Logo após o mês de abril, quando houve intensificação do otimismo com sinais primários e modestos de recuperação da atividade econômica do país, tivemos oportunidade de destacar que “o governo era o grande consumidor presente na economia”, visto que com o “pass-through” de generosos montantes de recursos através os programas assistenciais às populações carentes, face à pandemia do coronavírus, tinham condições de consumo.
Este círculo vicioso tornou-se predominante e houve muito entusiasmo sem se reconhecer que a economia por conta própria ainda gerava baixa capacitação de consumo à população, mas, até por conveniência, houve uma miscigenação vários fatores sem se atribuir o justo peso aos programas governamentais geradores de renda e que, ao impactar no varejo repercutiram no atacado e impulsionaram setores produtivos.
Agora, quase um semestre após os sinais mais alvissareiros há muitas comemorações em torno deste ou daquele indicador de melhora da atividade econômica, mas há também, estranhamente, uma ausência de percepção objetiva desta ebulição na atividade, e isto faz aflorar, no momento em que quase cessa a capacidade do governo de continuidade dos programas assistenciais a efetiva transparência do quanto tudo que aconteceu tem dependência direta destes programas.
Por outro lado, a “fatura” consequente está visível na situação fiscal do país, que já não era brilhante antes da pandemia, mas que sofreu forte agravamento com as benesses distribuídas com baixo grau de planejamento.
Os recursos do governo estão no limite, mas a necessidade da população carente não e, o pior, a crise da pandemia do covid parece assombrar o mundo com um “breve retorno”, o que já está exigindo das principais economias novos programas assistenciais à população e a economia em si.
Então, o Brasil se vê num grande “corner” quase sem saída!
Por mais divagações que aconteçam, a proposta única do governo, através o Ministério da Economia, é a criação da CPMF, seja com este nome ou quaisquer outros e o Ministro Guedes persiste na dinâmica de afirmá-lo e desmenti-lo como alternativa quase que diariamente, deixando transparente toda a sua insegurança, e este sabidamente, é um péssimo tributo na sua dinâmica e extremamente nocivo para a economia que está precisando de estímulos e não de agravos.
A resultante concreta e efetiva demonstra que a retomada do emprego é bastante lenta, o consumo por conta própria sem o governo tende a retroceder e a ser mais defensivo, e que a economia vai precisar de mais incentivos, a exemplo do que ocorre até mesmo nas grandes economias mundiais que evidenciam que a retomada ocorre abaixo das expectativas e há absoluta necessidade de aportes e benefícios volumosos adicionais.
Então, o Brasil se vê num grande “corner” quase sem saída! Isto é desalentador.
Não há recursos, o tributo provável é um antídoto a retomada da atividade econômica, o temor de rompimento do teto orçamentário é algo presente, o que leva o Ministro da Economia a afirmar que não desistiu do tributo e que não estenderá o auxílio emergencial em 2021.
Desta forma, a perspectiva torna-se desalentadora e sugere que refaçamos as projeções para 2021, seguramente mais cautelosas e num ambiente mais adverso.
O país convive com a baixa atratividade aos investidores externos e é pouco eficaz na gestão das privatizações que poderiam ajudar a superar esta situação, e convive, ainda muito silenciosamente, com o insucesso da estratégia do “câmbio alto juro baixo” que não logrou alcançar os objetivos e em suma só beneficiou o setor do agronegócio em suas exportações e trouxe para a economia interna forte carga inflacionária do rebote dos preços na cadeia de produtos alimentícios exportáveis, que dizima a já frágil renda do consumidor oprimido pela crise da pandemia, e aviltará em 2021 as tarifas de serviços administrados atrelados ao IGP-M que capta todo o impacto, diferentemente do IPCA que reajusta salários.
Até então, dentro das nossas limitações, havíamos adotado políticas sociais similares às das grandes potências, agora, é criado o hiato, não temos mais condições e as alternativas restantes são as piores.
Esta é a perspectiva, muitíssimo ruim, e que intensifica dúvidas e incertezas, e isto ao aflorar nossa realidade inibe a propensão ao investimento e efetiva retomada da atividade econômica, colocando na trajetória até a possibilidade de retração do discreto avanço ocorrido.
Neste contexto é difícil ser otimista com a perspectiva em torno da Bovespa, certamente vivendo de espasmos de altas e baixas pontuais e que podem reverter performances de empresas até agora bastante positivas, enquanto o dólar, não por demanda específica de mercado à vista, mas sim por busca de “porto seguro” defensivo será demandado no mercado futuro e sustentará preço e volatilidade, requerendo atuação pontual do BC na oferta de swaps cambiais novos.
Momento bastante preocupante para o nosso país!