🍎 🍕 Menos maçãs, mais pizza 🤔 Já viu recentemente a carteira de Warren Buffett?Veja mais

Gestão de conflitos organizacionais: Somos aprendizes do relacionar?

Publicado 10.10.2024, 13:30

Com Elaine Palmer*

Em julho deste ano, realizamos uma pesquisa qualitativa com 35 executivos, de 35 organizações diferentes, a respeito de conflitos no ambiente corporativo. Os entrevistados se distribuíam entre diretores (as), conselheiros (as), gerentes, sócios (as), entre outros, e atuam nas áreas jurídica, compliance, comercial, financeira, marketing, pessoas e responsabilidade social, nos setores de serviços, varejo, indústria e educação. 

Evidentemente que a amostra não é relevante para fins estatísticos, mas o nosso objetivo era tão somente qualitativo: entender as atitudes e condutas corporativas frente a conversas difíceis e conflitos no ambiente de trabalho para, a partir deste entendimento, construir propostas de valor que contribuam para o avanço do tema.

Não foi surpresa nenhuma que o resultado da pesquisa tenha sido o que observamos na nossa prática profissional: apenas 37% das pessoas indicaram que suas empresas possuem processos estruturados de gerenciamento de conflitos, sendo que, destas, 1/3 informou que há um mix entre processos estruturados e condução intuitiva dos conflitos internos.  E, pasmem: nada menos do que 40% dos respondentes informaram que, nas suas empresas, conflitos são resolvidos apenas intuitivamente, com base em skills pessoais. E, os demais 23% informam uma mistura entre condução intuitiva com base em habilidades pessoais e algum outro método ou suporte de consultores externos.  Em suma, por esta amostra, as empresas escolheram como método o “não método”, isto é, os conflitos são resolvidos com base na intuição e habilidades pessoais (ou falta de) dos colaboradores. Os dados revelam um cenário preocupante, uma vez que conflitos mal ou não gerenciados no ambiente de trabalho têm impactos relevantes no bem-estar das pessoas e times, e, consequentemente, na entrega dos resultados. Além disso, a escalada do conflito é quase inevitável quando intervenções adequadas não são colocadas em práticas em tempo hábil por profissionais capacitados. 

Tratar conflitos intuitivamente é reflexo de uma cultura de evitamento que, no entanto, não consegue mitigar as suas repercussões negativas. Muito pelo contrário.  A cultura do evitamento, de um lado, ou do confronto, de outro, pode conduzir a soluções erráticas, que não abordam as causas subjacentes da questão. Conflitos não tratados adequadamente tendem a se intensificar, comprometendo a comunicação e a colaboração entre equipes, além de afetar a moral e o engajamento. Também a opção por uma solução rápida e objetiva, preferida por muitos e muitas, reflete a visão de que o conflito é meramente um obstáculo a ser eliminado. Nada mais equivocado! Conflitos fornecem informações valiosas sobre pessoas, processos internos, dinâmicas de poder, riscos em projetos etc. Além de serem catalizadores de desenvolvimento e inovação, são excelentes indicadores para o top management e as lideranças em geral e, por isso, devem merecer tempo e atenção da organização.  

Fato é que conflitos precisam ser gerenciados e a forma de fazê-lo é se preparar para lidar com eles, tal como nos preparamos para qualquer desafio profissional: estudando, aprendendo metodologias e habilidades específicas.

Do ponto de vista individual, significa desenvolver novas habilidades técnicas e interpessoais, de comunicação e gerenciamento de emoções, entre outros. Conflitos só se tornam conflitos porque estão enraizados em emoções e necessidades humanas. Logo, adquirir novos conhecimentos e habilidades em gerenciamento emocional e comunicação como: auto expressão e escuta autêntica, atenção e presença para um diálogo atencioso e construtivo, construção de solução em coparticipação, são apenas parte da jornada. Todo desenvolvimento em gestão de conflitos implica realizar práticas reflexivas na esfera do desenvolvimento humano. Abordagens que ajudam profissionais e equipes a identificarem e lidarem com as diferenças de pontos de vista podem fornecer uma mudança transformativa e duradoura nas relações interpessoais no trabalho e fora dele.  

Do ponto de vista das lideranças, além da perspectiva individual, é preciso ir além: há que se desenvolver algumas competências em facilitação de conversas difíceis em geral e em mediação de conflitos em particular.  E, claro, aprender a lidar com tensões nas equipes e com pares, além de promover um ambiente interno que favoreça e incentive o diálogo aberto. Líderes que gerenciam conflitos adequadamente funcionam como modelos para suas equipes e propagam cultura positiva, promovendo engajamento e alinhamento aos objetivos e significado do trabalho à luz da estratégia.

Já do ponto de vista organizacional, significa garantir que as práticas internas reflitam valores institucionais em relação a como a empresa deseja lidar com conflitos internos e externos. É, portanto, um trabalho que envolve uma tomada de decisão consciente e a disponibilização de estruturas adequadas e profissionais preparados para a cultura desejada florescer e frutificar. Dentre os recursos disponíveis, se encontram: formação de lideranças e RHs em habilidades para gerenciamento de conflitos, intervenção direta de mediadores internos e externos, protocolo de comunicação clara que facilite a identificação e o tratamento de conflitos, prática de monitoramento e de reconhecimento de avanços. Um programa bem estruturado de gerenciamento de conflitos é um cartão de visitas (para os que lembram do que se trata!) da empresa e demonstra o compromisso da organização em manter um ambiente saudável e colaborativo.

Os benefícios de uma boa governança na área de gerenciamento de conflitos são significativos e disruptivos. Colaboradores que se sentem ouvidos e respeitados são mais propensos a se comprometerem com a organização. A gestão eficaz de conflitos contribui para a construção de reputação institucional positiva, reduzindo níveis de absenteísmo, perda de talentos, custos com demissões, entre outros. Além disso, ao proporcionar um ambiente onde as conversas são tratadas de maneira construtiva, a organização pode impulsionar a inovação e a colaboração, pois as equipes se sentem seguras para expressar ideias e pontos de vista sem medo de represálias.

Organizações que investem na governança da gestão de conflitos estão mais preparadas para lidar com a complexidade do mundo atual, na medida em que fortalecem uma cultura organizacional inclusiva, resiliente, inovadora, e, consequentemente, mais adaptativa e sustentável no tempo.

*Advogada, Mediadora de Conflitos Organizacionais pela Concadora – Alemanha, pelo Instituto Mediare – Brasil, com curso de especialização no Programa de Mediação da Harvard Law School e em Polarity Thinking na Polarity Partnerships. Fundadora da Interseções, Consultoria de gerenciamento de conflitos pessoais e organizacionais

Últimos comentários

Carregando o próximo artigo...
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2024 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.