Os fretes rodoviários de grãos e fertilizantes do Brasil nas rotas monitoradas pela Argus devem ficar abaixo dos níveis do ano passado, refletindo a comercialização lenta das safras de soja e milho, que também contribuem para a diminuição da liquidez no mercado de fertilizantes.
Isso resulta em uma menor demanda por serviços de transporte e contribuiu para tarifas médias de frete mais baixas em 2024. As vendas da safra 2023-24 de Mato Grosso, maior estado produtor de soja e milho do Brasil, têm sido lentas desde o início do ano.
As negociações de soja superaram o ritmo do ciclo anterior apenas recentemente, permanecendo defasadas durante a maior parte do primeiro semestre de 2024. As vendas da oleaginosa atingiram 84,3pc em junho, acima dos 79,5pc no ano passado, mas abaixo da média de 86,8pc dos últimos cinco anos para o período. A colheita da safra de soja de 2023-24 em Mato Grosso foi concluída em abril. O Brasil exportou 64,1 milhões de toneladas (t) de soja até o fim de junho, mais do que as 62,8 milhões de t no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
As vendas de milho atingiram 45,4pc do total esperado para o ciclo, atrás dos 53,4pc registrados no mesmo período para a safra anterior e abaixo da média de 72,2pc. A colheita de milho em Mato Grosso está bem encaminhada, em quase 90pc até o momento. O Brasil exportou 8,4 milhões de t de milho até o fim de junho, menos que os 11,6 milhões de t no mesmo período de 2023.
A demanda por transporte de grãos não aumentou mesmo com o enfraquecimento do real em relação ao dólar norte-americano ao longo do ano, passando de R$4,91/$1 em 4 de janeiro para R$5,53/$1 no fim de junho – o que impulsiona as exportações — e diante dos maiores volumes exportados. Os baixos preços da soja e do milho no mercado internacional não têm motivado os produtores e isso se reflete nos fretes de grãos de 2024.
A tarifa média de frete no trecho Sorriso-Rondonópolis, com destino ao terminal ferroviário, foi de R$166/t no primeiro semestre do ano, abaixo dos R$181/t no mesmo período de 2023. A rota Sinop-Miritituba, que segue pela rodovia BR-163 até o ponto de transbordo hidroviário, registrou um preço médio de R$249/t no primeiro semestre de 2024, ante R$279/t no ano passado.
As tarifas médias de frete no trecho Querência-Palmeirante, com destino ao terminal ferroviário do Tocantins e ao porto de Itaqui, no Maranhão, ficaram em R$237/t entre janeiro e junho, abaixo dos R$291/t no primeiro semestre de 2023. Na rota Rondonópolis-Paranaguá, o preço médio no primeiro semestre de 2024 foi de R$341/t, abaixo dos R$363/t do mesmo período no ano passado.
O contexto para os fretes de fertilizantes é muito semelhante, com as tarifas caindo mesmo com o aumento das importações. O Brasil importou 17,8 milhões de t de adubo entre janeiro e junho, aumento de 6,6pc em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o MDIC. Mas os valores de frete não refletiram a maior procura por serviços de transporte.
Nos portos do Sul e Sudeste, a rota Paranaguá-Rondonópolis atingiu uma tarifa média de R$225/t, abaixo dos R$248/t no primeiro semestre de 2023. O trecho Santos/Cubatão-Rondonópolis atingiu um preço médio de R$248/t no primeiro semestre, de R$271/t no ano passado.
Uma tendência semelhante ocorreu nas rotas de fertilizantes originadas no Arco Norte. A demanda por transporte em Itaqui continua menor do que no mesmo período de 2023. A rota São Luís-Querência atingiu uma média de R$279/t, abaixo dos R$325/t um ano antes. O trecho São Luís-Porto Nacional ficou em R$217/t entre janeiro e junho, em comparação com R$240/t no mesmo período de 2023.
Próximos meses
Os custos logísticos para o transporte de grãos, especialmente o milho – que está sendo colhido –, deverão aumentar no segundo semestre.
Algumas tarifas de frete estão se aproximando de seus níveis mais elevados observados em 2024, devido à maior necessidade de transporte. Além disso, há demanda doméstica por milho de fábricas de etanol e de proteína animal, especialmente no Sul. Isso aumenta a concorrência pelos serviços de logística rodoviária e os preços. Ainda assim, participantes do mercado afirmam que os fretes deverão atingir os mesmos níveis de 2023.
A atividade dos fretes de fertilizantes deverá se recuperar no segundo semestre, à medida que a janela de compras para a próxima safra se aproxima. Mas a maior procura ainda não refletiu em aumento de preços, com os valores nas 31 rotas monitorizadas pela Argus oscilando em diferentes direções.
Além disso, conforme o fertilizante começa a ser entregue aos produtores, há preocupações com gargalos logísticos nos portos, pois a oferta de caminhões seria insuficiente para atender a demanda, provocando maior concorrência pelos serviços de transporte.