Publicado originalmente em inglês em 08/09/2020
A Alemanha causou grande alvoroço com sua entrada no mercado de títulos verdes soberanos na semana passada, vendendo € 6,5 bilhões em papéis de 10 anos, bem acima do seu alvo mínimo de € 4 bilhões. Os títulos verdes são geralmente usados para levantar fundos para projetos de sustentabilidade climática executados pelo governo. A oferta inicial da Alemanha atraiu € 33 bilhões em ordens.
A emissão representou cerca de 10% dos títulos verdes soberanos mundiais em circulação, permitindo que o país atingisse seu objetivo de estabelecer uma referência mundial quase imediatamente. Berlim planeja uma segunda emissão de títulos verdes no quarto trimestre, capaz de fazer o total do ano alcançar € 11 bilhões, de acordo com o vice-ministro de finanças Jörg Kukies.
O governo alemão está equiparando seus títulos verdes aos papéis convencionais de mesmo vencimento, buscando melhorar a liquidez. A emissão de títulos verdes na semana passada coincide com uma emissão de 10 anos realizada em junho. Se o preço dos títulos verdes cair abaixo dos títulos convencionais, os investidores podem trocar os papéis.
Berlim também planeja variar os vencimentos, de cinco para doze anos, por exemplo, a fim de estabelecer uma curva de taxa de juros verde. Isso pode ser interessante principalmente para bancos centrais, que estão tentando montar uma carteira de ativos verdes.
Kukies, ex-banqueiro do Goldman Sachs, afirmou:
“A entrada extremamente bem-sucedida do governo alemão no segmento de mercado de títulos verdes mostra que a abordagem inovadora foi bem recebida por muitos grupos de investidores e sugere que o desenvolvimento de uma referência verde é de grande importância para o mercado de capitais”.
A expectativa de muitos analistas é que o sucesso da emissão alemã provoque uma abertura do mercado, já que Espanha, Itália, Áustria e outros países europeus devem seguir o exemplo de Berlim. A expectativa é que outros tomadores de empréstimo da Alemanha, como a fabricante de automóveis Daimler (DE:DAIGn), também recorram ao mercado de títulos verdes.
A Suécia estreou no mercado de títulos verdes soberanos na semana passada, vencendo SEK 20 bilhões, ou cerca de US$ 2,3 bilhões, na emissão de 10 anos. A Polônia foi pioneira no mercado em 2016, seguida da França, em 2017, com uma venda inicial de € 7 bilhões, além de outras emissões sucessivas, tornando-se a maior emissora de títulos soberanos verdes, com €27 bilhões.
O leilão mais recente de títulos franceses, com vencimento em 2039, foi de € 2,1 bilhões em julho, quando os papéis foram precificados com um rendimento de 0,31%, em comparação com 1,74% na emissão inicial de 2017.
Mas a Alemanha tem uma classificação de crédito de triplo A e, com a emissão pendente de títulos europeus para financiar o pacote de recuperação frente ao coronavírus de € 750 bilhões, os títulos alemães são o que há de mais próximo a um investimento sem risco, como os títulos do tesouro americano.
A emissão alemã tem um cupom de zero e foi precificada com um rendimento de -0,46%, um ponto-base mais ajustado do seu título convencional correspondente. Os participantes do mercado disseram que também diversificaram os investidores nos bunds, como são conhecidos os títulos do governo alemão, atraindo muitos players verdes pela primeira vez.
Houve certa objeção quanto ao uso das receitas provenientes dos títulos verdes, que não estariam completamente alinhadas à taxonomia de títulos verdes da União Europeia, mas o governo afirmou que seguiu os padrões internacionais, como os Princípios de Títulos Verdes da Associação de Mercados de Capitais Internacionais.
Berlim identificou € 12,7 bilhões em despesas verdes e prometeu manter um alto nível de transparência em relação à forma como as receitas serão gastas.