Ninguém duvida mais que este ano foi espetacular para o gás natural nos EUA. Mas, restando apenas 12 dias de negociação em 2018, o que o mercado quer saber não é mais o tamanho dos ganhos de dois dígitos no ano – que agora se aproximam de 40% – mas se o preço-chave de US$ 4,00 para o gás terá sustentação em janeiro.
A mudança de foco mostra a alta volatilidade que tomou toda a faixa de gás de inverno na Bolsa Mercantil de Nova York, desde o contrato com vencimento em janeiro – um dos dois meses mais frios restantes de todo o ciclo de inverno – até abril, período de meia primavera em que geralmente começa a haver uma queda na necessidade de aquecimento.
Scott Shelton, do setor de energia da corretora ICAP (LON:NXGN), em Durham, Carolina do Norte, afirmou que as recentes quedas no gás, que causaram “surpresa e pavor”, incluindo a desvalorização de 9% desta semana, podem ter chegado ao fim, à medida que o clima misto é substituído por um frio mais intenso.
Qualquer aumento de temperatura nas próximas semanas pode ser uma armadilha para os comprados em gás
Mas ele sugeriu que a capacidade do mercado de defender os preços acima do nível de US$ 4 por milhão de unidades térmicas britânicas (mmBtu) não era certa, pois qualquer aumento de temperatura nas próximas semanas poderia representar uma perigosa armadilha para os comprados no mercado.
Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação do Instituto de Gestão Energética de Nova York, sugeriu a mesma coisa quando apontou que o suporte técnico para o contrato de gás com vencimento em janeiro na NYMEX estava bem abaixo de US$ 4,00, a US$ 3,898 por mmBtu.
Em uma nota emitida na quinta-feira, Shelton, da ICAP, escreveu:
“É clara a pressão diante do mercado, pois os meses de janeiro/fevereiro e fevereiro/março também estão sob pressão, enquanto março/abril continuam se debatendo com a ideia de que apenas UMA semana quente em janeiro pode colocar tudo a perder.”
A força compradora no gás se enfraqueceu um pouco após um rali quase ininterrupto de meados de setembro a final de novembro.
Queda de dois dígitos nos preços do gás desde a semana passada
Tudo começou com uma desvalorização de quase 3% na semana passada, depois de duas semanas consecutivas de dados mostrando que não haveria surpresas nas reduções de estoque de gás para atender a demanda de aquecimento.
As vendas aceleraram nos últimos três pregões, provocando em uma queda acumulada de 9% na semana, depois que a Energy Information Administration (IEA), dos EUA, relatou, na quinta-feira, que houve uma redução de 77 bilhões de pés cúbicos (bpc) na semana encerrada em 7 de dezembro, em comparação com as expectativas dos analistas de um declínio de 84 bpc.
Dan Myers, da Gelber & Associates, consultoria de mercados de energia em Houston, Texas, observou que foi o primeiro conjunto de dados da EIA para a estação de inverno em que as reduções de estoque de gás ficaram abaixo da média de 5 anos.
Myers escreveu em um comentário divulgado na quinta-feira:
“A expectativa é que haja um aumento significativo de três dígitos nas retiradas de estoque, em razão do frio desta semana, mas um clima mais ameno afetará a demanda na próxima semana e colocará em questão a força das reduções de estoque no final de dezembro.”
Reduções semanais de estoque podem ficar abaixo das expectativas do mercado
Basicamente, o problema do gás natural neste ano tem sido este: a alta expectativa alimentada pelo mercado para as retiradas de estoque, que não têm sido nos níveis esperados.
E a principal razão para isso é uma só: produção recorde.
A EIA espera que a produção de gás natural nos EUA seja, em média, de 83,3 bpc por dia em 2018, um número recorde, com expectativa de aumento no próximo ano para 90 bpc em média.
É lógico supor que os volumosos fluxos tanto do gás primário quanto do gás gerado como subproduto das extrações de shale fizeram com que os estoques ficassem cheios até a boca. No entanto, esse não tem sido o caso, pois o consumo de gás pelos serviços públicos também tem aumentado neste ano.
Produção recorde de gás compensa dois ciclos de demanda pré-inverno
A primeira onda de demanda foi vista durante o verão nos EUA, quando as empresas de serviços públicos tiveram que queimar quantidades de gás acima do comum toda semana para atender os picos de uso de energia causados pelo calor extraordinário e o consequente uso de ar-condicionado. A onda seguinte veio quando uma geada inesperada na primavera gerou uma demanda prematura de aquecimento.
Os sucessivos ciclos de demanda fizeram com que o estoque total de gás ficasse em praticamente 230 bpc antes do início oficial da estação de inverno no dia 21 de dezembro.
O aumento das exportações de gás natural liquefeito também impulsionou a equação de demanda do gás natural neste ano. De aproximadamente 3 bpc por dia no ano passado, as exportações de GNL já atingiram quase 5 bpc até agora. A EIA espera que as exportações alcancem 9 bpc por dia até o fim do ano que vem, tornando os EUA o terceiro maior exportador de GNL, depois do Catar e da Austrália.
Mesmo assim, o mercado permanece atento aos números semanais de redução de estoque divulgados pela EIA, com quedas repentinas de preços caso a demanda fique abaixo do esperado em qualquer conjunto de dados emitidos pela agência.
Chirichella, do Instituto de Gestão Energética, declarou que havia expectativa de temperaturas acima do normal na maioria das principais regiões consumidoras de gás natural nos EUA nos próximos 8 a 14 dias. O analista concluiu:
“A previsão deve ser de demanda gerada por aquecimento bem abaixo do normal para esta época do ano. As previsões de tempo no curto prazo ainda continuam sendo o principal fator de direcionamento dos preços.”