Este é o terceiro artigo da série "Como Criar e Executar um Plano de Trading de Sucesso", em que discuto os pontos que considero mais importantes da jornada de todo trader que deseja obter resultados consistentes e vencedores no longo prazo. Se você ainda não leu os primeiros artigos, pode conferir a introdução ao tema aqui e uma importante discussão sobre a definição dos seus objetivos no trading aqui.
O próximo tópico é a gestão de risco, provavelmente o assunto com que você irá se deparar mais vezes em sua vida como trader. Quanto mais aprendemos a gerir riscos, mais queremos nos aprofundar no tema, pois com o tempo fica evidente a diferença que uma boa gestão de risco faz em seus resultados de longo prazo. Por se tratar de um tema bastante extenso, no texto de hoje discutiremos alguns dos principais pontos que um trader iniciante deve se atentar, para nos aprofundarmos mais na discussão no artigo que virá na sequência.
Ao iniciarem suas jornadas no mercado financeiro, muitos traders acreditam prematuramente já terem todas as questões importantes resolvidas: já definiram suas metas, já conheceram os indicadores e já definiram um setup a ser utilizado. No entanto, ao colocarem seu plano de trading em prática, o resultado acaba sendo insatisfatório, por vezes resultando até mesmo em prejuízos. O motivo geralmente é o mesmo: ausência de uma gestão de risco adequada.
Antes de mais nada, um trader de sucesso precisa estar preparado para que absolutamente tudo dê errado, pois como diz a lei de Murphy, eventualmente tudo dará. Sendo assim, cabe ao operador se preparar para todos os tipos de riscos inerentes às suas operações, como risco de mercado, risco operacional e risco de liquidez. Felizmente, graças à segurança da B3, no mercado de capitais brasileiro não precisamos nos preocupar com o risco de contraparte, isto é, o risco da sua contraparte não honrar com a negociação. Entretanto, quem se aventura no mercado de moedas ou criptomoedas deve ficar atento também a essa questão.
Para realizar uma boa gestão de risco, em primeiro lugar, precisamos estabelecer que de forma alguma todo o seu capital deva ser utilizado para operações de curto prazo na bolsa. Mesmo os maiores traders que conheço alocam apenas um pequeno percentual do seu patrimônio para as atividades de day trade e swing trade. Deste capital, apenas uma fração é utilizada por operação. Além disso, os lucros das operações são devidamente reinvestidos em aplicações de menor alavancagem e risco, como ações para o longo prazo ou fundos de investimento.
À primeira vista esse pode parecer um procedimento muito conservador, mas é preciso ter em mente que é essa diversificação de investimentos que vai lhe proporcionar ter maior segurança para lidar com perdas nos trades, que por mais que tentemos postergar, são eventualmente inevitáveis.
Um dos riscos que muitos traders costumam ignorar é o risco operacional: o risco de que em algum momento você tenha algum problema com a operação. Esse é um risco geralmente ignorado pois não costuma ocorrer, mas em momentos de stress ele vem à tona novamente. Por exemplo, durante a alta volatilidade e os circuit breakers do mês de março deste ano, mesmo algumas das maiores e mais sólidas corretoras brasileiras chegaram a sair do ar, impossibilitando que seus clientes executassem operações durante um breve período. Apesar de raro, o trader tem de estar consciente de que esse risco existe e levá-lo em consideração antes de começar suas operações.
Outro risco frequentemente desconsiderado é o risco de liquidez. Por operarem com stops, os traders tendem a acreditar que a maior perda que eles podem ter está limitada pelos seus stops. Na maior parte dos casos, isso é verdade, entretanto, caso haja algum acontecimento notável que faça com que o ativo dispare seu preço na direção contrária à sua posição, é possível que não haja ofertas para executar o seu stop no nível de preço definido, fazendo com que ele seja executado em um preço pior. Isso é o que muitos traders chamam de “furar” ou "pular" o stop.
Em ativos mais líquidos é difícil que isso ocorra, uma vez que o maior volume de negociação do papel leva a menos "buracos" no livro de ofertas, contribuindo para uma redução do risco. Justamente por isso esse tipo de risco é conhecido como risco de liquidez: você tenta executar a ordem mas não encontra contraparte para ela. Além disso, mercados menos líquidos são mais suscetíveis à manipulação de preços através de esquemas conhecidos como “pump & dump”, ou em português, algo como "inflar e largar": grandes players inflam o preço do ativo para que outros investidores comprem, acreditando numa tendência de alta, apenas para depois despejarem seus papéis para os novos investidores, a preços mais altos. O preço então desaba. Tenha isso em mente antes de operar em mercados de baixa liquidez.
Outra questão a que traders devem estar atentos é o risco da alavancagem. Hoje muitas pessoas querem operar com minicontratos devido à possibilidade de grandes ganhos e ao baixo custo operacional: hoje em dia há corretoras que chegam a exigir apenas 25 reais como garantia por cada minicontrato operado.
Minicontratos são instrumentos financeiros fantásticos, no entanto é preciso lembrar que um minicontrato de dólar tem um valor de 10.000 dólares, de maneira que operá-los com apenas 25 reais em conta seria de uma irresponsabilidade inenarrável. Na SmarttBot, plataforma de robôs traders da qual sou co-fundador, recomendamos que os traders aloquem no mínimo R$1.000 por cada minicontrato operado, idealmente chegando a uma alavancagem inferior a 20x, para uma gestão de risco mais adequada.
Mais um dos grandes riscos ao qual todo investidor está exposto também são os vieses comportamentais. A ancoragem, aversão a perda e todos os outros vieses psicológicos devem ser evitados se quisermos fazer uma gestão de risco adequada. Para evitá-los, é importante que o trader tenha uma estratégia clara e bem definida, respeitando sempre suas metas e objetivos, seus alvos e seus stops.
Como escovar os dentes, arrumar a cama e outros afazeres, gestão de risco é um trabalho que temos de fazer todos os dias se desejarmos obter consistência no mercado financeiro. Portanto sempre antes de iniciar uma operação, lembre-se das dicas deste artigo. Pode parecer sedutor abrir mão de um gerenciamento de risco razoável, pois ele pode limitar suas possibilidades de ganhos. No entanto, mais importante do que ter lucros astronômicos, é sobreviver para poder operar no dia seguinte. E isso apenas um bom gerenciamento de risco pode lhe garantir.
No próximo artigo desta série, abordaremos de forma mais aprofundada importantes aspectos práticos para a sua gestão de risco no dia a dia como trader.