- “Calcanhar de Aquiles” do gás natural parece ser uma produção acima de 100 bpc por dia.
- Analistas preveem um acúmulo de 94 bpc acima do nível sazonal nos estoques de gás dos EUA na semana passada.
- Leitura climática da semana passada foi de 60 graus-dia de refrigeração, levemente acima do padrão de 30 anos.
- Alguns analistas estimam preço de US$ 5,50 se não houver uma melhora nos estoques.
Em meio à forte queda desta semana para os níveis de US$ 6 de julho, o “calcanhar de Aquiles” do gás natural não parece ser a falta de demanda decorrente do início do outono nos EUA, que reduziu a necessidade de uso do ar-condicionado e, consequentemente, da queima de gás. Mas sua produção recorde acima de 100 bilhões de pés cúbicos (bpc) por dia, o que está pesando sobre o mercado e o sentimento dos operadores.
Alan Lammey, analista de mercados de gás da consultoria Gelber & Associates, de Houston, afirmou o seguinte:
“A demanda não é um problema, em vista das temperaturas mais amenas na maior parte dos EUA. Os volumes de produção de gás seco seguem na faixa de 99,5 bpc/d a 101 bpc/d, com uma possibilidade concreta de que o estoque de gás registre grandes injeções consecutivas nas próximas semanas.”
A preocupação de que o estoque suba mais do que o previsto está influenciando o mercado futuro do gás que, há apenas duas semanas, estava ao redor de US$ 9 no centro de distribuição de Henry da Bolsa Mercantil de Nova York.
Os gráficos sugerem que tanto os compradores quanto os vendedores devem manter a cautela nos próximos dias, declarou o analista técnico Sunil Kumar Dixit, do site SKCharting.com.
“A queda de ontem para US$ 6,56 no centro de Henry se deparou com o suporte dos compradores, na medida em que a mínima coincidiu com a média móvel simples de 200 dias de US$ 6,55, o que ajudou no fechamento de US$ 7,04.”
“Se houver um movimento sustentado acima da média exponencial de 5 dias de US$ 7,06, o gás natural pode superar a zona de resistência menor de US$ 7,30 a 7,77, antes de retestar a média móvel simples de 100 dias de 7,92.”
Mas Dixit também alertou que uma fraqueza abaixo da MMS de 200 dias a US$ 6,55 e da MME de 50 semanas a US$ 6,50 poderia abrir espaço para uma queda até a mínima de julho de US$ 5,32.
Enquanto o mercado aguarda mais uma atualização semanal da Administração de Informações Energéticas sobre o gás em estoque, analistas rastreados pelo Investing.com e a Reuters previam que as concessionárias norte-americanas provavelmente injetaram um volume de 94 bpc, acima do normal, nos estoques na semana passada.
Essa injeção para a semana encerrada em 23 de setembro se compara a um aumento de 86 bpc durante a mesma semana do ano passado e um aumento médio de cinco anos (2017-2021) de 77 bpc.
Na semana encerrada em 16 de setembro, as concessionárias adicionaram 103 bpc de gás nos estoques.
A previsão para a semana encerrada em 23 de setembro elevaria os estoques para 2,968 trilhões de pés cúbicos (tpc), cerca de 6% abaixo da média de cinco anos e 9,6% abaixo da mesma semana do ano passado.
De acordo com dados da Refinitiv, associada à Reuters, houve cerca de 60 graus-dia de refrigeração na semana passada, mais do que o normal de 30 anos, de 47 graus-dia de refrigeração, para o período.
O método graus-dia de refrigeração mede o número de graus que a temperatura média de um dia fica acima ou acima de 18º C.
Deixando de lado o aumento de estoques, do norte ao sul dos Estados Unidos, a falta de demanda pesou sobre os preços do gás, levando o Goldman Sachs (NYSE:GS) a prever o preço de US$ 5 para o contrato futuro na Nymex para 2023.
Dados analisados pelo Investing.com mostram que os níveis de estoque devem se aproximar de 3,5 bpc no início de novembro, embora o início do inverno possa registre um déficit de estoque de cerca de 150 bpc em relação à média de cinco anos.
No entanto, esse déficit pode se deteriorar ainda mais se outubro registrar temperaturas mais quentes do que a média, como preveem os modelos climáticos.
Caso a primeira quinzena de novembro registrar temperaturas acima do normal, tudo indica que o gás possa atingir ao redor de US$ 5,50 nas próximas oito semanas.
De acordo com Lammey:
“Levando em consideração o que parece ser uma quantidade considerável de destruição da demanda relacionada ao clima na Flórida e possivelmente em outras áreas do sudeste dos EUA, não há muito o que esperar de posições na ponta compradora”.
“Para o futuro, os preços futuros de gás da Nymex estão sendo controlados de forma mais dominante pelos vendedores, apontando em uma produção recorde de gás seco acima de 100 bpc/d, uma perspectiva de demanda de estação de transição que provavelmente produzirá injeções nos estoques de três dígitos, e o furacão Ian, que está se preparando para impactar negativamente a demanda de queima de energia na Flórida e em partes do sudeste dos EUA."
Aviso: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.