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Fund Picking em Renda Variável

Publicado 17.07.2020, 11:00
IBOV
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Há duas semanas, um popular fundo de ações, após ver seu número de cotistas se multiplicar por 30 (!) e seu patrimônio líquido por cinco nos últimos 12 meses, anunciou que estava próximo de fechar.

Para o leitor já familiarizado com fundos, o conceito é simples: assim como uma lancha de 80 pés não vai conseguir passar pelo mesmo trecho fluvial — nem com a mesma agilidade — de uma de 20 pés, os gestores mais diligentes, ao perceber que um tamanho grande demais poderia limitar os ganhos do fundo, decidem fazer uma pausa técnica e deixam de aceitar novos aportes.

Nesse caso específico, confesso ter sido pego de surpresa. Não com o fechamento da estratégia para captação, o que é bastante responsável para com seus investidores, mas com a reação imediata desses próprios atuais investidores.

Muitos marinheiros de primeira viagem no fundo — e talvez em fundos de uma maneira geral — não entenderam o que significava o fechamento e o que aconteceria dali para frente.

Para responder às dúvidas dos mais ansiosos, um dos sócios da gestora convocou uma live em seu Twitter para explicar que a empresa não iria acabar e que eles não estavam devolvendo o dinheiro de ninguém, que continuaria investido no fundo.

Sem entrar no mérito da comunicação efetiva e do excelente histórico do gestor, batendo o Ibovespa há 12 anos seguidos, fiquei com uma pulga atrás da orelha.

Passei a duvidar se parte dos 20 mil novos investidores do fundo sabia onde havia colocado seu dinheiro e entendia os riscos envolvidos ou se estava encantada (por si mesmo ou por algum intermediário) pelos retornos excepcionais no passado, sendo, neste caso, mais propensa a resgates caso algo não saia conforme o esperado.

Permita-me aprofundar nesse ponto.

Ao indicar para nossos assinantes aqueles que considero os Melhores Fundos de Investimento, o que busco são potenciais candidatos, tanto do ponto de vista quantitativo quanto do qualitativo.

No primeiro grupo, avaliamos os resultados de longo prazo do fundo em relação aos seus objetivos, a consistência desses resultados, suas métricas de risco e a estrutura de cobrança de taxas de administração e de performance.

O segundo grupo é bem mais sutil de identificar, e nossa opinião vai sendo construída a cada nova interação com a equipe da gestora. Um time de gestão que trabalha junto há bastante tempo, uma estrutura societária justa e um processo de investimento bem estruturado são alguns dos valores intangíveis essenciais em uma avaliação completa.

Nesse lado, há dois elementos que remontam ao caso anterior e que também consideramos: a qualidade e a concentração do passivo, isto é, quem são os investidores do fundo e como eles chegaram até ali.

E por que isso é importante para você, investidor?

São três razões principais:

i) ao ser aprovado por private banks e escritórios de gestão de fortunas, o gestor sinaliza já ter passado por rigorosos processos de diligência. Então, há aqui um elemento abstrato de "social proof" que deve ser levado em conta como um carimbo adicional de qualidade;

ii) investidores institucionais (fundações, fundos de pensão e outras gestoras) sempre tendem a ser mais fiéis a seus investimentos do que a pessoa física. Mesmo que a crise tenha mostrado uma importante evolução nesse sentido, talvez causada por maior educação financeira, juros baixos e pelos acrônimos irmãos TINA ("There Is No Alternative") e FOMO ("Fear of Missing Out"), ambos tornando o fluxo em Bolsa resiliente, ainda há uma tendência maior entre os investidores de varejo a se guiarem mais por retornos passados de curto prazo para tomarem decisões de investimento do que entre institucionais;

iii) concentrar seus investidores em poucos players ou em poucas plataformas de investimento pode ser arriscado para a liquidez do fundo. Caso uma mesma plataforma de investimento tenha sido a porta de entrada para 70% dos investidores de um fundo, por exemplo, por ele ter entrado na carteira recomendada dessa corretora, o que podemos esperar se um dia ele sair dessa recomendação? E se metade do patrimônio estiver nas mãos de apenas uma fundação? Em geral, preferimos que os fundos sejam bons instrumentos de diversificação.

Quando avançamos na avaliação, há outro importante fator qualitativo a ser considerado: o estilo de gestão.

Os fundos de ações long only e de small caps se diferenciam apenas pelo tamanho, mantendo uma parcela relevante do patrimônio investida em Bolsa. Enquanto os primeiros são os mais tradicionais, carregando apenas posições compradas em empresas, sem restrição de tamanho, os fundos de small caps focam aquelas com valor de mercado menor e, portanto, com maior potencial de valorização.

Já os fundos long biased, criação genuinamente brasileira, oferecem alta exposição à Bolsa, porém com bastante flexibilidade para reduzir essa exposição temporariamente se assim acharem necessário.

Por último, os indexados são fundos passivos ou ETFs que seguem apenas um índice, sendo geralmente, no Brasil, o Ibovespa, o IBrX ou índices setoriais. Nesses, não há qualquer gestão ativa, mas sim uma discussão acalorada em torno da batalha entre fundos indexados (baratos, sem risco adicional) e aqueles de gestão ativa (que cobram mais caro e buscam bater algum benchmark).

Com ótimos argumentos dos dois lados — e aproveito para agradecer aos assinantes que nos têm enviado excelentes materiais sobre o tema —, acredito que o espaço para a gestão ativa sempre irá existir, mesmo que seja nesses 2%, diversificados entre os estilos de gestão.

Se você começou neste universo mais recentemente, seja pelos juros baixos, por TINA, por FOMO ou pela indicação de um amigo, o essencial é entender exatamente em que você está investindo e quem serão seus sócios nessa jornada.

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