Uma semana intensa nos mercados. O dólar passou dos R$ 2,40, a bolsa de valores acumulou perdas, já acima de 7% ao ano, o risco país, pelo EMBI, se descolou indo a 265 pontos básicos, e os futuros de juro e câmbio operaram “esticados”...
Uma onda de desconfiança continua se espalhando sobre alguns emergentes, com destaque para o Brasil, até passado recente uma das vedetes entre os BRICS. Não somos mais. Aos poucos nos tornamos o exemplo a não ser seguido, ao contrário de países como o México e o Chile, pontuando por reformas e ajustes necessários.
Estamos na contramão do mundo, em franca recuperação. No último relatório do FMI isto ficou bem claro, com os EUA e a Zona do Euro emitindo sinais promissores. O primeiro deve crescer em torno de 2,5% a 3,0% e o segundo entre 1,0% e 1,5% neste ano e no próximo. Disse o economista chefe da instituição, Oliver Blanchard, que “os freios estão sendo progressivamente relaxados, o peso da consolidação fiscal é menor e o sistema financeiro está melhorando.”
Por aqui, pelos erros de decisão econômica, excessos do governo, embates desnecessários com o mercado, dentre outros problemas, ficamos para trás. Para piorar, na Argentina um princípio de crise cambial se instalou na semana passada, depois que medidas restritivas ao câmbio foram anunciadas e depois revertidas. Após apertar o torniquete na demanda pelo dólar, taxando as compras de produtos estrangeiros pela internet, acabou voltando atrás na sexta-feira passada, liberando esta demanda para a poupança.
Em Davos, Suíça, a presidente Dilma, em discurso esperado pelo mercado, tentou passar confiança aos céticos investidores. Falou dos avanços sociais do seu governo, do programa “Minha casa, minha vida”, da “boa gestão fiscal”, do compromisso com o sistema de metas, das concessões em infraestrutura deslanchando, numa postura muito mais de vendedora do que de estadista.
Tentou vender o “produto Brasil”, mas se perdeu ao não fazer um diagnóstico mais realista sobre o momento do país, não detectar problemas a serem corrigidos, em não demonstrar humildade reconhecendo que muito ainda precisa ser feito. Foi um discurso muito mais político, de olho nas eleições de outubro, do que sintonizado com o momento de inquietação que vivemos. Esperava-se um “choque de credibilidade”, uma demonstração de empenho em avançar nas reformas, controlar a inflação e retomar o crescimento da economia sob alicerces sustentáveis, adotando boas práticas de governança, mantendo regras, etc. Era pedir demais.
Enquanto isto, uma ata do Copom, mais amigável aos investidores e pragmática, foi divulgada na semana passada. Mostrou-se preocupada com o crescimento modesto, a inflação acima da meta, a baixa produtividade e a “gestão fiscal acomodatícia”.
Sobre a inflação acima da meta afirmou que a política monetária deve se manter vigilante. Ao contrário do que alguns acharam, não foi clara sobre os próximos passos. Com o IPCA-15 cedendo em janeiro (0,67%), abaixo de dezembro (0,75%), muitos se apresaram em achar que a “parada técnica” pode ocorrer agora em fevereiro, na reunião do dia 26, mas isto dependerá de como virá a inflação em fevereiro. Nesta possibilidade, teríamos mais um ajuste de 0,25 ponto percentual, a 10,75%, mesmo patamar de quando Dilma assumiu. Pode, no entanto, haver mais um ajuste de 0,25 p.p. em abril ou mesmo um ajuste mais forte, de 0,5 p.p.. Aguardemos os indicadores de inflação e atividade, mas o teor do comunicado deu um embasamento muito mais técnico do que político sobre os próximos passos da autoridade monetária no balizamento do juro.
Sobre a gestão fiscal, diagnosticou a expansão dos gastos como foco de pressão inflacionária. Neste contexto, pediu o apoio da Fazenda neste objetivo de combater a inflação pelo lado da redução do consumo do governo. Disse que “o bom resultado primário de anos recentes contribuiria para reduzir o custo de capital e estimularia os investimentos privados no médio e no longo prazo.” Ou seja, afirmou que com todo o empenho do BACEN elevando o juro ainda falta a Fazenda fazer a sua parte com uma política fiscal mais cautelosa e austera.
Estranho este governo, num front, no fiscal, sob o domínio da Fazenda e do Tesouro, atua no improviso, no ilusionismo e no curto prazismo. No outro, no monetário, sob o domínio do BACEN, atua com mais pragmatismo, em sintonia com o mercado. Mais parece um governo bipolar, oscilando entre a retórica populista e improvisada e a pragmática, defensora das boas práticas de gestão. Qual deverá predominar nestes tempos de eleições presidenciais?
Torçamos para que a presidente se aproxime mais da segunda e imponha no segundo mandato, caso reeleita, uma agenda consensual, uma retórica mais próxima dos mercados. Assim esperamos.