Para os ursos que trabalharam tanto para jogar o ouro abaixo de US$ 2.000 por onça, o que está acontecendo agora parece inacreditável.
Praticamente uma repetição ao contrário do mergulho da última terça-feira, o ouro retomou o patamar de 2K após uma nova queda nos rendimentos dos treasuries, títulos do tesouro americano, o que castigou o Índice Dólar novamente, desencadeando uma corrida dos investidores para os “portos seguros”.
Embora essa reviravolta em apenas seis dias seja digna de nota, o que ficou faltando foi o drama de uma semana atrás. No pregão de segunda-feira, os futuros do ouro na COMEX dispararam um pouco mais de US$ 50, atingindo as máximas de segunda-feira a US$ 2.000,30, em comparação com o crash da “Terça-Feira Negra” de US$ 93 que fez o metal amarelo ir abaixo de US$ 1.875 em determinado momento da semana passada.
Ainda assim, a valorização no fechamento de segunda-feira foi de quase US$ 49, ou 2,5%, a maior para um dia desde 22 de abril. E os touros do ouro estão mostrando que o seu apetite para a alta não acabou, impulsionando os contratos futuros de dezembro na COMEX para quase US$ 2.005 pela manhã durante o pregão asiático desta terça-feira.
Mudou alguma coisa no ouro? Nada relevante, dizem alguns
O ouro ainda tem um bom caminho a percorrer antes de reescrever a máxima recorde de 7 de agosto de quase US$ 2.090 na COMEX. Algumas semanas atrás, um gap de menos de US$ 100 poderia ser fechado em questão de dois ou três pregões. Mas os eventos da Terça-Feira Negra mudaram esse cenário.
Alguns dizem que uma tentativa de alcançar US$ 2.100 ou até mais levará mais tempo para se materializar do que no início de agosto, em razão da alta volatilidade que tomou conta do mercado na última semana.
Outros discordam.
“Os mercados do ouro continuam em marcha ascendente, já que o metal recuperou bem a região dos US$ 1.900”, afirmou Christopher Lewis, analista de metais preciosos em artigo publicado no site FX Empire.
O analista disse ainda:
“Com isso em mente, acredito que vamos ver muitas compras nas correções, já que vários investidores abandonarão suas posições por causa do recuo, mas perceberão que o mercado não perdeu a tendência de alta, apenas desacelerou um pouco."
Caçadores de “ouro barato” darão as caras
Lewis argumentou que é bem possível que o ouro apresente um repique, já que a mínima do contrato de dezembro a US$ 1.875 na Terça-Feira Negra ficou acima da Média Móvel Exponencial de 50 dias, a US$ 1.851,50.
“Por causa disso, acredito que operar vendido nesse mercado é impossível, pois é apenas uma questão de tempo para que os investidores queiram aproveitar o 'ouro barato'", escreveu ele em uma postagem na terça-feira.
Lewis disse ainda que espera que os bancos centrais ao redor do mundo continuem inundando os mercados com liquidez.
“Dito isso, a tendência de alta faz todo sentido, e não descarto a possibilidade de ela durar por algum tempo. Estamos vivenciando um mercado em que muitos compradores aproveitam as correções sem pensar, uma vez que a maioria das moedas fiduciárias ao redor do mundo continuará se desvalorizando.”
Índice Dólar tropeça novamente
O Índice Dólar tropeçou novamente nesta semana, atingindo a mínima de quase dois períodos semanais a 92,61 na terça-feira. O rendimento das notas de 10 anos do tesouro americano afundou quase 4% na segunda-feira e continuou em leve baixa na terça-feira.
“O Índice Dólar deve testar o suporte do canal de baixa a 92,40 em um ou dois dias”, afirmou Sunil Kumar Dixit, outro grafista independente do ouro.
“Se romper para baixo os 92 com convicção, o ouro pode facilmente disparar para US$ 2.100 e além”.
Nem o dólar nem os rendimentos devem contar com a ajuda do que o Federal Reserve tem a dizer na quarta-feira através da divulgação das atas da sua reunião de julho.
Desde o início da disseminação do novo coronavírus nos EUA, em março, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) tem prometido manter as taxas de juros perto de zero até que o país se recupere da pandemia. O banco central dos EUA também alocou alguns trilhões de dólares em seu próprio balanço ilimitado, além do que o congresso já aprovou no orçamento, no intuito de oferecer liquidez aos mercados de crédito e empresas em dificuldade.
“Para o futuro, o metal brilhante continuará se apoiando na fraqueza do dólar, em meio à queda dos rendimentos dos treasuries e do nervosismo antes das atadas do Fomc na quarta-feira”, afirmou Dhwani Mehta, analista do site FX Street.
Peter Hanks, que escreve para o Daily FX, concorda.
“Há poucos indicativos de que os rendimentos ressuscitarão no futuro próximo, portanto a tendência de alta para o metal amarelo continua, e a próxima barreira do ouro está perto da máxima histórica de US$ 2.075”, escreveu Hanks em uma publicação da terça-feira.
Aparte o mergulho dos rendimentos dos EUA, qualquer escala nas tensões EUA-China pode resultar na força do ouro como porto seguro, afirmou Mehta do FX Street.