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Gambito do CZ: Como o CEO da Binance aproveitou a quebra da FTX?

Publicado 09.11.2022, 16:38
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Quem disser que imaginava presenciar o que estamos vivenciando nesses últimos dias de mercado cripto está mentindo. Aliás, se tem uma coisa que era pouquíssimo provável de se esperar, era uma possível compra da FTX pela Binance após a corretora de Sam Bankman-Fried se mostrar extremamente alavancada e frágil, sustentando suas operações e seu balanço patrimonial de maneira irresponsável com base em ativos ilíquidos. Em síntese, bilhões de dólares em ativos da Alameda Research estavam vinculados ao token da FTX, o FTT.

Basicamente, os rumores são de que a corretora emitia tokens FTT discricionariamente e emprestava para a Alameda Research. Esta, por sua vez, tomava empréstimos em stablecoins pareadas ao dólar utilizando os tokens FTT como garantia. Feito isto, enviava os dólares de volta para a FTX e repetia o processo indefinidamente. A dinâmica é muito mais entranhada e complexa do que isto, claro. Mas, ao que tudo indica, temos um novo caso muito parecido com o da Celsius neste aspecto.

E há evidências de que a iminência da insolvência da Alameda Research possa ter vindo até muito antes do que se imagina. Um estudo realizado pelo analista Lucas Nuzzi mostrou que no dia 28 de setembro 173 milhões de tokens FTT avaliados em US$ 4 bilhões se tornaram ativos na rede. Naquele mesmo dia, mais de US$ 8,6 bilhões em FTT foram movidos on-chain, configurando a maior movimentação de FTT em sua história e uma das maiores movimentações diárias de tokens ERC20 já registradas pela Coin Metrics.

Ao analisar as transferências, observa-se que uma delas em específico foi responsável por interagir com um contrato relativo ao ICO do token FTT. Este contrato de 2019 liberou automaticamente as 173 milhões de FTT do ICO do token. O destinatário? A Alameda Research. Até aí, pode não parecer nada demais dado o fato de que a Alameda participou do ICO e de que ambas são publicamente e intimamente ligadas.

Acontece que a Alameda, após isto, enviou a totalidade do saldo, avaliada em US$ 4,19 bilhões, para o endereço do criador do token FTT, controlado obviamente por alguém dentro da FTX. Ou seja, em outras palavras, a Alameda basicamente “investiu” US$ 4,19 bilhões em FTT para enviá-las de volta à FTX, o que pode sugerir que já podia estar em dificuldades financeiras no mercado desde o crash da Terra Luna e vir se mantendo viva e capaz de garantir seus fundings da FTX somente em função dos 173 milhões de FTT como colateral. Reafirmo que esta é apenas uma hipótese.

O fato é que a companhia mudou seus termos de serviço por trás dos panos após o crash do mercado visto em junho, estabelecendo que nenhum ativo digital, moeda fiduciária ou dinheiro eletrônico mantido nas contas dos usuários contava com qualquer proteção de seguro.

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Em contrapartida, vale lembrar que no mesmo contexto de baixa do mercado onde diversas empresas começavam a quebrar, Alameda e FTX passaram a comprar diversas dessas companhias insolventes, além de financiar fortemente campanhas políticas. Sam Bankman, CEO da FTX, entrou na lista dos maiores doadores das eleições midterm dos Estados Unidos.

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Uma tentativa de construir uma imagem sólida de que estavam saudáveis financeiramente e agiam de maneira responsável? Talvez, essa é uma outra suposição. Talvez um lobby mais direto por respaldo político mais ideologicamente alinhado com o que acreditava ser melhor para o futuro da regulação do mercado e da própria corretora? Também pode ser.

O fato é que Changpeng Zhao, CEO da Binance, “mordido” pelas supostas tentativas de funcionários da FTX em minar sua corretora para agentes regulatórios nos bastidores, observando os indícios de falta de estrutura nas operações da FTX/Alameda, aproveitou-se do momento para movimentar as peças no tabuleiro desse xadrez concorrencial e tentar dar cheque-mate na concorrente. Fez isso da seguinte forma:

  1. Binance, vendo o contexto de mercado, implementa taxa 0, atraindo usuários da FTX e diminuindo a receita da concorrente.

  2. CZ declara que liquidará integralmente posição em FTT, ativo que detinha em grande volume desde sua saída do equity da FTX no ano passado, evidenciando os problemas de iliquidez e alavancagem de FTX e gerando uma “corrida ao banco” que faz o preço do ativo despencar.

  3. FTX incapaz de lidar com rombo no balanço

  4. CZ firma carta de intenção no intuito de comprar a FTX.

Aqui, vale o alerta sobre o ponto “4” de que, a despeito do grande fluxo de disseminação da informação de que “A Binance comprou a FTX”, isto ainda não é verdade. O que vimos foi a assinatura de uma Carta de Intenção não-vinculante (Non-Binding Letter of Intent) com o intuito de adquirir a integralidade da FTX. É possível que órgãos regulatórios fiscalizem a operação e investiguem questões relacionadas a formação de monopólio ou algo nesta linha. Esta seria, a meu ver, um dos principais fatores que poderiam melar a negociação.

As últimas informações, na realidade, dão conta de que o rombo financeiro pode ser tão grande que a Binance tenha, inclusive, perdido o interesse na negociação após checar os documentos. Por sinal, até o site da Alameda Research já está fora do ar e grande parte da equipe jurídica e de compliance da FTX deixaram a empresa.

Vale o alerta também de que, entre os ativos constantes no balanço patrimonial da Alameda, uma parte significativa era composta por tokens SOL bloqueadas. Amanhã, no entanto, US$ 1 bi em SOL serão destravados e podemos já estar vendo movimentações muito fortes de um mercado extremamente manipulado. Observamos o preço do ativo subindo com força nesta manhã de quarta-feira, o que nos levanta a seguinte hipótese do que pode estar sendo feito:

  1. Alameda enviando dólares para corretoras centralizadas

  2. Configurando ofertas de SOL a preços altos spot

  3. Usando os dólares para abrir fortes posições de long em perpétuos

  4. Forçar os apostadores de baixa a fechar suas posições

  5. Preencher as ofertas no mercado spot

Luz vermelha ligada no mercado cripto. A queda repentina causada por FTX e Binance é dolorosa para toda a indústria e significa menos confiança dos investidores no mercado de criptomoedas como um todo, pressionando regulamentações mais fortes ao redor do mundo. Indústria essa que vê, a partir de agora, uma Binance com cada vez menos concorrência e cada vez mais dominância de mercado. Perdem todos, ganha o CZ.

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