Fundador da Silk Road e seus Bitcoins esquecidos: Da prisão à possível fortuna

Publicado 23.01.2025, 14:27
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Ross Ulbricht, também conhecido pelo pseudônimo Dread Pirate Roberts, tornou-se uma  figura central no ecossistema das criptomoedas ao fundar a controversa plataforma Silk  Road.  

Lançada por volta de 2011 na dark web, a Silk Road era um marketplace que viabilizava a  compra e venda de uma ampla gama de produtos, incluindo artigos ilegais, sobretudo  drogas, documentos falsos e outros itens ilícitos.  

As transações eram feitas majoritariamente em Bitcoin, atraindo diversos agentes  econômicos que buscavam privacidade e anonimato nas negociações. 

A Ascensão e Queda da Silk Road

A Silk Road ganhou tração rapidamente, em grande parte devido ao seu caráter inovador: ao  mesmo tempo que oferecia um novo tipo de “liberdade de mercado” para usuários, também  se tornava uma ameaça aos órgãos de fiscalização.  

Em 2013, Ross Ulbricht foi preso pelo FBI em uma biblioteca de São Francisco. O laptop de  Ulbricht estava aberto no momento da captura, permitindo às autoridades acessarem  diretamente as carteiras de Bitcoin ligadas às operações do site.

Submetido a julgamento, Ross enfrentou acusações de tráfico de drogas, lavagem de  dinheiro e até tentativa de assassinato por encomenda — crime que, de acordo com os  autos, teria sido planejado contra um ex-funcionário, mas que acabou envolvendo um  agente governamental infiltrado.  

Ulbricht recebeu uma sentença considerada por muitos como severa: duas prisões perpétua e mais 40 anos de prisão, além da ordem de confisco de ativos no valor de  quase 184 milhões de dólares. 

O Grande Confisco de Bitcoins

No processo criminal, cerca de 144.000 BTC foram apreendidos das carteiras diretamente  associadas a Ulbricht. Em 2014, o U.S. Marshals Service organizou vários leilões para vender esses Bitcoins, que, à época, passaram por uma fase de queda acentuada de preço — cerca  de 334 dólares por unidade. Assim, o montante total arrecadado foi de 48 milhões de  dólares, uma fração do que poderiam valer hoje (na casa de bilhões de dólares se mantidos  até 2025). 

Wallet contendo os BTCs da Silk Road 

Dentre os que adquiriram parte desses ativos no leilão, destaca-se o investidor de risco Tim  Draper, que depois condenou a pena imposta a Ross como desproporcional. Houve, ainda,  outras apreensões relacionadas ao caso Silk Road, incluindo ações contra agentes  corruptos que roubaram Bitcoins durante a investigação e a recuperação de milhares de BTC  de hackers que haviam se apropriado de parte dos fundos. 

O Indulto Presidencial e a Questão dos BTCs

Em 21 de janeiro de 2025, Ross Ulbricht recebeu um indulto completo do presidente  Donald Trump, fato que extinguiu sua condenação e encurtou sua pena de prisão. 

Embora o perdão presidencial possa gerar dúvidas sobre a possibilidade de reaver bens  confiscados, a jurisprudência norte-americana, em regra, não permite a devolução de  ativos já alienados pelo governo em leilões ou usados para quitar débitos judiciais.

Assim, o grande montante de 144.000 BTC apreendidos não pode ser recuperado por Ross,  pois tais ativos já foram vendidos. 

As Carteiras “Esquecidas” e os 430 BTC Intocados

Apesar da perda oficial de 144.000 BTC, há fortes indícios de que Ross Ulbricht mantinha  outras carteiras que não foram rastreadas nem confiscadas pelas autoridades.  

Estudos de blockchain, incluindo análises do pesquisador Conor Grogan, apontam que  cerca de 430 BTC (avaliados em aproximadamente 45 milhões de dólares) permanecem  intocados há mais de 13 anos em wallets possivelmente de Ross. À época, estes fundos  eram tidos como “carteiras de poeira”, mas hoje representam um capital significativo. 

O ponto de maior incerteza é se Ross detém as chaves privadas dessas carteiras. Muitos  especulam que ele pode não ter mais acesso a elas — o que também justificaria o fato de o  governo não as ter apreendido.  

Repercussões na Comunidade Cripto

A notícia do indulto de Ross Ulbricht dividiu opiniões, mas grande parte da comunidade  cripto e de agentes econômicos libertários celebrou a libertação, enxergando nela uma  posição favorável do governo Trump em relação às criptomoedas e às liberdades  individuais.  

Ao mesmo tempo, críticos questionam se a pena foi efetivamente injusta, dado que a Silk  Road também serviu de canal para venda de substâncias ilegais que, em alguns casos,  resultaram em overdoses fatais.

Críticas à Divulgação das Carteiras

A revelação dos endereços possivelmente ligados a Ross gerou polêmica. Há quem  argumente que essas informações deveriam permanecer privadas, enquanto outros  apontam que tais endereços já constavam em documentos judiciais públicos. A divulgação  acendeu ainda mais a curiosidade sobre uma eventual movimentação desses Bitcoins. 

Apoio Financeiro e Retomada da Vida

Desde a soltura de Ulbricht, diversos apoiadores e simpatizantes do caso têm feito doações  para ajudá-lo a retomar a vida. Segundo divulgado, mais de 130 mil dólares já foram  arrecadados por meio da campanha Free Ross. Um doador anônimo contribuiu com 1 BTC,  enquanto a plataforma Strike lançou uma linha de produtos (merch) cuja receita — depois  dos custos — seria destinada a Ross. 

Cenários Possíveis e Perspectivas Finais

A história de Ross Ulbricht é repleta de controvérsias e questionamentos sobre privacidade,  liberdade individual e os limites do poder estatal.  

Alguns pontos-chave que permanecem em aberto: 

1. Chaves das Carteiras Intocadas: Se Ross realmente possuir acesso aos supostos  430 BTC, tal montante pode transformá-lo novamente em um agente econômico de  destaque no mercado cripto.

2. Legalidade de Movimentação: Mesmo em caso de acesso, não está claro se a  venda ou conversão desses ativos seria legalmente permitida, pois poderiam ser  considerados “proventos de crime”. 

3. Nova Vida em Liberdade: Ross já mostrou vontade de se sustentar por meio de  palestras, venda de artes e NFTs, além do apoio recebido pelos simpatizantes. 

Independentemente do destino de seus Bitcoins, Ross Ulbricht permanece como uma  figura simbólica na narrativa das criptomoedas, representando a faceta libertária do Bitcoin:  a busca por mercados mais livres e descentralizados (livres de controle estatal).  

Entretanto, para outros, ele é um lembrete dos riscos e responsabilidades inerentes à  revolução tecnológica e financeira que o Bitcoin inaugurou.

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