O Banco Central brasileiro decidiu manter a Selic estável em +13,75% ao ano, na decisão do Copom na quarta-feira, 21. É oficialmente o fim do ciclo de alta da taxa Selic.
Mas será que é mesmo? Coisas interessantes foram colocadas no comunicado da decisão e temos que falar mais sobre elas!
Sobre a atividade econômica
Primeiro, o Banco Central reconheceu uma atividade mais forte que o esperado:
“Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB apontou ritmo de crescimento acima do esperado no segundo trimestre, e o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom seguiu sinalizando crescimento.”
Essa pequena frase é muito mais importante do que você imagina.
Quando o BC sobe a taxa Selic, a ideia é que haja um desaquecimento da economia.
Isso porque as taxas de empréstimos sobem e as pessoas reduzem o consumo. Com isso, as empresas vendem menos e aumenta o desemprego.
Esse processo não é automático. Ele demora um certo tempo, de aproximadamente três trimestres.
Ou seja, o impacto que a política monetária está tendo hoje é fruto da taxa Selic de meados de janeiro deste ano.
Podemos ver, pelo gráfico acima, que a taxa estava em torno de +9% ao ano.
No entanto, com essa taxa de +9% ao ano, o impacto na economia está sendo positivo, e não negativo. A atividade está surpreendendo para cima e o desemprego para baixo.
Não é estranho isso?
De certa forma, significa que +9% ao ano não é um juro restritivo e que subir mais era necessário.
Essa é a primeira informação que me deixa um pouco desconfiada.
Mas vamos seguir no comunicado...
Projeções para a inflação
O Banco Central mostrou as projeções de inflação do modelo dele:
2022 – 5,8% (meta 3,5%)
2023 – 4,6% (meta 3,25%)
2024 – 2,8% (meta 3%)
Note que as estimativas do BC mostram uma desinflação importante, inclusive levando a inflação de 2024 para abaixo da meta.
É importante notar que a projeção do BC está bem divergente da projeção do mercado.
Os economistas do Focus estimam uma inflação de +3,5% para 2024 e as projeções do mercado uma inflação de +5,5% para o mesmo ano.
Ou seja, temos uma probabilidade relevante de o BC ser surpreendido negativamente com essas estimativas de IPCA.
Próximos passos
Por último, e o mais importante do comunicado, o BC falou sobre os próximos passos da política monetária.
Na minha leitura, esta foi a parte mais surpreendente:
“O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”
Vocês pegaram o pulo do gato?
O BC diz aqui que, caso sua expectativa de desinflação não aconteça, ele não hesitará em retomar o aperto monetário. Isso significa subir ainda mais a Selic.
A autoridade monetária está querendo deixar claro para o mercado que não é óbvio para o BC que o próximo ciclo é de queda nos juros.
Pode ser que sejam mais alguns ajustes de alta ou, pelo menos, o BC está querendo dizer para o mercado tomar cuidado com as quedas precificadas no ano que vem, pois elas podem não acontecer.
Achei bem austera essa parte do comunicado, apesar das projeções mais otimistas para a inflação.
Riscos do Tesouro Prefixado
Por isso, vale manter todo o cuidado que estamos tendo com os títulos prefixados, uma vez que eles podem sofrer caso o BC suba mais a Selic ou mantenha-se estável por mais tempo.
Acredito também que foi importante o discurso mais duro, em um momento que o BC vem perdendo a credibilidade e desancorando as expectativas de inflação.
A meu ver, foi um bom sinal o aperto do discurso.
Por essas e outras razões, eu vejo vários outros investimentos com assimetrias muito melhores do que os prefixados.
Dentre eles, algumas ações em bolsa ou Fundos Imobiliários (FIIs). Além de muito baratos, eles se beneficiariam muito mais de um ciclo relevante de queda nas taxas de juros.
Boa quinta-feira a todos!