Os fretes rodoviários dos corredores de exportação de soja e milho por meio dos portos no Norte do Brasil caíram ao menor nível de 2023, em razão das dificuldades provocadas pela grave seca na região, sob o impacto do fenômeno climático El Niño.
O fluxo logístico do chamado Arco Norte contempla as rotas de polos produtores em Mato Grosso até o ponto de transbordo para hidrovia em Miritituba, no Pará. Esse volume de grãos viaja de caminhão ao longo da rodovia BR-163, chega em Miritituba e depois é carregado em barcaças para seguir pelo rio Tapajós até portos do Norte e do Nordeste.
Com a seca, os rios utilizados como hidrovias estão com níveis muito baixos, restringindo a navegação e prejudicando a logística, especialmente em Itacoatiara, no estado do Amazonas, e Barcarena e Santarém, no estado do Pará. A região Norte registra níveis de chuva abaixo do esperado desde maio. A seca na região do rio Negro é a pior desde que as medições começaram em 1902, de acordo com o porto de Manaus.
Neste contexto, os fretes de grãos dos corredores dessa região a partir do estado de Mato Grosso – o maior produtor de soja do país – estão caindo. Como a navegação é limitada, o tempo necessário para descarregar os caminhões é maior e, às vezes, incerto.
Na semana encerrada em 24 de novembro, o frete na rota Sorriso-Miritituba, que percorre a rodovia BR-163 até o ponto de transbordo para hidrovia, no Pará, caiu R$17/t, em média, para R$240-245/t, segundo indicador da Argus. No corredor Sinop-Miritituba, o frete caiu R$7/t, em média, para R$230/t. Ambas as rotas atingiram o menor nível no ano.
Os portos do Arco Norte exportaram 52,3 milhões de toneladas (t) de soja e milho em 2022 – acima dos 37,5 milhões de t em 2021 – superando pela primeira vez o porto de Santos, no estado de São Paulo, que exportou 46,8 milhões de t. Como resultado, a participação nacional do Arco Norte aumentou para 37,1pc no ano passado, de 35,2pc em 2021.
Diante dos obstáculos do corredor do Arco Norte, os grãos precisam ser escoados para outros portos, especialmente Itaqui, no Maranhão, Paranaguá, no Paraná, e Santos, o que aumenta a demanda e os fretes nesses corredores. O frete de grãos na rota Sorriso-Rondonópolis fechou a semana de 24 de novembro com média de preço de R$175/t, em comparação com R$165/t um ano atrás. O trecho Rondonópolis-Paranaguá alcançou R$385/t, ante R$300/t no mesmo período em 2022.
Os navios com fertilizantes que atracariam nos portos do Norte também são desviados para os portos do Sul e do Sudeste. Isso aumenta o tempo médio de espera para atracação e os custos de demurrage. Também eleva a preocupação de que o sistema logístico da região esteja sobrecarregado.
O frete do corredor Sapezal-Porto Velho, onde a carga viaja até o ponto-final do estado de Rondônia por caminhão e depois por hidrovia até Itacoatiara, encerrou a semana de 24 de novembro em R$210/t. As cargas navegam pelo rio Madeira, que tinha um nível de 286cm no ponto de transbordo em Porto Velho, mas atingiu 113cm no início de novembro, rompendo o nível mínimo histórico de 140cm. O nível do rio Madeira estava em 137cm em Itacoatiara em 27 de novembro, mas chegou a 53cm, segundo dados do Serviço Geológico Brasileiro (SGB). Níveis abaixo de 264cm são considerados de seca extrema.
Já o rio Tapajós, utilizado para navegação nessa região, atingiu 52cm na cidade de Santarém, muito abaixo da mínima histórica anterior de 132cm, também segundo dados do SGB. No início do mês, o rio chegou a atingir 10cm. No ponto de Itaituba, onde ocorre o transbordo para hidrovia, o rio Tapajós tem nível de 163cm, considerado seca. No começo de novembro, o rio chegou a ter 131cm, seca extrema. Como resultado, os portos paraenses fizeram ajustes para não suspender completamente as operações, o que diminuiu a movimentação.
A grave seca é causada por uma combinação de duas consequências do El Niño: o aquecimento da porção equatorial do Oceano Pacífico e da porção norte do Oceano Atlântico, de acordo com os meteorologistas. Isso impede a formação de nuvens e chuvas no Norte do Brasil. Além disso, o aquecimento global e as mudanças climáticas agravam a situação.
O clima não deve se normalizar no restante do ano, pois o El Niño atingirá sua intensidade máxima em dezembro, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
O governo federal vai investir R$138 milhões em obras de dragagem nos rios Madeira e Solimões, as principais vias navegáveis para o transporte de cargas na região. A previsão é que as obras durem 45 dias e sejam concluídas em novembro.