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Futuro das criptomoedas: Operação Choke Point 2.0 ou ruptura do sistema global?

Publicado 20.03.2023, 14:11
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Estariam os Estados Unidos utilizando o setor bancário para organizar uma repressão generalizada e sofisticada contra a indústria cripto? Esta é a tese do sócio da Castle Island Ventures, Nic Carter, que cunhou o termo “Operação Choke Point”, remontando a um programa pouco conhecido da Era Obama, para nomear o suposto crackdown orquestrado pelo governo norte-americano. Ou o que estamos vendo são “apenas” rupturas do sistema financeiro global que se mostra ineficaz em operar sem se “auto-alavancar”?

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Que as criptomoedas apresentam preocupações para os setores governamentais não é segredo, principalmente após os colapsos do ecossistema Terra Luna e sua stablecoin algorítmica, bem como de empresas centralizadas também ligadas ao setor, como Voyager Digital, Celsius Network, Three Arrows Capital e a famigerada corretora FTX. Preocupações justas em alguma medida, diga-se de passagem. Mas Nic vai além do que está posto.

De acordo com ele, o governo Biden poderia estar executando uma ação coordenada cuja abrangência se estende por várias agências regulatórias com objetivo de desencorajar os bancos a negociar com empresas de criptomoedas, além de impossibilitar que empresas nativamente crypto consigam obter licenças bancárias, sufocando de vez o setor.

Deixado de lado o caráter subjetivo da afirmação, que pode ser entendido como conspiratório, de fato sabemos que o acesso ao sistema bancário onshore sempre foi um desafio para estas empresas. Ainda hoje, startups crypto enfrentam dificuldades para encontrar bancos que as atendam. Foi inclusive por este motivo que stablecoins como a USDT, da Tether, tornaram-se tão populares: por facilitar a liquidação fiduciária enquanto o sistema bancário tradicional não se mostrava disponível.

Mas será que essa tese se sustenta? Faz sentido haver um conluio entre membros do Congresso, FED, DFIC, OCC, DoJ e agências regulatórias? Talvez seja impossível responder diretamente a estas perguntas, então vamos recapitular alguns dos principais eventos relacionados aos bancos e temas subjacentes das últimas semanas, deixando que o leitor formule sua própria opinião:

  • 06/12/2022: Os Senadores John Kennedy, Roger Marshall e Elizabeth Warren enviaram uma carta ao banco Silvergate repreendendo-o por fornecer serviços à FTX e Alameda Research e criticando-os por não relatarem atividades suspeitas associadas a estes players.

  • 07/12/2022: Signature Bank anuncia sua intenção de reduzir pela metade os depósitos atribuídos a clientes crypto. Ou seja, houve um anúncio de que devolveriam o dinheiro aos clientes e fechariam suas contas posteriormente, movimento que fez os depósitos crypto do supracitado banco saírem de US$ 23 bilhões para US$ 10 bilhões.

  • 03/01/2023: FED, DFIC e OCC divulgam uma declaração conjunta sobre os riscos para os bancos envolvidos com criptomoedas. Apesar de não proibirem explicitamente que estes entes possam manter e negociar cryptos com seus clientes, desencorajam fortemente de fazê-lo sob o pretexto de “segurança e solidez”.

  • 09/01/2023: Metropolitan Commercial Bank anuncia o encerramento de seu braço ligado a criptoativos. Além disso, ações da Silvergate caem para US$ 11.55 em uma onda de corrida bancária e medo de insolvência.

  • 21/01/2023: Como o Signature Bank reduziu sua exposição aos mercados de ativos digitais, a Binance anuniou que o supracitado banco só aceitaria transações de usuários de mais de US$ 100.000

  • 27/01/2023: FED nega pedido do Custodia Bank para ingressar membro do sistema do Federal Reserve, citando riscos de segurança e solidez. No mesmo dia, o FED de Kansas City também negou o pedido do Custodia Bank para ter uma “master account”, o que lhe daria capacidade de usar serviços de pagamento no atacado e manter reservas diretamente com o FED.

  • 27/01/2023: Ainda no dia 27, o FED emitiu uma declaração desencorajando os bancos de manter criptoativos ou emitir stablecoins, além de ampliar sua própria autoridade para cobrir bancos credenciados pelo estado e não-segurados pelo FDIC (“non-FDIC insured state-chartered banks”), o que foi visto como uma reação às “Wyoming Special Purpose Depository Institutions (SPDIs) como é o caso do Custodia Bank, que pode manter cryptos juntamente de moedas fiduciárias para seus clientes.

  • 27/01/2023: O National Economic Council divulgou uma declaração desencorajando fortemente os bancos de realizar transações com criptoativos diretamente, ou de manter exposição a depositantes crypto.

  • 02/02/2023: Unidade de fraude do Departamento de Justiça anuncia uma investigação sobre o Silvergate em relação às suas negociações com FTX e Alameda.

  • 07/02/2023: A declaração feita em 27 de janeiro pelo FED é inserida no registro federal, transformando-a em regra final, sem revisão por parte do Congresso e nem período de aviso e/ou debate público.

Os exemplos são infindáveis e se estendem até o presente momento. Podemos ver que, embora não haja um banimento expresso – e nem precise - em suma, os bancos que recebem depósitos de crypto dos seus clientes, que emitem stablecoins e que se envolvem na custódia destes ativos, vêm enfrentando um ataque intenso dos reguladores.

Mais recentemente, no dia 08 de março, vimos a liquidação do Silvergate Bank. Já o Silicon Valley Bank (SVB), dois dias depois, tornou-se o maior banco americano a quebrar desde a crise de 2008, sendo fechado pelos reguladores no dia 10. O Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) assumiu a empresa controlada pela SVB Financial que, por sua vez, entrou hoje (17) com pedido de recuperação judicial. Por fim, o Signature Bank foi fechado pelos reguladores estaduais no último dia 12.

Temos que convir que os recentes acontecimentos reforçam a tese. Por que? Bem, digamos que todos serviam a clientes crypto. O Silvergate, considerado o maior apoiador de empresas do ramo, atuava para diversas corretoras e operava 24/7. Enquanto isso, o SVB era especializado no atendimento a empreendimentos de tecnologia e custodiava, por exemplo, parte do capital da Circle, emissora da stablecoin USDC, entre diversos outros players.

Já o Signature Bank, apesar de não ser exclusivamente um banco crypto e também ter uma grande participação em empréstimos imobiliários e serviços de escritórios de advocacia, durante a “bull run” ocorrida na pandemia, se tornou uma das principais instituições a adotá-las, detendo US$ 10 bilhões em depósitos até janeiro de 2021. Eric Howell, um dos executivos, gabou-se na época de que o banco era “um jogador proeminente naquele espaço.”

Changpeng Zhao, CEO da Binance, compartilha dessa mesma tese e acredita não ser por acaso que os bancos quebrados e, posteriormente intervidos pelo FDIC, tenham sido justamente estes 3 ligados a criptomoedas. CZ apagou o tweet posteriormente. O fato é que há uma série de indícios de que o que estaríamos vendo é um enforcamento do fluxo financeiro, fechando os bancos que servem de ponte para o mundo crypto e, assim, minando a imagem das stablecoins. Talvez um cenário perfeito para implantação das CBDCs? Pode ser que sim.

E uma ruptura do sistema bancário tradicional? Faz sentido?

Uma outra linha de pensamento é a de que o que estamos vendo são realmente rupturas do sistema financeiro global, que não se mostra mais capaz de operar sem alavancar a si mesmo e acelerar a inflação. Nesta hipótese, estes três primeiros bancos seriam apenas o início de um efeito dominó, o que pode gerar um medo generalizado e uma perda de confiança no sistema tradicional, movimento ainda mais impulsionado pelas clássicas “corridas aos bancos” que vem ganhando forma.

Esse cenário de ameaça à ordem social e econômica praticamente obriga o governo a recorrer à impressão e injeção de dinheiro “fácil” na economia, mesmo que isso afete negativamente a inflação, dando “bailout” nos bancos afetados e, na outra ponta, reforçando ainda mais a tese da necessidade por criptomoedas como o bitcoin.

E você? Em qual tese acredita? Stablecoins se enfraquecendo à medida que os Estados Unidos tentam assumir o controle dessa fatia do mercado com um CBDC? Neste cenário, uma saída seria migrar para criptomoedas sólidas como o BTC. Ou acredita na segunda tese, onde o dólar vai continuar inflacionário e o mercado vai entrar em novo ciclo de alta à medida que mais dinheiro fácil é injetado? Neste cenário, uma boa saída também seria estar posicionado em criptomoedas sólidas como o BTC. O futuro é um só e é inevitável.

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