar máscara, defender que as pessoas continuem vivendo normalmente, provocar aglomerações, Bolsonaro acabou emitindo sinais erráticos à população. Em verdade, foi na contramão do mundo.
Só agora pensa em Comitê de Crise? Tarde! Muito tarde! Em Portugal, por exemplo, a tal coordenação já está acontecendo há mais de ano, desde o início da pandemia. Resultado: mesmo com erros pontuais, 8 a 11 mortos por dia.
Vamos conversando.