Tempos diferentes, mesmas histórias
As causas de cada bull market podem até ser distintas, mas suas consequências são sempre parecidas.
Essa euforia dos agentes, a falta de mensuração de risco com foco somente em retorno e a infundada ideia de que é possível enriquecer em um piscar de olhos...
Tudo bastante característico, mas tem um elemento que é interessante: a entrada de novos fundos na indústria.
Esse é um fenômeno bastante típico. Em mercados de alta, o nascimento de novas assets é bastante frequente, com muitos gestores aproveitando o apetite dos investidores em tomarem risco para captar recursos.
Entretanto, com o advento das plataformas digitais, acredito que esse movimento tenha se intensificado ainda mais. No fim do dia, elas se propõem a ser um canal de distribuição eficiente.
Ao contrário de antigamente – quando era necessário convencer grandes investidores institucionais a investirem – a evolução do mercado da pessoa física e a presença de corretoras com escalabilidade têm se tornado cada vez mais um campo fertíl para o nascimento de novas gestoras.
Isso tudo parece fabuloso e, assim como a entrada de novas empresas na bolsa ajudam o mercado, a chegada de novos gestores cria novas opções para a gente investir.
Todavia precisamos ter bastante cuidado, principalmente com gestoras recém-criadas.
Até porque nem tudo são rosas. Muitas dessas novas gestoras se tornam conhecidas através de um jogo um tanto quanto perigoso…
Independência ou morte
Eu acho ótimo esse advento de plataformas, mesmo já tendo criticado abertamente algumas práticas – como a criação em massa de fundos de espelho.
Entretanto, ao entrar nas plataformas de fundos, qual a informação que os investidores têm disponível sobre os fundos? Os resultados da performance em 12 meses. Então, no fim do dia, nós sabemos que muitos investidores acabam se balizando exclusivamente por isso.
Em fundos mais renomados e conhecidos, como a Verde, vemos essa chancela sendo menos relevante. Os investidores acabam fornecendo um “voto de confiança” de uma janela ruim, dado todo o histórico de retornos.
Porém, para fundos mais novos e sem histórico, a performance é tudo que existe. O sucesso das gestoras, em termos de atrair novos recursos e manter o negócio funcionando, depende essencialmente dos resultados de curto prazo.
De certa forma, o incentivo de gestores “desconhecidos”, aos olhos do mundo do varejo, é tomar riscos extremos e buscar os maiores retornos possíveis.
Até porque, grosso modo, três possibilidades podem ocorrer:
(I) A estratégia funcionar e a performance ser fantástica o suficiente para aparecer nos rankings.
(Ii) O fundo ter um resultado morno, não sendo o suficiente para captar recursos, fechando meses depois por falta de capital.
(Iii) Os riscos serem extremos, os ativos em si sofrerem massivas perdas e levarem à falência do fundo.
Na indústria de fundos, o incentivo é ir sempre para tudo ou nada no início. Para o seu patrimônio, isso pode ser o caos.
Não há mágica
Não há mágica no mercado. Os retornos extraordinários criados no mercado são, de alguma forma, gerados tomando mais risco.
Podem ser riscos por tamanho de empresa, tipo de negócio, alavancagem, concentração excessiva do portfólio…
Portanto, ao olhar uma “performance bonita”, precisamos dar um passo atrás e ter um pouco de senso crítico para entender como aquele retorno foi gerado.
É preciso entender que loucuras na gestão às vezes são bem remuneradas, mas se propagadas ao longo do tempo levarão o fundo (e você) à ruína.
Por isso que eu insisto sempre: busque entender a estratégia do seu gestor e como ele ganha dinheiro.
Em fundos mais recentes e sem histórico, fazer essa diligência se torna uma atividade ainda mais complicada.
Depende de entender mais da cabeça do seu gestor, históricos pregressos, entre outros aspectos – o que raramente é uma tarefa fácil.
Mesmo sendo bastante diligentes, há dificuldades em entender como aquele time irá se comportar nessa nova estrutura (sociedade, incentivos) e em face de tempos de mercado mais difíceis.
Há, sim, exceções a isso.