Quando Márcio Appel criou a Adam Capital cinco anos atrás, seu nome virou sinônimo de uma revolução no mercado de investimentos do Brasil.
Só que com a queda no apetite por fundos multimercado, os ativos sob gestão do Adam Macro caíram 90 por cento desde o pico em meio a retornos pouco inspiradores. Em todo o setor, investidores estão sacando dinheiro no ritmo mais rápido desde 2017.
Diante desse cenário, fui convidado pela Bloomberg para comentar sobre a ascensão das novas assets, aquelas que surgiram a partir de 2018, e trouxe parte desse conteúdo aqui para você.
O emblemático caso de Adam Capital
Durante os dias de glória, o Fundo da Adam, de Márcio Appel, chegou a atingir 12 bilhões de reais e era tido como a grande promessa do mercado quando abriu. O histórico dele no Safra (gerindo o Galileo) era simplesmente espetacular.
Quando Appel foi montar o fundo, as expectativas eram altas e a gestora chegou a captar 9 bilhões de reais nos fundos da casa em 2017, sendo globalmente um dos fundos que mais captaram.
No gráfico, retorno de CDI de 7 por cento a.a em média. Fonte: Economatica
Em poucos anos, o fundo chegou a ter 12 bilhões de reais, figurando entre os maiores da indústria.
A verdade é que as expectativas foram altamente quebradas. O fundo teve um começo bem interessante, mas aos poucos foi se apagando.
Desde o início, o fundo teve um retorno de 56 por cento (128 por cento do CDI) e uma volatilidade em torno de 6 por cento, trazendo o Índice de Sharpe para 0,27 — o que é bem baixo se comparado à indústria.
O mais assustador é quem entrou no ápice da captação, quando atingiu os 12 bilhões de reais, em maio de 2018. Passado pouco mais de três anos, o fundo teve um retorno de 7,28 por cento, enquanto o CDI foi de 17,12 por cento (42,52 por cento do CDI).
Se observarmos as últimas janelas de três anos, o fundo tem sofrido bastante para rentabilizar seus cotistas e isso tem se traduzido em fortes resgates. Os 12 bilhões de reais viraram, hoje, 1,2 bilhão no fundo mais conhecido, o Adam Macro.
Captação (Cinza) versus o patrimônio (linha laranja). Fonte: Economatica
Conclusão
É evidente que a performance histórica do fundo ficou muito a desejar, mas ao mesmo tempo é difícil apontar culpados, pois um movimento como esse nunca tem um único culpado.
As hipóteses possíveis:
1. O fundo cresceu de forma demasiada e muito rápido, o que acabou complicando a forma do modelo de gestão.
2. Passivo em asset independente versus o que ele via no Galileo em termos de qualidade e estabilidade.
3. Modelo de gestão mais centralizado.
4. Perdas de integrantes da equipe, com o Ruy Alves que acabou indo para a Kinea.
O caso traz alguns aprendizados sobre a análise de fundos. Anota aí:
1. Montar um negócio de gestoras novas envolve riscos bem maiores, seja de adaptação ao modelo de asset independente, seja do “negócio” vingar. Tome cuidado com novas promessas da indústria
2. Crescimento muito acelerado de um fundo pode trazer consequências perversas (perdas de retorno, menor apetite por risco dos gestores etc.).
3. O modelo de gestão importa. Nós sempre tivemos uma desconfiança maior com modelos que são de um único gestor, com um único camisa 10. Acredito que possa funcionar, assim como ocorre de certa forma na Verde, mas são casos muito raros. Seguimos preferindo modelos mais descentralizados.
4. Gestores erram, mas quando há certa persistência é sinal de atenção. Um gestor pode passar por uma fase de performance ruim – mesmo o Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, teve já fases com retorno abaixo do CDI (vide 2016 a 2018). Isso em si não caracteriza o fato de você resgatar um gestor.
Em linhas gerais, o investidor precisa entender se os fundamentos pelos quais decidiu investir em determinado fundo ainda se mantêm ou não. É necessário estar atento a isso, justamente para não ser um “zé cotinha”.