Publicado originalmente em inglês em 07/12/2020
O acirramento da luta de poder entre democratas e republicanos quase jogou por água abaixo a indicação de Christopher Waller para o Conselho de Governadores do Federal Reserve, mas o economista-chefe do Fed de St. Louis foi confirmado no cargo pelo Senado por 48 votos a 47, a menor margem em décadas, senão de todos os tempos.
Outra indicação pendente, a da economista Judy Shelton, não deve ter a mesma sorte. A confirmação de Waller ocorreu devido a votos com orientação partidária; apenas o senador por Kentucky, Rand Paul, votou contra os democratas, mas Shelton enfrenta oposição de pelo menos três republicanos.
Ninguém de fato duvida que Waller seja qualificado para o conselho do Fed. Antes de ingressar no banco regional de St. Louis, em 2009, ele foi diretor do departamento de economia da Universidade de Notre Dame. Sua indicação foi aprovada em comitê em meados do ano por 18 votos a 7, já que cinco dos 12 democratas com painel se juntaram à maioria republicana.
As indicações do Fed geralmente não são motivo de controvérsia, mas os senadores democratas não estavam dispostos a dar uma vitória ao presidente Donald Trump ao deixar o cargo. Da forma como está, quatro dos seis governadores do conselho podem ser apontados por Trump. A presidência do banco está nas mãos de Jerome Powell, indicado por Obama.
A menos que o líder da maioria do senado, Mitch McConnell, consiga tirar um coelho da cartola e conseguir a confirmação de Shelton, Joe Biden ficará livre para indicar sete governadores após sua posse em 20 de janeiro.
Política monetária inalterada, mas acirramento político-partidário aumenta
Nenhuma dessas manobras deve ter impacto na política monetária, mas os investidores ficarão de olho na politização cada vez maior do Fed. Não só a polarização partidária se acentuou em Washington, como também o tipo de deferência dada a Alan Greenspan, cujo mandato de mais de 18 anos como presidente do Fed levou a uma crise financeira, pode fazer com que os senadores fiquem mais cautelosos com a aprovação das indicações.
Os parlamentares, na semana passada, convocaram Powell e Steven Mnuchin, secretário do tesouro, para uma audiência perante ambas as casas sobre os programas de crédito emergencial do Fed para conter o impacto dos bloqueios da covid-19. O alvo foi Mnuchin, que decidiu unilateralmente deixar os programas expirar, mas deu a Powell a oportunidade de reiterar seu alerta-padrão sobre o percurso incerto da economia na pandemia.
Os programas de Mnuchin descartou na verdade não tinha muita serventia, mas novamente o Fed ficou preso no fogo cruzado, já que os democratas classificaram os créditos como uma ferramenta essencial para o governo Biden lidar com a crise.
Quanto à política monetária propriamente dita, há dúvidas se o Fed mudará drasticamente seu programa de compra de ativos na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto de 15-16 de dezembro.
O diretor do Fed de Dallas, Robert Kaplan, pode ter a última palavra, já que as autoridades do banco devem respeitar o período de silêncio antes da reunião. Em entrevistas na semana passada, Kaplan, que é membro votante do Fomc neste ano, afirmou que se oporia a quaisquer mudanças no programa, mesmo vendo alguma dificuldade nos próximos meses.
“Não sei se aumentar o tamanho ou a extensão dos vencimentos das nossas compras de títulos ajudaria a contornar a situação que me preocupa nos próximos três ou seis meses”, afirmou à CNBC.
Em outra entrevista ao Wall Street Journal, Kaplan defendeu que o comitê deve considerar o momento oportuno das projeções que fornecer para as compras de ativos. Mas, até que aplicação das vacinas deixe a situação mais clara, ele afirma que preferiria esperar por quaisquer mudanças.
“Acho que preciso começar a pensar sobre a redução ou a comunicação da composição e do tamanho das nossas compras de ativos”, declarou.
“Mas, enquanto estivermos enfrentando a pandemia, não preciso ter pressa para fazer isso”.
Não é certo se Waller assumirá o cargo a tempo de participar como membro votante. De qualquer forma, ele vem participando regularmente do Fomc, portanto seu pensamento deve ficar em linha com o consenso.