As fabricantes de automóveis estão entre as grandes vítimas industriais da pandemia global de coronavírus. Nos últimos três meses, elas tiveram que enfrentar interrupções de produção e destruição de demanda, à medida que a crise sanitária aprofundava as dificuldades financeiras dos players mais fracos.
Com a reabertura das economias e o foco dos investidores voltado às ações cíclicas, como as de fabricantes de automóveis, seria útil saber quais dessas empresas estão bem posicionadas para ter sucesso após essa crise.
Neste artigo, vamos nos concentrar nas duas maiores fabricantes automotivas dos EUA: a Ford (NYSE:F) e a General Motors (NYSE:GM), a fim de compreender qual ação se encaixa melhor numa estratégia de recuperação no atual ambiente.
Ford: Apertando os cintos e preservando capital
Antes mesmo de entrar na crise atual, a Ford já passava por alguns desafios sérios. Depois de vários anos de crescimento nas vendas, graças à robustez da economia global e da demanda dos consumidores, a fabricante de automóveis estava enfrentando grandes adversidades por causa da desaceleração da demanda por sedãs. No ano passado, seu lucro líquido caiu mais de 50%.
A companhia decidiu sair de mercados automotivos menores para focar em SUVs e picapes nos EUA, ao mesmo tempo em que acelerava seus esforços para rapidamente ingressar nos mercados de veículos elétricos e autônomos. No ano passado, a empresa anunciou que gastará US$ 900 milhões para construir carros elétricos e sem motorista em sua planta de Flat Rock, no sul de Detroit.
Mas essas iniciativas não conseguiram impulsionar a ação castigada, que tem sido negociada abaixo de US$ 10 durante boa parte dos últimos dois anos.
Depois de despencar para US$ 3,96 no crash de março, os papéis da Ford estão agora sendo negociados a US$ 7,24, com base no fechamento de ontem.
A gerência acredita que a ação melhorará a partir desse ponto, depois que a companhia obteve sucesso na preservação de caixa e ao evitar a falência durante a atual crise. Durante uma transmissão pela internet da sua reunião anual no mês passado, os executivos disseram que a Ford está apertando os cintos, ao mesmo tempo em que preserva capital para programas estratégicos, como a renovação da picape F-150 e o desenvolvimento de diversos modelos elétricos, cujos projetos já estão em andamento.
“Estamos bastante otimistas com nosso plano”, afirmou o presidente executivo da Ford, Bill Ford Jr. “A remuneração da gerência está associada ao desempenho da nossa ação, portanto é do interesse de todos fazer com que nossos papéis voltem a se valorizar”.
Analistas de Wall Street, no entanto, não botam muita fé nesse plano de recuperação. Dos 24 analistas que cobram as ações da Ford, apenas 4 recomendam compra, com preço-alvo médio de US$ 5,67.
GM: Forte posição de caixa
Ao contrário da Ford, a GM está em uma posição financeira muito melhor para lidar com os transtornos causados pela Covid-19 à indústria. A última evidência dessa força apareceu no mês passado, quando a fabricante automotiva com sede em Detroit apresentou resultados para o primeiro trimestre acima das expectativas dos analistas.
O que está ajudando a GM é a remodelagem das suas picapes de grande porte, juntamente com o plano de reestruturação da CEO Mary Barra, cujo objetivo é retirar a empresa de mercados onde está perdendo dinheiro.
As entregas de picapes de grande porte da GM dispararam 27% nos primeiros três meses do ano, com as ordens de fechamentos dos governos atrapalhando apenas as últimas semanas do trimestre. Os modelos Chevrolet Silverado e GMC Sierra também registraram fortes vendas.
Os papéis da GM resistiram à pressão de venda muito melhor do que as ações da Ford.
Desde a mínima de março, a ação disparou 52%, sendo negociada a US$ 29,86 no fechamento de terça-feira. Dos 24 analistas que cobrem a GM, nove recomendam compra na ação, enquanto 13 têm recomendação neutra, com um preço-alvo médio para 12 meses de US$ 33,94.
A fim de preservar caixa, a GM também suspendeu sua distribuição de dividendos e seu programa de recompra de ações, além de obter um crédito de US$ 33,4 bilhões, que deve sustentar a companhia neste fraco ambiente operacional.
No longo prazo, a GM está mais preparada para lidar com os desafios associados à mudança para veículos elétricos. A GM tem sido uma das fabricantes automotivas mais agressivas na eletrificação da sua frota. A empresa vende atualmente um veículo elétrico nos EUA, mas está desenvolvendo mais de 20 modelos plug-in, incluindo um crossover da Cadillac e a picape Hummer. Ambos devem ser lançados na segunda metade de 2021.
Resumo
Quando o assunto é investir em fabricantes automotivas tradicionais, a GM sem dúvida está em posição mais sólida do que sua rival Ford. A forte posição de caixa, a gama diversificada de produtos e uma agressiva ação para adicionar veículos elétricos à frota fazem com que as ações da GM representem uma oportunidade melhor do que as da Ford.