Índices de preços na China e no Brasil abrem o dia, mas é na suspensão do estudo da vacina contra a covid-19, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, que o mercado financeiro está mais atento. A notícia ontem à noite de reação adversa em um dos voluntários, durante a fase final de testes, derrubou a ação da AstraZeneca na sessão estendida em Nova York e mina as esperanças dos investidores de que a pandemia de coronavírus está perto do fim.
E isso em um momento em que os temores relacionados à perda de tração da retomada econômica global já inibem o apetite por risco, com o avanço de casos da doença pelo mundo colocando em xeque o recente rali dos ativos. A grande questão é que a velocidade de recuperação do mercado financeiro global foi muito mais rápida e acelerada do que o ritmo de melhora da atividade real e quanto mais prolongada for a pandemia, mais a economia tende a titubear.
Esse descompasso cria um risco significativo de mais correções nos ativos à frente, tal qual se tem visto nas ações do setor de tecnologia, uma vez que a injeção de liquidez sem precedentes não é capaz de resolver os problemas econômicos cruciais (emprego e renda) causados pela disseminação da covid-19 em um ambiente global já frágil. A frustração com a vacina deixa evidente esse descolamento, levantando dúvidas quanto ao movimento dos ativos, em um momento em que muitos dos estímulos começam a se dissipar.
Mas Wall Street amanheceu em alta firme, ao redor de 1%, engatando uma recuperação, um dia após uma nova onda vendedora (sell off) nas techs, que levaram os três principais índices acionários das bolsas de Nova York ao nível mais baixo em um mês. Essas perdas afetaram o pregão na Ásia, com a queda nos preços do petróleo também pesando. Nesta manhã, o barril do tipo WTI avança, mas segue cotado abaixo de US$ 40.
Já na Europa, as principais bolsas pegam carona no sinal positivo vindo do outro lado do Atlântico Norte. Entre as moedas, a libra esterlina segue em queda livre, em meio às preocupações de que as conversas sobre a saída do Reino Unido (Brexit) da União Europeia (UE) vão entrar em colapso. De um modo geral, o dólar e os bônus dos Estados Unidos (Treasuries) perdem força, enquanto Wall Street se fortalece.
Ou seja, os investidores continuam lutando contra a turbulência que vem se formando no mercado financeiro e sentem-se encorajados em tomar risco, surfando na onda da liquidez global, pois não há qualquer sinal de drenagem dos recursos por parte dos bancos centrais. Mas, de tempos em tempos, os mercados acabam ficando empossados e é preciso eliminar a espuma para saber se os ativos de risco ainda conseguem ir mais longe.
IPCA em destaque
De qualquer forma, merecem atenção os dados da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA), a serem conhecidos às 9h. A previsão é de desaceleração em agosto, para 0,25%, após ganhar força em julho, vindo de um período de deflação entre maio e abril. Com isso, a taxa em 12 meses deve ficar abaixo do piso do intervalo de tolerância perseguido pelo Banco Central, de 2,5%, pelo quinto mês seguido, acumulando alta de 2,4%.
Os números efetivos são o destaque do dia e devem calibrar as expectativas em relação ao rumo da taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a semana que vem. Apesar do cenário ainda comportado da inflação no varejo, percebe-se um acúmulo de pressão inflacionária no atacado, com os preços agrícolas e industriais sofrendo os impactos da valorização do dólar.
Com isso, o mercado doméstico já não enxerga mais espaço para cortes na Selic e prevê a manutenção da taxa em 2% neste mês, apesar de o BC ter deixado uma pequena fresta no encontro anterior, no mês passado. A ausência de novidades no lado fiscal, com a equipe econômica ainda tentando encontrar espaço para contemplar as demandas do presidente Jair Bolsonaro sem “furar” o “teto dos gastos” também contribui para o fim do ciclo.
No exterior, índices de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) na China em agosto mostraram moderação da deflação no atacado, para -2%, e desaceleração da pressão inflacionária no varejo, com +2,4%, praticamente dentro do esperado. Ainda na agenda econômica desta quarta-feira, no exterior, sai o relatório Jolts, com os dados sobre as contratações e demissões nos EUA em julho (11h).
No Brasil, também serão conhecidos os dados semanais sobre a entrada e saída de dólares (14h30) e os números regionais da produção industrial (9h).