tan tan taran tan tan tan tan … tan tan taran tan tan tan tan … tan tan taran tan tan tan tan tan tan tan
Não eu não estou maluco. Só estou curtindo aqui esse comercial da GAP dos anos 90, nostalgia pura nessa música.
Apesar de americana a Gap (NYSE:GPS) se utilizou da música é do grupo inglês Depeche Mode que é de 1981, mas acredito que você tem mais de 25 anos pelo menos, provavelmente conhecerá. O fato é que ouvir essa música e pensar na GAP é nostalgia pura para mim.
Cara é tipo uma caixa do tesouro de memórias muito diferentes. Sugiro que ao ler esse texto você coloque o seguinte no Youtube: hits 90’s! Só cuida pra não chorar ou rir demais.
Mas enfim voltando, o moletonzão da GAP aí no meio não é por acaso. Para um jovem ou um adolescente nos anos 90 tinha um certo status vestir um desses. Significava que você, ou seus pais ou alguém teve acesso a um produto importado. Algo que não era tão fácil de achar no Brasil!
E isso já nos sugere algo muito importante na análise de qualquer empresa de varejo vestuário: o poder da marca! Sim a marca é importante pois é uma força motriz para aquilo que é fundamental na maioria das empresas mas ainda mais forte numa empresa de varejo, que são as vendas! Empresas de varejo vestuário operam num mercado amplamente concorrencial, com várias lojas e marcas querendo te conquistar, logo suas margens são baixas. Num mercado forte concorrencial com margens baixas, o jeito é girar! Ganhar no giro, vender muitas quantidades para assim obter o retorno sobre seu capital.
E assim temos 3 características do setor de varejo vestuário:
- O poder da marca;
- Margens baixas pela forte concorrência;
- O giro, a venda como fundamental para o retorno.
A GAP é assim?
A música do comercial da GAP dizia:
I go out of my head
I just can’t get enough
de fato eles queriam que você não se sentisse saciado ou feliz tendo apenas um moleton GAP. A ideia era te vender o boné, a calça jeans, a jaqueta jeans, etc. Exatamente por essa necessidade de vender mais e mais.
Respondendo a pergunta acima, sim a GAP possui uma margem líquida muito apertada, mas em linha com o seu segmento. Atualmente para cada US$ 100 em vendas algo como US$ 5,35 viram lucros (5,35% de margem). Abaixo o gráfico de margem líquida histórica da GAP.
Nos “áureos” tempos a empresa chegou a ter margem líquida (de lucro) de 10%, mas hoje os tempos são outros e por isso cabe entender quem é a GAP hoje?!
A GAP hoje
Hoje a marca GAP não é sua marca mais importante. O quadro abaixo mostra que em termos de vendas a OLD NAVY é a mais representativa em termos de vendas com ~46%, seguido pelas lojas GAP e depois por Banana Republic e tem ainda a Athleta que é uma marca de roupas de ginástica feminina.
A Old Navy é uma loja de departamento pra família. Surgiu como uma versão mais barata da GAP ainda na década de 90. Eles oferecem moda masculina, feminina e infantil, algo beeeeemmm mais standard do que a GAP itself. Talvez por isso veio ganhando espaço.
Na verdade o que acontece é que a GAP meio que saiu de moda, wow!!! Isso é perigoso em se tratando de moda!! Ficou tipo Axl Rose no passado e atualmente?
Aí acho que já é maldade, né? Zoeira demais, mas apesar de todo carinho, a nostalgia parece não estar sendo suficiente para que as vendas. A linha vermelha alinhada a direita mostra que a GAP (lojas GAP) vem demonstrando queda nas vendas. Ainda que a velocidade da queda tenha caído nos últimos anos.
Em compensação a Old Navy vem vendendo bem. Mostrando crescimento nos últimos anos inclusive com aceleração desse crescimento nos últimos anos.
Então apesar dos pesares a GAP enquanto empresa vem conseguindo criar mecanismos de defesa contra essa aparente defasagem de vendas de sua marca principal. Gráfico abaixo mostra a evolução de suas receitas desde 2008 mostrando períodos de crescimento (barras verdes abaixo). Ou seja, seu crescimento tem sido bastante errático, mas houve algum crescimento.
Única questão é que este crescimento ficou bem aquém dos seus pares, ou das empresas comparáveis. Ou seja ela cresceu menos que a média!
Em geral parece que o “grande culpado” por isso foi o elevado número de lojas em shoppings centers e a redução de fluxo que esses tem observado nos últimos anos. Soma-se a isso obviamente, coleções equivocadas, uma de suas marcas a Banana Republic não engrenou.
E isso bateu também em seus lucros. A GAP não tem conseguido apresentar crescimento em seu lucro, o qual oscilou bastante ao longo dos últimos anos. E obviamente que isso pode ser visto nas suas margens de lucratividade que mostraram pouca estabilidade. Concorrência, advento do e-commerce, mudanças em padrões de consumo, coleções erradas. Enfim muitos podem ser os motivos, mas dá pra ver que suas margens tem oscilado bastante. Os gráficos abaixo mostram a evolução do lucro e Retorno sobre o patrimônio líquido.
E suas ações saíram de moda?
Não por acaso, nos últimos anos as ações da GAP não tem estado tão na moda assim. O gráfico abaixo mostra que nos últimos 5 anos as ações da empresa apresentaram queda de 25% ante alta de 65% do S&P (linha preta) e 25% do XRT (S&P Retail ETF – linha vermelha).
O que contrasta com o desempenho da ação quando a empresa era sucesso de vendas e objeto de desejo dos jovens nos anos 90! Abaixo o gráfico de 25 anos da ação em comparação ao índice. Quem comprou as ações em 93 e carrega até hoje acumula um ganho de 530% bem em linha com o índice.
Overview mais positivo no papel
Ops! Uma pausa. Vem cosa boa aí. Cara na minha play list dos anos 90 aqui começou a tocar Eiffel 65 – Blue (Da Bee Dee). Façam um favor pra mim, escutem isso!
Essa música é um prenuncio de que vem coisa boa aqui também! Um cenário mais “blue” como da música acima para a GAP e seus acionistas! O ponto é que apesar de fraca performance da ação, a GAP não tem ficado parada e isso inclusive traz certo otimismo para alguns analistas de mercado.
- Online. Face a um cenário novo e disruptivo a GAP engajou esforços no mercado online e hoje 20% de suas vendas são no canal online. Abaixo a divisão de receitas por canal. Veja a evolução do Ecommerce.
- Reestruturação. A empresa passou por uma reestruturação. O ícone da moda dos anos 90 tem tentado se reinventar. A Old Navy ganhou relevância e a GAP planeja a abertura de 60 novas lojas. Além disso, eles planejam fechar 200 lojas da GAP e Banana Republic até 2020, as quais não estão performando, focando naquelas que de fato geram retorno.
- Dividendos. Apesar dos pesares a empresa incrementou bastante seu pagamento de dividendos nos últimos anos. Com um nível de retorno elevado e confortável posição de caixa a empresa passou a pagar mais dividendos e realizar recompras de ações o que incrementou o retorno aos acionistas. Nos últimos 5 anos a taxa de crescimento dos dividendos foi de 15% com o payout atingindo mais de 40% dos seus lucros. Gráfico abaixo mostra a evolução do pagamento dos dividendos por ação ao longo dos anos, o dividend yield, as recompras de ações e seu payout (o quanto do lucro ela pagou.
- Valuation Relativo. Se por um lado um investidor mais criterioso pode questionar seu fraco crescimento nos últimos anos, seus elevados dividendos, sua forte posição de caixa e múltiplos (valuation relativo) menores que a indústria ou as empresas comparáveis, podem atrair outros investidores. O quadro abaixo compara os múltiplos Preço/Lucro, Preço/Vendas, Preço/Valor de patrimônio e Preço/Fluxo de Caixa. Com exceção do múltiplo Preço/Valor de Patrimônio, nos demais suas ações se mostram mais baratas que a média.
Ai ai os anos 90 (suspiros). Bons tempos. Assim seguem os acionistas de GAP. Nostálgicos que só eles, mas também os que se arriscam no ativo, torcendo para que as medidas atuais surtam efeito e suas ações voltem aos retornos do passado.