Incorri em alguns esforços, mas não consegui escrever o Day One de hoje sem fazer alusão a uma das pílulas ficcionais contadas por David Foster Wallace, que já se transformou em mito moderno.
Dois colegas estão sentados em um bar, localizado no extremo Alasca. Um desses sujeitos é religioso, enquanto o outro é ateu. Ambos estão discutindo sobre a eventual existência de Deus, com a intensidade retórica que aflora naturalmente após o quarto copo de chope.
O ateu diz: “Veja, não é que eu nunca tenha experimentado crer em Deus e em suas orações. Ainda no mês passado, fui surpreendido por uma tempestade de neve que me deixou completamente perdido, não conseguia ver um palmo à minha frente, e estava congelando sob 45 graus negativos”.
“Então, eu tentei” – o ateu confessa. “Fiquei de joelhos na neve e gritei o mais alto que pude por Deus: se existir mesmo um Deus, estou perdido na tempestade, e vou morrer se Você não me ajudar!”.
Depois de ouvir esse relato, o sujeito religioso endereça o ateu com perplexidade. “Bem, imagino então que você deva ter firmado sua fé a partir de agora, dado que está aqui bebendo comigo, vivo”.
Em resposta, o ateu revira os olhos: “Nada disso, cara. O que aconteceu é que dois esquimós estavam passando perto de onde eu estava, me ouviram gritar, e simplesmente me mostraram o caminho de volta para o acampamento”.
Essa breve história me veio à memória durante as duas últimas semanas, e mais precisamente ao longo do eufórico pregão de ontem.
Dois financistas estão sentados em um bar, localizado na Faria Lima. Um desses sujeitos é religioso, enquanto o outro é ateu. Ambos estão discutindo sobre a eventual existência de bull markets, com a intensidade retórica que aflora naturalmente após o quarto copo de chope.
O ateu diz: “Veja, não é que eu nunca tenha experimentado crer em bull market e em suas valorizações. Ainda no mês passado, fui surpreendido por um drawdown que me deixou completamente perdido, não conseguia ver um palmo à minha frente, e estava congelando sob 45 pontos percentuais abaixo da marca d'água”.
“Então, eu tentei” – o ateu confessa. “Fiquei de joelhos na neve e gritei o mais alto que pude pela recuperação: se existir mesmo um Touro, estou perdido na tempestade, e vou morrer se Você não me ajudar!”.
Depois de ouvir esse relato, o financista religioso endereça o ateu com perplexidade. “Bem, imagino então que você deva ter firmado sua fé a partir de agora, dado que está aqui bebendo comigo, vivo”.
Em resposta, o ateu revira os olhos: “Nada disso, cara. O que aconteceu é que a peak inflation estava passando perto de onde eu estava, me ouviu gritar, e simplesmente me mostrou o caminho de volta para o acampamento”.