Em 2020, a redução do poder de compra da população, devido aos impactos econômicos da pandemia de covid-19, favoreceu as vendas da carne de frango em detrimento das principais substitutas, a bovina e a suína. Além disso, agentes do setor da avicultura de corte indicam que o auxílio emergencial do governo federal também contribuiu para impulsionar as vendas de carne avícola. Com isso, as diferenças entre os preços do frango inteiro e os das carcaças bovina e suína atingiram recordes em 2020, segundo apontam dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
A maior diferença entre as carnes já registrada na série mensal do Cepea, iniciada em 2004, foi observada em novembro, quando o frango inteiro resfriado negociado no atacado da Grande São Paulo esteve 12,73 Reais/kg abaixo da carcaça casada bovina e 7,53 Reais/kg inferior à carcaça especial suína. Na média do ano (de 2 de janeiro a 30 de dezembro), enquanto as carnes bovina e suína se valorizaram expressivos 35,7% e 32,5% frente a 2019, respectivamente, a proteína de frango avançou menos, 8,8%.
As cotações da carne de frango iniciaram o ano em queda, como tradicionalmente ocorre em janeiro, devido às despesas extras da população naquele mês. Além disso, o mercado também buscava um equilíbrio, após as fortes altas registradas no final de 2019. Nos meses seguintes, a procura por produtos de origem avícola seguiu enfraquecida e, com o início da pandemia, o movimento de baixa se intensificou.
A dificuldade de escoar a produção no mercado nacional – principalmente por conta da diminuição e/ou suspensão da demanda de escolas e serviços de alimentação, como hotéis e restaurantes – pressionou os valores de todo o setor. Com a produção, tanto de aves quanto de carne, acima da demanda, os ajustes negativos nos preços de comercialização ocorreram com a finalidade de aumentar a liquidez interna.
Assim, em maio, a maioria dos produtos avícolas acompanhados pelo Cepea registrou preços muito baixos. Naquele mês, o frango inteiro resfriado negociado no atacado da Grande São Paulo teve média de R$ 3,96/kg, o menor valor desde agosto/2018, quando esteve a R$ 3,60/kg, em termos nominais. O frango vivo foi negociado em maio no atacado do estado de São Paulo a R$ 2,91/kg, o patamar mais baixo desde fevereiro/2019.
Além da menor procura, a oferta de carne também aumentou. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção brasileira de frango nos nove primeiros meses do ano cresceu 2,5% frente ao mesmo período de 2019, o que reforçou a pressão sobre as cotações do setor.
Por outro lado, as exportações cresceram, ajudando a enxugar a sobreoferta da carne no mercado doméstico. Apesar de os embarques de carne de frango não terem alcançado um protagonismo tão grande quanto os de carne bovina e suína, que atingiram recordes, as exportações da proteína avícola in natura aumentaram 1,1% entre janeiro e dezembro de 2020 frente ao ano anterior, segundo dados da Secex.
Com o passar dos meses e a retomada das atividades econômicas, além do auxílio emergencial, que estimulou o consumo, os preços da carne de frango reagiram no mercado interno. O produto, porém, se valorizou menos do que as principais carnes concorrentes, bovina e suína, resultando em aumento de competitividade. Segundo colaboradores do Cepea, o menor poder de compra da população brasileira diante da crise gerada pela pandemia de covid-19 levou demandantes a migrarem para proteínas mais baratas, como o frango.
PODER DE COMPRA – O produtor amargou fortes prejuízos em 2020. Isso porque tanto o farelo de soja quanto o milho, importantes insumos da alimentação do setor avícola, registraram intensa escalada nos preços. Os valores do frango vivo, por sua vez, também avançaram, mas com menor intensidade. Esse contexto pressionou o poder de compra da avicultura de corte em 2020.
Na média de 2020, considerando-se o frango vivo comercializado no estado de São Paulo e o milho no mercado de lotes da região do Indicador de Campinas (SP), foi possível ao avicultor a compra de 3,76 quilos do cereal com a venda de um quilo de animal, 24,9% abaixo da quantidade observada no mesmo período de 2019. Trata-se, também, do ano mais desfavorável ao avicultor desde 2011. Frente ao farelo de soja negociado na região de Campinas, foi possível ao avicultor a aquisição de apenas 1,95 quilo do derivado com a venda de um quilo de frango, recuo de 25,5% frente ao observado em 2019 – esta foi a quantidade mais baixa já registrada na série histórica do Cepea.