Até recentemente, o consenso dominante normalmente descartava o mercado de criptomoedas, classificando-o como uma grande bolha. No entanto, conforme recentemente observado, com cada vez mais grandes nomes de agentes financeiros começando a negociar e investir em bitcoin e suas moedas digitais irmãs, e mesmo alguns recuando de seu desdém público inicial dessa classe de ativos, não é surpresa alguma que corporações, bem como Wall Street, estejam agora mais concentradas na lucratividade potencial de criptomoedas e sua tecnologia de base, a blockchain.
A crescente atividade de fusões e aquisições envolvida diretamente neste espaço sinaliza que, de fato, a atenção é dada. E, embora em alguns casos, o que primeiro parece ser a consolidação do mercado também pode se tornar o próximo passo no fortalecimento dos agentes já existentes.
No final de fevereiro, a Circle, startup apoiada pelo Goldman Sachs cujo enfoque são pagamentos móveis e criptomoedas, anunciou ter adquirido a corretora Poloniex por US$ 400 milhões. "Estes mercados ainda estão engatinhando, mas possuem grandes promessas", afirmou Jeremy Allaire, cofundador e diretor-geral da Circle, à CNBC. "Haverá uma quantidade enorme de criação de valor".
De acordo com a CNBC, US$ 1,06 bilhão foram "inseridos na criptoeconomia em 2017". No final de fevereiro de 2018, US$ 323 milhões em investimento de capital já haviam sido gastos.
No início de abril, a Coinbase, corretora de moedas digitais com sede em São Francisco, teve destaque nas notícias ao adquirir a carteira móvel de ethereum Cipher Browser e earn.com, uma rede social que permite aos usuários obter e gastar bitcoins. Além disso, no início dessa semana, um tuíte da Cipher Browser indicou que a Coinbase irá integrar suas funcionalidades ao navegador móvel Toshi, de propriedade da Coinbase.
Entusiastas e investidores de criptomoedas observaram o aumento na atividade de fusões e aquisições. Um deles tuitou:
O que agentes do setor de tecnologia pensam? Gaurang Torvekar, diretor-geral e cofundador da rede social descentralizada Indorse, acredita que o setor de criptomoedas está à beira de um aumento nas fusões e aquisições:
"Francamente, fusões, aquisições e investimentos fazem sentido para grandes projetos de ICOs que possuem milhões de sobra. Em termos de tecnologia, fusões e aquisições auxiliam na aceleração do tempo de entrada no mercado, ao passo que também aumentam a comunidade da própria empresa e a base de usuários cresce muito.
Vários investidores e influenciadores do setor de blockchain com quem falamos concordam. Torvekar aponta recente aquisições notáveis incluindo o Monex Group do Japão, uma das maiores corretoras on-line do país, que ontem afirmou ter concluído a aquisição da Coincheck, corretora de criptomoedas hackeada, e a CanYa, que hospeda um mercado de serviços, recentemente adquirida pelo site de financiamento coletivo Boutysource.
Além disso, há protocolos como EOS, NEM, e NEO que concederam direitos ou fundos diretos para recompensar e ajudar empresas que estão trabalhando em seus protocolos ou quadros de tecnologia.
Robert Gaskell, diretor operacional do Pillar Project, que está desenvolvendo uma carteira de criptomoedas e tokens, explica que, com mais de 675 empresas de tokens atualmente listadas no site CoinMarketCap, está claro que muitos projetos inovadores estão em andamento, com muitos mais ainda por vir. Portanto, é inevitável esteja para acontecer.
"Alguns projetos no espaço das criptomoedas já foram adquiridos, ou estão em processo de aquisição, por grandes grupos diretamente de dentro do setor ou fora dele. A atividade de fusões e aquisições irá acelerar ao longo do tempo à medida que mais projetos amadureçam, comprovem a oportunidade de mercado e mostrem que sinergias podem ser realizadas".
Conforme o espaço continua a amadurecer, muitos especialistas veem mais empresas tentando entrar e capturar a participação percebida de mercado observada ou liderança imaginada ao comprar outras empresas ou equipes. Jason English, vice-presidente de marketing de protocolo da Sweetbridge, afirma que a prática de adquirir empresas devido ao que possuem em termos de propriedade intelectual e/ou talento não irá acabar. De fato, isso talvez irá gerar algum êxito a quem atenda as necessidades de verticais específicos do setor como redes fechadas e privadas de negociação para determinadas instituições.
Isso não será tão eficaz para criar protocolos econômicos realmente descentralizados e abertos que irão conduzir o futuro. Em ecossistemas descentralizados, os projetos ainda irão precisar de investimento, mas a tendência irá movê-los em direção a uma abordagem mais participativa: colaboração e apoio de equipes trabalhando na direção de metas semelhantes. Os projetos vencedores podem ainda unir forças ou se fundirem de forma diferentes - e utilizar criptomoedas como um incentivo para alinhar resultados positivos ao sucesso de consumidores em vez de valores para acionistas ou estratégias de saídas".
De acordo com Aleksei Antonov, cofundador da SONM, há atualmente duas coisas acontecendo abaixo do radar, logo, raramente percebidas por qualquer pessoa fora do setor. Como ele vê, em primeiro lugar, o valor e a sagacidade financeira das empresas na criptoesfera no ano passado dispararam. Como resultado, startups que estavam há apenas seis meses na rodada A de financiamento ou em um ICO poderiam contratar equipes inteiras de profissionais ou contratar tecnologias necessárias a quase qualquer preço.
Em segundo lugar, e possivelmente de forma mais significativa para o futuro da classe de ativos e da tecnologia blockchain, em sua visão, projetos de criptomoedas já estão participando em fusões e aquisições, mas não na forma tradicional de capital de risco. Startups de blockchain, afirma ele, estão conectadas umas as outras através de tokens e de participação de maneiras muito mais intrincadas do que parece inicialmente:
"Após angariar fundos através de um ICO, projetos então os investem em outros ICOs, em participação e tokens negociados em bolsa alguns meses depois. Um projeto que angariou US$ 10.000.000 no início de 2017 certamente investiu em pelo menos 10 ou mais projetos até o final do ano, buscando lucros adicionais e protegendo os riscos tecnológicos ao comprar ações de um concorrente ou de uma empresa complementar".
Tudo isso é muito bom para as moedas digitais e para a tecnologia que as sustenta.