Os investidores que vinham acompanhando de perto a recuperação da General Electric (NYSE:GE) estão agora muito mais preocupados. A pandemia de coronavírus está pressionando ainda mais a precária posição de caixa da companhia, que é extremamente necessário para que essa gigante industrial volte a ficar de pé.
A General Electric alertou, na semana passada, que seus resultados do primeiro trimestre ficariam abaixo das suas previsões anteriores e retirou sua projeção financeira para todo o ano, citando os distúrbios e as incertezas causadas pela Covid-19.
A expectativa da GE agora é que seu balanço do primeiro trimestre fique significativamente abaixo da estimativa anterior de US$ 0,10 por ação. A companhia espera que o fluxo de caixa das suas operações industriais fique negativo em US$ 2 bilhões no trimestre encerrado em março.
Para superar essa severa crise econômica, que deverá ser a mais profunda em quase um século, segundo o Fundo Monetário Internacional, a GE declarou na segunda-feira que estava emitindo US$ 6 bilhões em novas dívidas como parte de um processo de reestruturação financeira. Novos títulos com vencimento no início de 2024 seriam usados para rolar dívidas de curto prazo.
Mas a decisão da GE de emitir mais dívida é sinônimo de mais notícias ruins para alguns analistas. Stephen Tusa, do JPMorgan, que corretamente previu os problemas da empresa em 2017 enquanto a demanda de seus produtos industriais colapsava, disse a clientes em nota que a GE era “a armadilha de valor mais cara que já vimos”.
Ele manteve sua recomendação neutra na GE e rebaixou seu preço-alvo de US$ 6 para US$ 5 por ação. O papel, que encerrou o pregão desta terça-feira cotado a US$ 6,93 por ação, desvalorizou-se mais de 37% neste ano. “Compreendemos o deslumbramento do simples gráfico da ação, que geralmente atrai o interesse dos compradores de valor", declarou Tusa, “mas, assim como o papel, as flutuações de câmbio externo estão negativas em +100%, ao mesmo tempo em que a alavancagem subiu”.
Contratempo da aviação
Antes da pandemia de Covid-19, que forçou os governos ao redor do mundo a trancar seus cidadãos, analistas de Wall Street estavam mais positivos em relação à retomada da empresa. O CEO da GE, Larry Culp, vinha reestruturando suas operações e tentando tirar a companhia de uma crise causada pela fraca demanda por seus equipamentos de geração de energia e problemas em sua unidade GE Capital.
A derrocada do valor das suas ações, iniciada em 2017 e que varreu US$ 200 bilhões em patrimônio, forçou a companhia a cortar seu dividendo trimestral a poucos centavos por ação. Para levantar caixa e saldar sua dívida, a GE vendeu ativos e saiu dos segmentos de petróleo e transporte.
Um dos grandes obstáculos para a recuperação da GE neste ano está vindo da divisão de aviação, que produz motores a jato para Boeing (NYSE:BA) e a Airbus (OTC:EADSF) e tem gerado fluxos de caixa positivos. Como a crise sanitária inviabilizou a atuação das companhias aéreas, a GE concedeu férias coletivas aos trabalhadores industriais de aviação nos EUA e demitiu cerca de 10% do seu quadro funcional de motores a jato no país.
A GE também enfrenta custos crescentes com aposentadoria, já que a queda das taxas de juros está afetando o plano de pensões da companhia, exigindo um investimento adicional de US$ 10 bilhões, se não for maior, de acordo com John Inch, analista da Gordon Haskett. Além disso, a participação de 36,8% da GE na gigante petrolífera Baker Hughes (NYSE:BKR) registrou uma desvalorização de US$ 6 bilhões no ano passado, enquanto os preços de energia despencavam.
Resumo
É muito difícil citar boas notícias para GE no atual ambiente, quando a economia industrial encontra-se parada. Essa situação faz com que a retomada da GE seja ainda mais complicada, tornando seus papéis uma aposta arriscada mesmo em níveis tão baixos.