O ano de 2021 se parece muito como terminou 2020: coronavírus, lockdowns, real uma das piores moedas do mundo, bolsa brasileira uma das piores moedas do mundo, etc. Sim, você leu direito! Nesses 3 primeiros meses do ano, o Brasil novamente está na rabeira mundial de atratividade para o investidor.
Esses 2 gráficos abaixo mostram os 45 maiores países do mundo quanto à performance da sua bolsa e moeda, respectivamente. Em ambos os casos,o Brasil tem a 2a pior performance, logo atrás da Turquia, que vive uma das piores crises institucionais de sua história. Isso quer dizer, que o Brasil está atrás até mesmo da Argentina (mesmo com seus calotes).
Em 2021, o EWZ (linha azul abaixo, ETF que mede a bolsa brasileira em dólar) já caiu 12,68% (versus 13,89% da Turquia).
Fonte: Koyfin
Enquanto que o dólar já subiu 11,35% (versus 11,94% no par dólar e lira turca).
Fonte: Koyfin
Ou seja, investir no Brasil tem sido uma péssima ideia. Mas aí você pode se perguntar, "ahh mas agora com juros subindo, a renda fixa é um bom lugar para aportar?"
Também não. Os juros longos no Brasil têm subido muito (mais um reflexo que o mundo não quer por dinheiro no Brasil). E quando os juros sobem, a renda fixa também perde dinheiro. Nessa tabela abaixo estão os retornos de alguns títulos do Tesouro Direto, e a tônica é a mesma: fortes perdas no ano.
Fonte: Tesouro Direto
Essa desconfiança contra o Brasil no cenário internacional, faz com que o custo da nossa dívida pública exploda. Comparado aos seus pares emergentes, o juros do título de 10 anos brasileiro é o maior, em quase 9%.
Fonte: Koyfin
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COMO CHEGAMOS AQUI?
Falar das fragilidades brasileiras é chover no molhado. Todos sabemos da corrupção sistêmica, baixos investimentos em educação e saúde, grande parte população pobre, desemprego alto, etc. Mas porque nos últimos meses tem piorado tanto? Talvez coronavírus? Com certeza impactou, mas todos outros países também foram impactados e, relativos a eles, o Brasil tem piorado mais.
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SELIC muito baixa em comparação à inflação e riscos
O Brasil é um país emergente de grande porte. Ele concorre no âmbito global com países do mesmo naipe: Índia, Rússia e México. Então vamos analisar os fatores macroeconômicos de cada.
O ciclo de cortes dos juros básicos brasileiros foi muito agressivo. A média dos pares emergentes está por volta de 4% desde o início da pandemia, enquanto o Brasil cortou para 2%.
Fonte: Koyfin
Por outro lado, a inflação brasileira já assumiu a liderança entres os pares.
Fonte: Koyfin
E para completar o índice de CDS (credit default swap - uma medida de risco) brasileiro é mais que o dobro dentre esses pares.
Country |
5Y CDS |
Índia |
107.14 |
México |
111.79 |
Rússia |
112.80 |
Brasil |
226.00 |
Ou seja, o investidor estrangeiro olha pro Brasil e vê muito risco e inflação e baixo rendimento. Sendo assim, ele não se sente confortável e mete o pé (vende dólares). Por isso, a moeda brasileira tem se depreciado tanto.
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Descontrole no orçamento e alto endividamento
O país teve um choque muito grande na sua economia em 2020 (como todo o mundo) e o PIB chegou a cair mais de 10% (em comparação ao mesmo período do ano anterior) no 2o trimestre de 2020. A maneira como o Brasil decidiu atacar o choque na economia foi através dos auxílios emergenciais para acudir uma grande camada da população que perdeu renda (65 milhões de brasileiros) e estimular o consumo.
Estes auxílios custaram aos cofres públicos mais de R$ 300 bilhões. E com a aprovação da PEC Emergencial em 2021 e extensão dos auxílios emergenciais por mais 4 meses, o rombo aumenta em mais R$44 bi.
Fonte: CEIC
A matemática é simples, se você gasta mais do que arrecada, você precisa financiar isso com mais dívidas. E mais dívidas, no caso do governo, quer dizer mais inflação (desvalorização da moeda).
O Brasil gasta muito e gasta mal. Mesmo antes da pandemia o déficit entre as receitas e despesas já era por volta de 6% do PIB. E a perspectiva não é de melhora ainda por muitos anos.
Fonte: Statista
Com isso, a dívida pública brasileira segue numa perigosa trajetória crescente, se aproximando de 90% do PIB, o que coloca o Brasil entre os mais endividados do mundo e sem perspectiva de melhoras.
Fonte: CEIC
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Crises… econômica, sanitária e política
Não bastasse a crise econômica que fez o desemprego atingir níveis históricos, o Brasil não avança nas reformas e privatizações. Já ouvimos dezenas de vezes que grandes privatizações e reformas vão sair, mas por enquanto isso só ficou no discurso.
Ademais, o país está entre os mais impactados pela Covid-19. Para piorar, a desunião entre executivo, estados e municípios acentuou o problema. O Brasil não tinha uma estratégia central para o combate ao vírus e assim quem sofreu foi a população, mais uma vez.
Por fim, os políticos, mais uma vez, agem de acordo com seus próprios interesses. Na semana passada foi aprovado no congresso o Orçamento para 2021, que remanejou quase R$30 bi para emendas parlamentares (visando ajudar os congressistas em seus currais eleitorais) e "retirando" quase metade desses fundos da Previdência. Como a Previdência é um gasto obrigatório, ou seja, não pode ser cortado, isso implicaria ao governo buscar de onde cortar gastos ou romper o teto. No vídeo abaixo, eu explico muito sobre isso:
Mas aí que está o problema, o governo tem capacidade de remanejar somente 5% do orçamento anual (cerca de R$80 bi - essa parcela é chamada de gastos discricionários). Os restantes 95% são gastos obrigatórios definidos em lei. Esta adição das emendas parlamentares deixará o governo com cerca de somente 50% dos recursos que precisa para operar normalmente.
Isso tudo escancara pro investidor internacional o risco fiscal que o Brasil se encontra, cada vez mais empurrado a romper o teto dos gastos.
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QUAL A ALTERNATIVA A TUDO ISSO?
Diante de todos os fatos, investir no exterior não é somente uma das alternativas para se proteger das instabilidades do Brasil, mas a melhor entre elas. Pois cada vez que a situação econômica piorar no Brasil, normalmente levará ao aumento do dólar e assim será um fator positivo na carteira do investidor.
Hoje em dia, qualquer pessoa pode investir no exterior: não há mínimos para abrir conta em corretoras estrangeiras e há corretoras disponíveis em português. Então, a única coisa que falta é conhecimento, mas felizmente hoje em dia, o acesso à informação de qualidade é amplo e gratuito.
No meu último artigo, muitos perguntaram como me acompanhar nas diferentes mídias sociais para aprender sobre investimento no exterior. Você me encontra no Instagram, YouTube, Telegram e Twitter.