Está cada vez mais arriscado apostar contra a alta do gás natural com a chegada do verão norte-americano.
O contrato futuro do gás negociado em Nova York superou a marca de US$ 9 pela primeira vez desde 2008, ficando a cerca de 60 centavos do alvo de US$ 10 que os investidores tanto desejam alcançar.
“Apesar de promessas de uma oferta mais abundante, o calor precoce e o risco de um forte verão esgotaram a paciência do mercado, fazendo-o correr para atender a demanda de curto prazo”, disseram os analistas da consultoria de gás Gelber & Associates, de Houston, em um email aos clientes da empresa.
A máxima de 14 anos de US$ 9,40 registrada nesta quarta-feira no centro de distribuição de Henry ocorreu antes da divulgação do relatório semanal de estoques de gás natural da EIA, agência de informações energéticas dos EUA, desta semana, aumentando as especulações sobre os números.
Fonte: Gelber & Associates
De acordo com o consenso dos analistas rastreados pelo Investing.com, as concessionárias devem ter injetado 89 bilhões de pés cúbicos (bpc) em estoque durante a semana encerrada em 20 de maio, após queimarem o necessário para geração de energia e refrigeração.
Essa seria a mesma taxa de injeção da semana anterior até 13 de maio, mas menor do que o acúmulo de 109 bpc visto durante a mesma semana do ano passado e do que a média de cinco anos (2017-2021) de 97 bpc.
Se as previsões dos analistas estiverem corretas, os estoques subiriam para 1,821 trilhão de pés cúbicos (tpc), cerca de 14,9% abaixo da média de cinco anos e 17,2% da mesma semana do ano passado.
Dados da Refinitiv, associada à Reuters, indicam que houve 54 graus-dia de aquecimento na semana, em comparação do um normal de 30 anos de 34 graus-dia de aquecimento para o período.
O método graus-dia de aquecimento mede o número de graus que a temperatura média de um dia fica abaixo ou acima de 18º C.
As previsões indicam que o calor será acima da média nos EUA neste verão, aumentando ainda mais as expectativas de demanda, segundo uma matéria da naturalgasintel.com.
“Ao mesmo tempo, devido aos trabalhos de manutenção, a produção nos EUA está relativamente anêmica”, disse a matéria, acrescentando que a produção manteve-se em torno de 95 bpc/dia nesta primavera local, muitas vezes caindo para 92 bpc, e longe dos 97 bpc registrados no pico do inverno passado.
A Bespoke Weather Services, em seu próprio estudo da situação, disse que a menor produção de gás pressionou a oferta dos EUA e fortaleceu um mercado que poderia encerrar em baixa a atual temporada de injeção de gás em estoque para o próximo inverno.
A produção “permanece distante das máximas, enquanto os volumes de GNL saltaram para mais de 13 bpc”, disse a Bespoke, referindo-se ao gás natural liquefeito.
“As queimas para geração de energia continuam sólidas... O tema principal continua sendo a necessidade de vermos ganhos significativos e sustentáveis na produção, a fim de garantir que alcancemos um nível confortável de estoques nesta primavera”.
Apesar da alta nas queimas de gás, a demanda para refrigeração caiu nos últimos dias, após o calor fora de época e o forte consumo de gás no início de maio.
Para esta semana, dados do Serviço Meteorológico Nacional mostraram máximas abaixo da média e chuvas frias na região central dos Estados Unidos.
As máximas na quarta-feira variaram de 10 a 21 ºC nas regiões das Planícies superiores, Meio-Oeste e Grandes Lagos. As condições amenas também se estenderam para a importante região de consumo de gás no Nordeste.
Então, o que tudo isso significa, em termos de preços?
“A negociação consistente acima de US$ 9 acumulará força para alvos maiores de alta a US$ 9,80 e 10,30”, disse o analista técnico Sunil Kumar Dixit. Segundo o analista:
“Os estocásticos semanal e mensal dão forte suporte para uma continuação maior até as máximas maiores de US$ 11,00 ou mais”.
Fonte: Gelber & Associates
Mas a alta de 147% praticamente sem paradas em Nova York neste ano pode acabar pesando no bolso dos consumidores e concessionárias, caso a ascensão continue nesse ritmo. Isso aumentaria a pressão para substituição do combustível, segundo analistas da Gelber & Associates. Segundo a empresa:
“À medida que os preços se aproximam da paridade com o carvão dos Apalaches Centrais, entre cerca de US$ 9,40-10,20/mmBtu (levando-se em conta a variação de eficiência e custos de transporte), os compradores podem se convencer de que o gás natural não é mais a opção econômica.”
“Com frequência, esse preço de substituição atuou como teto para as altas anteriores e, ainda que a capacidade de troca de combustível tenha sido bastante reduzida nos últimos anos, ainda existe cerca de 1 bcf diário de substituição para interromper o momento atual.”
Qualquer substituição pode diminuir o movimento de alta no centro de distribuição de Henry, até que novos compradores apareçam e promovam o rompimento da resistência dos dois dígitos.
Muitos estão apostando que o mercado alcançará o pico de 2008 acima de US$ 13, à medida que a temperatura for aumentando neste verão e forçando os americanos a ligar seus aparelhos de ar-condicionado na potência máxima. Qualquer demanda extraordinária de gás natural liquefeito da Europa nesse período pode exacerbar ainda mais o rali.
Mas a volatilidade de curto prazo é sempre uma preocupação no centro de Henry. Embora o gás futuro registre alta de 25% em maio, estendendo os ganhos consecutivos de 28% em abril e março, ainda pode reverter se houver uma melhora no estoque no curto prazo.
O analista técnico Dixit disse que havia uma chance de o mercado recuar, caso não conseguisse superar o teto de US$ 9,50 com convicção.
“A ação dos preços na quarta-feira indica que os investidores estão hesitantes no topo de US$ 9,40”.
“Embora os estocásticos semanal e mensal estejam fortes, a métrica diária indica possível lateralização entre US$ 9,40 e 8,80.”
“A perda de US$ 8,80 pode abrir espaço para um teste da região entre US$ 8,10 e 7,60", concluiu.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.