Peruzão
Amanhã é feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos — Barack Obama comerá seu último peru na Casa Branca.
Os perus da bolsa estão alegres e satisfeitos, comemorando dado mais forte do que o esperado de encomenda de bens duráveis, que impacta expectativa de inflação e, portanto, impulsiona (ainda mais) o yield das Treasuries. Na esteira, o dólar se valoriza ante maioria das principais divisas globais, contra as quais atinge o maior nível em 14 anos.
Em se tratando de Treasuries, aliás, o movimento de queda dos títulos (e consequente alta dos yields) visto desde a eleição de Trump é o mais intenso desde pelo menos 1979.
Ao final de um ano de alimentação diligente, os perus nunca se sentiram tão saudáveis. Todos confiantes de que receberão, amanhã — e depois, e também depois... —, mais uma dose generosa de ração.
Perguntemo-nos desde já: será que, sob Trump, o peru continuará crescendo?
…ou se aproxima o dia do abate?
Pelo sim, pelo não...
Dia de baixa por aqui, à exceção principalmente de exportadoras — reflexo do dólar, fundamentalmente. Repercutem localmente os dados de inflação e os avanços nas tratativas de socorro aos Estados. Sobre ambos, falo em mais detalhes logo abaixo.
O que quero chamar atenção é, de novo, para a necessidade de um pouco de cautela diante da euforia. Tal qual insistimos em buscar proteção logo antes das eleições — e deu Trump! —, seguros e canja de galinha não fazem mal a ninguém em meio a tantos superlativos no mercado lá fora.
É uma lição que os leitores do Palavra do Estrategista já sabem de cor — uma lição essencial para chegar vivo à Black Friday.
O resto é distração
No final do dia sai a ata do Fed, que deve indicar que o comitê de política monetária baseia suas decisões nos indicadores da economia real, e não nas narrativas do New York Times. A ata sai com uma semana de antecedência à reunião do Copom. Tempo de sobra, portanto, para que Goldfajn e equipe a leiam e releiam em busca de inspiração.
Podem falar no que quiserem: crise dos Estados, desventuras da governabilidade, Donald Trump e tudo mais: o que realmente importa (ou deveria importar) para o Copom é o comportamento da inflação. O resto é distração.
E nesse sentido, seguem avançando os esforços em torno da PEC do Teto — com o front fiscal mais comportado, é benéfico o impacto sobre preços — e IPCA-15 de hoje veio ligeiramente abaixo do esperado. Consolida-se assim a visão de que o comitê decidirá por corte de pelo menos 25 pontos. Pelo menos.
Juros chegaram a recuar mais cedo, no calor da divulgação do indicador, mas nesse momento a curva volta a abrir um pouco. Tudo dentro da margem de erro: seguimos apostando na queda.
Cerrrto?
O Governo cedeu, e dividirá com os Estados os recursos oriundos do programa de repatriação de ativos (que eufemismo bonito para "anistia à lavagem de dinheiro"). Os cheques devem perfazer 5 bilhões de reais.
Meirelles, entretanto, enfatizou que os recursos só serão liberados mediante medidas concretas de ajuste fiscal a serem promovidas pelos entes federativos.
Enquanto isso, na Assembleia Legislativa fluminense, as propostas de ajuste fiscal apresentadas pelo Pé Grande foram virtualmente desmanteladas. Dentre outras, a Justiça do Rio declarou inconstitucionais o aumento da contribuição previdenciária e o fim dos reajustes salariais trianuais do funcionalismo. Coube aos deputados, por sua vez, sepultar as iniciativas que extinguiam autarquias estaduais.
Isso significa, portanto, que o Rio de Janeiro não verá um centavo dos recursos. Cerrrto?
(Silêncio...)
Mas tudo bem (tudo bem?): tudo indica que, mesmo com a facada de última hora, o Governo Federal fecha 2017 na meta. Então o mercado dará de ombros.
O que não significa que, enquanto contribuintes, precisamos achar isso igualmente bom.
Mais sorte dessa vez, Soros
George Soros voltou a comprar ações de Petrobras (SA:PETR4). Única empresa brasileira de sua carteira, a petroleira vem passando por um intrincado processo de reestruturação sob a batuta de Pedro Parente. Ao que tudo indica, os sinais de convalescência de Petro atraíram o meta-capitalista.
Reconhecemos a inflexão em Petrobras, mas vemos em Banco do Brasil (SA:BBAS3) oportunidade muito melhor para capturar benefícios do choque de gestão. Caffarelli vem fazendo a lição de casa, cortando custos na carne e investindo em tecnologia. Além disso, os bancos já anunciaram o topo das despesas com inadimplência e sinalizam a reabertura das torneiras do crédito.
De qualquer forma, desejamos mais sorte no investimento em Petro do que teve investindo em Hillary Clinton.