A despeito de vir sendo alardeado que o fluxo de investidores estrangeiros direcionados para a Bovespa é fator de apreciação do Real frente ao Dólar, os números do fluxo cambial não confirmam esta assertiva, visto que o fluxo cambial líquido em novembro, até o dia 20, não tem a expressividade suficiente para este movimento pontual da moeda nacional.
O fluxo comercial liquido está negativo em US$ 4,488 Bi, deixando evidente que o preço do dólar em patamar mais acomodado motiva os pagamentos internacionais de importações que vinha sendo empoçado ao longo do período de preço da moeda americana exacerbado.
O fluxo financeiro liquido está positivo em US$ 5,650 Bi e é presumível que efetivamente represente preponderantemente fluxo para a Bovespa, pontual e perceptível a predominância para papéis “blue chips” em detrimento dos ligados ao e-commerce, cujas perspectivas se tornam nebulosas na medida em que o governo indica que encerrará seus programas assistenciais ligados à pandemia.
O movimento recente de investidores estrangeiros para a Bovespa é muito pontual e seletivo sem homogeneidade, merecendo observação quanto a permanência efetiva destes valores no país.
Contudo, o fluxo cambial liquido, que é o que impacta, revela-se positivo em tão somente US$ 1,161 Bi, deixando evidente que o que presenciamos é a fragilização consistente do dólar no mercado internacional e em especial frente a moedas vinculadas a países exportadores de commodities, como Brasil e México em especial, havendo poucos méritos das moedas nacionais destes países como causa e, no caso brasileiro, a delicada situação fiscal é um forte ponto de contenção a depreciação maior do dólar, que continua sendo demandado no mercado futuro para operações “não hedge comercial”, como reserva de valor.
O Brasil continua não atrativo para os investidores estrangeiros no mercado de renda fixa, já que o país convive com inflação entre 3% a 4% e pratica juros de 2%.
No ano o fluxo cambial liquido está negativo em US$ 18,847 Bi, tendo performance comercial positiva de US$ 28,269 Bi e financeiro negativo em US$ 47,115 Bi.
Como se pode observar, não há motivos concretos para se atribuir ao “fluxo de recursos externos” a causa da depreciação do dólar no nosso mercado, que ocorre como reflexo do comportamento da moeda americana no mercado internacional, tendo como fatores preponderantes as perspectivas com o novo governo Biden nos Estados Unidos a partir de janeiro e os avanços em torno das vacinas, a despeito da permanência no radar da crise relutante do coronavírus.