A decisão das taxas de juro, tanto do Federal Reserve (Fed) quanto do Banco Central Brasileiro, foi dentro do esperado na última quarta-feira (16). Até aí nada deveria acontecer, mas as surpresas ficaram por conta de ambos os comunicados, com preocupação em relação às inflações dos dois países. Isso, é claro, impacta no câmbio, e o mercado reagiu mal na quarta-feira.
Vamos ao que veio nas atas. Aqui no Brasil, a alta da taxa Selic foi de 75 pontos-base e deve ocorrer mais uma alta igual em agosto, mas abriu a possibilidade de fazer um ajuste mais rápido de 100 pontos-base se as expectativas mudarem. Isso fez com que a Selic Dez 21 esperada pelo mercado passasse de 6,50 para 6,75, afinal, boa parte do mercado agora acha que pode vir os 100 pontos-base na próxima alta. A comunicação foi considerada agressiva, e devido a isso creio que o Banco Central contrata um gap de queda no dólar.
No comunicado foi retirada a expressão “normalização parcial” do estímulo monetário, e além disso foi cogitada a aceleração do ritmo de alta de juro devido a expectativas com a inflação. Com isso, o real valorizou perante o dólar ontem, e os juros futuros deram uma disparada.
A atratividade do carry-trade antecipada pelo Copom deve apreciar o real, afinal, o Brasil vai lutar melhor pelo fluxo global com os juros mais altos.
Quanto ao Fed: traindo o consenso de que se manteria dovish, o presidente da autoridade monetária Jerome Powell reconheceu que os índices de preços subiram “notavelmente”, com risco de tornarem-se “mais persistentes”. Apesar de ter repetido que a inflação é “transitória” e que deve voltar para 2% no médio prazo. E ficou claro que o Banco Central americano deve aumentar os juros em 2023.
Ontem, de dados dos Estados Unidos, veio o pedido de auxílio-desemprego, que subiu inesperadamente. Esse número aumentou na semana passada pela primeira vez em mais de um mês, mas as dispensas estão diminuindo em meio à reabertura da economia e à escassez de pessoas que querem trabalhar. Auxílios-desempregos generosos financiados pelo governo, incluindo um cheque semanal de 300 dólares, também têm sido apontados como culpados, bem como a relutância em voltar ao trabalho por medo de contrair a Covid-19 - mesmo com as vacinas amplamente acessíveis.
Na zona do euro, saiu a inflação anual de 2% em maio, que superou a meta do BCE. O resultado confirmou a estimativa preliminar e veio em linha com a expectativa de analistas.
O dólar deve se comportar agora de acordo com noticias políticas e fluxo de capital externo, afinal, nossa taxa de juros está bastante atrativa para os investidores estrangeiros. Esse movimento de entrada de capital pode apenas não ser tão constante e nem de tão longo prazo devido à inflação nos Estados Unidos, que pode dar uma subida nos juros de lá e tirar essa força de entrada de capital aqui. Mas, perto do mau humor da Super-Quarta, até que o mercado operou otimista, reagindo mais à Selic do que ao Fed na quinta-feira, e o dólar caiu com ingressos de fluxo de investidor estrangeiro no mercado local.
Na quinta, o mercado não chegou a romper o piso dos R$ 5,00, mas bateu na mínima de R$ 5,0087. Já o euro, que merece ser citado aqui, rompeu um piso importante de R$ 6,00 e chegou a bater R$ 5,9705, reagindo à inflação acima da meta na zona do euro. A libra esterlina também rompeu os R$ 7,00, chegando a operar em R$ 6,9788. Essas cotações refletem a apreciação do real no mercado.