A desvalorização do peso frente ao dólar imposta pelo presidente argentino Javier Milei ainda está mais para efeito manada nas análises do que efetivamente nas cotações dos grãos.
A leitura da epiderme da medida, entre outras ‘libertárias’ para reativar a economia do vizinho, é a de que a exportação terá maior competividade com peso valendo menos, $ 800 por US$ 1, em desvalorização de 54%.
Mas o conjunto da obra não é tão simples, para além da retenciones (impostos de exportações) que seguem, ao menos transitoriamente.
Michel Alaby, consultor de comércio exterior, e especialista em Mercosul e mercados árabes, ao Giro das Commodities: “Se o dólar cair no mercado mundial a troca dos pesos por dólar será menor”.
Como se diz nesse negócio de commodities, o produtor “produz dólar”.
Não significa, de pronto, que os argentinos vão sair inundando o mercado com farelo e óleo (líderes mundiais nos dois), além dos grãos (em soja, os terceiros exportadores), porque na teoria a desvalorização do peso deixa os produtos mais baratos.
Também não está claro como funcionará na prática o novo tipo de câmbio oficial e o livre. A Bolsa de Comércio de Rosário também não sabe.
A medida limita a acumulação de reservas pelos exportadores, mas gera distorção de preços relativos na economia, uma vez que 80% do ingresso será liquidado pelo câmbio único (MCL) e 20% pelo câmbio livre.
Ainda terá a inflação de curto prazo, já avisada pelo ministro da Economia, Luis Caputo, tanto pelo fim dos subsídios como pela instituição de imposto de importação, que compromete mais os custos.
Nos mercados que fazem contas, isso tudo entra.
O que vai valer mesmo é o tamanho da oferta, de lá, daqui e dos Estados Unidos, e demanda, da China.
Se quiseram ver a soja despencando ontem por causa da Argentina, não viram que o milho e trigo, que estão no mesmo pacote, caíram moderadamente sem o fundamento Milei por trás.
Ainda segue, mesmo, o balanço das ondas de notícias do Brasil, se vai funcionar ou não o clima e até que ponto de cortará a oferta.