Mais uma semana intensa de acontecimentos, imbróglios políticos, bate bocas, lavagens de roupa suja. Brasília vai se tornando, com o perdão da palavra, de duplo sentido, uma “grande lavanderia”.
Ao sair do hospital, depois de uma internação por obstrução intestinal, Jair Bolsonaro soltou vários “pombos sem asa”, se fartou de falar suas bobagens de sempre, mas uma coisa marcou. Disse que iria vetar o tal fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões. Disse que boa parte destes recursos poderiam ir para os ministérios do Tarcísio Freitas e do Rogério Marinho, todos ciosos por recursos para suas “obras pelo Brasil”. Deve vetar o projeto da LDO, que voltará para a Câmara com os parlamentares votando um novo aporte de recursos para o fundo eleitoral. Talvez não sejam mais R$ 5,7 bilhões, mas muito longe de voltar aos R$ 2 bilhões anteriores. Teremos mais uma “queda de braço” entre presidente e parlamento?
Com certeza, em resposta aos muxoxos de alguns, o presidente já tratou de desarmar algumas bombas contra o Centrão e o colocou no “coração do poder”. Deu a Casa Civil à Ciro Nogueira, do PP do Piauí: sim, este mesmo, que no passado já havia cantado seu apoio ao ex-presidente Lula e chamado o presidente atual de “fascista”. Sim, este mesmo, envolvido nos esquemas da Lava Jato “até o talo”. Para isso, realizou uma “dança das cadeiras”, criando um ministério, antes da cota de Paulo Guedes, do “Emprego e da Previdência”, a ser dado à Onyx Lorenzoni, deslocado da Secretaria Geral de Governo, agora ocupada por Luiz Eduardo Ramos, antes da Casa Civil. Qual objetivo de toda esta movimentação? Amolecer os corações dos senadores, em especial de Rodrigo Pacheco, presidente da casa, considerado um “independente”, e abrindo caminho para uma votação mais favorável de André Mendonça para o STF, na vaga do decano Marco Aurélio Mello.
Há um esvaziamento do ministro Paulo Guedes? Segundo ele, não. O que houve aí foi apenas uma rearrumação gerencial, nada mudando. Onyx não é amigo pessoal do ministro, os dois não são próximos, mas também não são inimigos. Estão na “cota” do presidente. O fato é que com Flavia Arruda na Secretaria de Governo e agora Ciro Nogueira na Casa Civil, toda a articulação política, distribuição de cargos e nomeações passam para a mão do Centrão. Foco, como sempre, de muito fisiologismo e corrupção, será essencial agora a CGU abrir o olho. Para piorar, quando não se cansa de fazer declarações desastradas, Bolsonaro se disse do “Centrão desde sempre”. Não creio que tenha sido um movimento (mais um!) inteligente ou estratégico politicamente, mas cada um sabe de si.
Será assim até outubro de 2022, quando teremos a eleição. Bolsonaro governará em cota com o Centrão, para muitos, um dos artífices de todos os escândalos de corrupção ocorridos no Brasil nos últimos anos. Havia alternativas? A partir do momento que ele, nestes dois anos e meio, foi sempre tensionando as relações, “esticando a corda”, brigando com todos, sem partido e sem espaço no Congresso, cair no colo do Centrão acabou inevitável. Aliás, isso me parece fato. Assim como foi com a ex-presidente Dilma e com Michel Temer, encurralado pelos pedidos de impeachment, o “beijo da morte” sempre acaba como última alternativa. Vamos ver até onde isso vai parar.
Isso tudo trouxe algum ônus ao mercado, que não conseguiu se firmar no azul, sempre muito volátil nesta semana. Na quinta-feira, o Ibovespa avançou um pouco, +0,17%, a 126.146 pontos, na semana registrou três dias de ganhos seguidos, depois de uma segunda-feira com forte tombo, acumulando +0,15% de ganho, recuando 0,52% no mês e avançando 5,99% no ano. Já o dólar, dado este ambiente político açodado, fechou o dia em alta de 0,41%, a R$ 5,2130. Na semana a moeda americana acumula +1,74% e no mês 4,82%.
Embora o ambiente político siga no radar, uma boa notícia na semana foi a arrecadação federal de junho, avançando bem contra o mesmo mês do ano passado (acima de 40%) o que deve ser um bom indício para a aprovação da reforma tributária no retorno do Congresso agora em agosto. Será mais fácil o forte corte do IRPJ, de 25% para 12,5% em dois anos, o que deve ser compensado pelo avanço da arrecadação e a retomada da economia, depois do fundo do poço em 2020 (-4,2%).
No exterior, ao contrário, o BCE resolveu ser dovish e agir com a devida cautela, mantendo a política de afrouxamento monetário, o que tende a derrubar o euro. Disse Christine Lagarde que espera o cenário com mais clareza, com pandemia, inflação e vacinação, para ver o que deve ser feito para iniciar o ciclo de aperto monetário. Nos EUA, os dados de pedido de seguro desemprego e de atividade econômica do Fed, mais fracos do que o esperado, lançam novas luzes sobre a retomada da economia norte-americana (seu ritmo) e os sustos com a inflação. E ainda temos a temporada de balanços corporativos nos EUA, também a influenciar os mercados.
Na agenda do dia, muitos indicadores de atividade, como os PMI da Alemanha, Zona do Euro e EUA, além do IPCA-15 de julho no Brasil. Este último deve vir mais elevado, contaminado pelos reajustes de energia elétrica, decorrentes da crise hídrica, o que deve levar o BACEN, no Copom de agosto, a ser mais agressivo ou não, elevando a Selic em 1 ponto percentual ou 0,75 ponto percentual. Tudo irá depender da tendência de inflação e retomada da economia.
Bom fim de semana a todos!